ENTREVISTA
RICARDO DE PINA
“Não somos dissidentes, continuamos com a base”
Prefeito de Piracanjuba, líder do movimento contrário à coligação com o PR para lançar Vanderlan Cardoso, afirma que 34 colegas do PP já apoiam Marconi Perillo
“Há um descontentamento grande dos prefeitos do PP com algumas pessoas que estão influenciando o governador de maneira negativa, que é o caso do ex-secretário Jorcelino Braga e do presidente do partido, Sérgio Caiado.” A afirmação é dura e polêmica vinha sendo feita de forma dissimulada nos bastidores, mas agora é assumida de público por umas das jovens lideranças do PP, o prefeito de Piracanjuba, Ricardo de Pina.
Ricardo conta que antes de ser decidido o apoio do Palácio à candidatura de Vanderlan Cardoso (PR), procurou o governador para tratar da aliança ou de candidatura própria do PP para o governo, mas que Alcides decidiu sozinho. Diz que não tem nada contra Vanderlan, mas que sua candidatura foi imposta, o que as bases do partido não aceitaram. O prefeito fala de suas impressões sobre a campanha e não tem dúvida da vitória de Marconi Perillo, talvez já no primeiro turno.
Ricardo de Pina Cabral, de 44 anos, é uma das lideranças jovens do PP, bem articulado e que mostra um bom poder de aglutinação, como correu no episódio do levante em favor da aliança pró-Marconi, mesmo contra a cúpula de sua sigla. Nascido em Palmeiras de Goiás, começou a militar politicamente muito cedo, tendo sido presidente do Sindicato Rural de Piracanjuba por dois mandatos, sempre ajudando as eleições nos municípios. Sua primeira filiação foi há cerca de 15 anos. Casado, três filhos, fazendeiro, plantador de soja, tem orgulho da cidade que administra. “Piracanjuba é hoje a maior bacia leiteira do Centro-Oeste, com quase 300 mil litros de leite produzidos por dia.”
A entrevista foi concedida na quarta-feira, 21.
Danin Júnior — Qual é sua história no PP? Por que o senhor está filiado ao partido?
Ricardo de Pina - Eu me filiei ao PP um ano antes do prazo de filiação para disputar as eleições municipais, em 2007. Eu era filiado ao PSDB. Nós tivemos uma reunião com o governador Alcides Rodrigues para poder passar para o PP e poder lançar candidatura pelo partido, uma vez que o ex-prefeito de Piracanjuba, José Lourenço (PSDB), também poderia pleitear a candidatura. Fizemos esse acordo com o senador Marconi Perillo e com o governador Alcides para que eu saísse do PSDB, passasse para o PP e pudesse ser candidato.
Danin Júnior — Como são as bases do PP em Piracanjuba? Existe militância histórica na cidade?
Ricardo de Pina - Nós temos em Piracanjuba, como todos os municípios de Goiás, as raízes dos partidos. Eu não encontrei resistência nenhuma nessas raízes, porque eu sempre militei no antigo PDS. Meu pai foi prefeito de Aparecida pela Arena, na década de 1970, e desde lá venho trabalhando dentro dessa linha.
Danin Júnior — O sr. lançou uma candidatura precoce, com apenas um ano de partido. Houve alguma dificuldade? Era natural essa candidatura no PP?
Ricardo de Pina - É lógico que sempre há resistência, mas logo nas primeiras reuniões ficou decidido que eu seria o candidato. Uma pessoa não concordou, mas ela saiu do partido, porque foi candidato a vice-prefeito do candidato que perdeu para o PMDB em Piracanjuba. Tirando esse era unanimidade dentro da sigla e dos partidos aliados. Na verdade, quando eu sai do PSDB e fui para o PP, eu trouxe algumas pessoas do PTB, justamente com o intuito de sair candidato. Quando eu saí candidato, tive mais resistência dentro do PSDB, que inclusive lançou uma candidatura a vice do meu opositor. Ele era presidente do partido e conseguiu fazer com que o partido ficasse com ele, mas a maioria esmagadora do partido ficou comigo. Tanto é que hoje eu tenho no meu secretariado quatro secretários do PSDB.
Cezar Santos — E como é a convivência entre PP e PSDB em Piracanjuba?
Ricardo de Pina - Sempre foi tranquila. Agora, depois da convenção, a vereadora do PP, que é minha líder na Câmara, se revoltou com a decisão tomada pela maioria do partido em Piracanjuba. Nós fizemos três reuniões e das três 90% das pessoas ficaram comigo.
Cezar Santos — Como está o PR na sua cidade?
Ricardo de Pina - Em Piracanjuba, o PR está com Marconi Perillo. Integralmente, o partido está comigo e vai trabalhar com Marconi. Estamos muito unidos e, graças a Deus, nossa administração está muito boa em Piracanjuba. Temos pesquisas internas que mostram que estamos com mais de 80% de bom e ótimo. Isso é um trabalho dessa união que sempre existiu entre todos os partidos da base aliada.
Danin Júnior — O sr. disse que sua saída do PSDB e entrada no PP foi um acordo conversado com Marconi e Alcides. Mas na época já não estava difícil a convivência com os dois?
Ricardo de Pina - Mas ainda não estava explícito, não sabíamos se iria sair realmente do jeito que está hoje. Eu tinha pessoas ligadas ao governador e ao senador. Não foi uma reunião conjunta, foi uma reunião isolada, tanto com o governador quanto com o senador. Tive apoio dos dois, tanto é que os dois estiveram na minha campanha. Alcides esteve na minha campanha e Marconi também, inclusive enfrentando o PSDB local. Meu vice era do PR e eu do PP. O outro candidato a prefeito era do PPS e o vice do PSDB. Marconi subiu no meu palanque contra a cúpula do outro partido, mas a maioria do PSDB estava comigo.
Cezar Santos — O sr. cuida de seus aliados mas, naturalmente, tem de ficar de olho no adversário. Como está o PMDB na sua cidade?
Ricardo de Pina - O PMDB é um partido muito forte, a gente não pode menosprezá-lo em momento algum. É um partido que tem raiz, história, que já ficou no governo um período grande. A gente não pode desprezar em momento nenhum. Então, Piracanjuba também tem o PMDB forte. Inclusive, nas primeiras pesquisas que fizemos, Iris estava mais forte que Marconi lá. Graças a Deus, com muito trabalho, conseguimos reverter esse quadro. Hoje já estamos com cerca de oito a dez pontos na frente do Iris. O partido é estruturado, tem uma militância ativa e dois vereadores, que fazem oposição, mas oposição política, apenas, nada que vá atrapalhar administrativamente. Somos companheiros, trabalhamos juntos, trocamos ideias constantemente. A única oposição ferrenha dentro de Piracanjuba vem de um vereador do PSDB.
“Há descontentamento com pessoas que influenciam negativamente”
Danin Júnior — Há muitos prefeitos em situação delicada como a sua de ter conversado tanto com Marconi quanto com Alcides? Essa situação se repete em muitos municípios?
Repete em todos os municípios do Estado de Goiás. Eu até hoje não achei nenhum prefeito, nem os que estão apoiando o Vanderlan Cardoso (PR) nem os que estão apoiando Marconi, que seja brigado com algum dos dois, pelo contrário, todos respeitam os dois. Nós, prefeitos do PP, que somos dessa ala que está com o senador Marconi, ninguém é brigado com o governador Alcides. A maioria dos prefeitos, inclusive, faz elogios rasgados ao governador. Fomos sempre recebidos. Sabíamos das limitações que havia no governo, tanto é que ficamos sujeitos, esperando e sabendo que havia possibilidade de não sair. Sabíamos que não havia recurso para atender todos os prefeitos. Isso causou desconforto, mas já sabíamos que não havia recurso para todos. Os convênios que foram firmados não saíram para a maioria dos municípios, mas em hipótese alguma tem alguém, mesmo dentro do PSDB, que fala que o Alcides é isso ou aquilo. Temos uma admiração muito grande pela pessoa do governador Alcides Rodrigues. É lógico que há um descontentamento grande pela equipe e por algumas pessoas que estão influenciando o governador de maneira negativa, que é o caso do Jorcelino Braga e do Sérgio Caiado.
Danin Júnior — Quais são os pontos positivos e negativos do governo Alcides?
Ricardo de Pina - Eu creio que a própria pessoa do governador seria o ponto positivo do governo. Negativo é a equipe que está com ele, o presidente do nosso partido, o Braga com toda a sua arrogância e prepotência, achando que ele é que é o governador. Até hoje o Braga está despachando e chamando os prefeitos para conversar. Até hoje é o Braga que manda a desmanda no governo. Nós sabemos que houve prefeito do nosso lado que foi recebido lá pelo Braga, que queria forçar o prefeito, em troca de verbas, para poder barganhar apoio ao candidato Vanderlan. Mas independentemente de qualquer coisa, sabemos da dificuldade que o Estado tem e vai ter, mas ficamos firmes com o senador Marconi Perillo, porque entendemos que ele será melhor para Goiás, para os prefeitos e para os municípios.
Danin Júnior — O que foi prometido pelo governo aos municípios e acabou não sendo cumprido?
Ricardo de Pina - A grande referência de tudo é o asfalto. Todos os prefeitos correram atrás, nós fizemos projetos, levamos à Secretaria de Planejamento. Foi uma luta, tínhamos que tirar certidões, venciam as certidões e não saíam os recursos... O de Piracanjuba, por exemplo, no final de outubro, começo de novembro, nós estávamos com toda a documentação pronta no Planejamento para poder sair a verba. Mas, alegando que não havia recurso, mudaram cálculos, tabela, sempre enrolando, parecendo que esperando alguma cartada para poder atender os prefeitos. Havia outros convênios também, de água, de tudo, e acabaram ficando parados com a mesma desculpa de sempre: falta documento disso e daquilo. Os prefeitos se encontravam no Planejamento, era uma choradeira só. Nunca conseguiam fazer o depósito.
Cezar Santos — Eles ainda têm prometido isso aos prefeitos?
Ricardo de Pina - Para mim não. Acho que depois que tomei a posição, eles têm chamado outros prefeitos. Eu não fui chamado, o governador Alcides não me chamou. Até por informação de alguém de lá, que me disse que tinha me chamado para conversar, mas o Ernesto Roller me procurou, nós conversamos, e ele disse que me levaria ao Braga. Então, só se o Braga for o governador, porque o chamado foi para eu conversar com o Braga e com o Roller, não com o governador.
Danin Júnior — Prefeitos do PP que foram apoiar Marconi reclamavam que eles não foram ouvidos na decisão de apoiar Vanderlan. É verdade?
Ricardo de Pina - Nós não tivemos uma reunião dentro do partido. Não tivemos nem um pedido de opinião nem nada. A única coisa que aconteceu foi um evento que em Piracanjuba, uma reunião do partido, a primeira desde quando nós prefeitos ganhamos a eleição. Essa reunião seria com a intenção de tratar de assuntos políticos, inclusive foram confeccionados convites para poder tratar de assuntos políticos, mas acabou virando festa. Foram lá, fizeram discursos do que se fez, do que iriam fazer e virou uma sessão política, com cunho político de mostrar força e grandeza para o enfrentamento que viria. Nós prefeitos achávamos que seria um encontro para definir as diretrizes que o partido fosse tomar, mas foi totalmente o contrário. Foi uma festa marcada por muita ostentação, muita gente, mas não foi resolvido nada. Após essa reunião, achamos que haveria reuniões locais, em que poderíamos conversar, ouvir as bases para ver o que a gente queria, para poder participar desse processo. Mas isso nunca foi feito. Só foram feitas reuniões depois que marcamos o primeiro encontro com Marconi Perillo, quando foram 25 prefeitos e mais 3 entraram em viva voz, num total de 28 prefeitos. Depois disso, a cúpula do PP começou a fazer reuniões.
Então, pelo menos nosso movimento serviu para que o PP começasse a fazer as reuniões, que nunca tinham sido feitas. Inclusive, antes dessa reunião com Marconi, numa sexta-feira, mas na terça eu procurei o presidente do partido. O governador tinha lançado o nome do Vanderlan num dia e quatro dias depois eu procurei o presidente do partido para falar para ele o que eu queria falar para o governador, que eu tinha conversado com vários prefeitos do PP e que eles não estavam satisfeitos com o que havia sido definido. O Sérgio virou para mim e disse "isso não adianta não, se o governador escolheu é ele (Vanderlan)". Eu falei: Sérgio, não é assim. Você pediu para eu sentir os prefeitos, eu senti que eles não querem isso. Eu disse que inclusive queria marcar uma reunião com o governador e os prefeitos para falarmos disso. Aí ele virou para mim e falou: "se você está querendo marcar reunião com o Marconi, pode marcar, não vai dar ninguém não". Eu saí da sala dele e disse que nós faríamos a reunião e que ele saberia dela. Ligamos para os prefeitos e foi uma coisa assim, parece que estava preso no coração de todo mundo. Em um dia, de segunda para terça-feira, nós conseguimos mobilizar 28 prefeitos. Eles foram porque quiseram ir, ninguém obrigava ninguém, ninguém prometeu nada a ninguém. Não teve nada do que falaram, que Marconi estava ligando para falar de emenda, não teve nada disso. Marconi nem sabia da reunião, nós é que ligamos para ele para saber se ele tinha agenda, porque nós do PP queríamos falar com ele. A intenção nossa era levar a ele proposta para que ele não fechasse as portas para o partido. Eu não esperava que fosse dar esse tanto de prefeito. Desses 28, teve um que falou que não apoiaria Marconi, que iria consultar suas bases primeiro. Depois disso, fizemos mais uma reunião com mais seis prefeitos e mais um ligou hipotecando apoio. Depois chegaram mais prefeitos do PP, totalizando agora 34. Estamos com essa lista de 27 e os outros 7 pediram para esperar mais uma semana para manifestar o apoio. Eles têm a esperança de que ainda saia algum dinheiro para eles. Então, dos 48 prefeitos do PP, 34 estão com a gente.
Cezar Santos — Vocês se consideram uma dissidência?
Ricardo de Pina - Não. De maneira nenhuma. Dissidentes são eles. Nós somos a parte do PP que sempre esteve junto com a base. Em momento algum nos consideramos dissidentes. No nosso modo de pensar, a dissidência é quem brigou, é quem saiu e procurou outro lugar. As nossas bases no interior estão mantidas. Eu tenho quatro secretários do PSDB na minha administração, isso acontece em vários municípios. Já pensou se houvesse uma ruptura? Eu seria obrigado a tirar esse pessoal todo da prefeitura? Nós estamos bem na administração, com PP, PR, estamos todos juntos.
Danin Júnior — Qual é a sua visão da convenção do PP?
Ricardo de Pina - A convenção foi uma armação. Foi um teatro feito. Nós não saímos perdedores. Nós fomos os grandes vencedores da convenção, porque se provou que as bases do partido, as lideranças, prefeitos do PP e a grande maioria esmagadora do partido queriam continuar com a coligação. Aquela coligação vencedora, desde 1998, que elegeu Marconi por duas vezes e elegeu Alcides. Hoje acontece uma situação muito desagradável no interior: pessoas que se endividaram para poder ajudar o governador Alcides na campanha estão sendo demitidas. E quem está sendo contratado? Aquelas pessoas que na campanha o criticavam, que diziam eu não vou apoiar esse candidato, eu não prego adesivo dele no meu carro. Essas pessoas usavam expressão pejorativa sobre Alcides, faziam comentários ruins, as expressões que nós recebíamos na época da campanha eram essas. Nós brigávamos com essas pessoas para elas estarem com a gente. Elas não acreditavam na vitória do doutor Alcides. Nós tivemos que conviver com esses adjetivos que pregavam no doutor Alcides e, ao mesmo tempo, tínhamos de defendê-lo. Não foi fácil. Nós todos fomos às ruas. Uma liderança me disse isso na época, e agora está lá liderando a aliança pró-Vanderlan. As pessoas que eram contra, agora estão a favor. Temos um baluarte em Piracanjuba que sempre foi PSDB, ajudou o Cidinho, se endividou por ele, hoje fez parcelamento em 60 vezes para ajudar a pagar a conta de campanha do Cidinho na cidade, está pagando até hoje, mas está sob o risco de perder o cargo.
Danin Júnior — Isso está acontecendo no geral?
Ricardo de Pina - Em todos os municípios está acontecendo isso. Em Morrinhos tivemos o caso de uma liderança que era coordenador do Vapt Vupt e foi demitida a pedido de pepistas para colocar outros.
Danin Júnior — Na convenção do PP, o deputado Roberto Balestra acabou sendo destaque pela posição autônoma, mas eleitoralmente ele pode ter se desgastado nesse processo?
Ricardo de Pina - Não, pelo contrário. Balestra foi muito coerente. Antes de ir para a convenção e tomar qualquer decisão, ele fez reunião com as bases. Ele chamou as lideranças, os prefeitos, os vereadores e perguntou que caminho nós vamos tomar? Queremos ficar com Vanderlan, ir com Marconi, ficar neutros ou queremos lançar um nome próprio? Foi feita essa pergunta na fazenda do Balestra, antes da convenção. As lideranças que estavam lá definiram que nós iríamos lutar pela indicação do vice do senador Marconi Perillo. E foi isso que fizemos. Para vocês terem uma ideia, mais de 30 prefeitos estavam lá. Por isso digo que convenção foi uma armação.
Fernando Leite/Jornal Opção
Prefeito de Piracanjuba, Ricardo de Pina, fala aos editores Danin Júnior e Cezar Santos: “Não adianta, no interior as coisas são divididas entre os velhos MDB e PDS, que vêm da UDN e PSD. Não adianta querer colocar a terceira via lá, que não desce. Os avós já eram rivais políticos”
“A convenção do PP foi uma armação”
Cezar Santos — Por que armação? Houve pressão em cima dos convencionais?
Ricardo de Pina - A convenção foi feito numa sala fechada, eu nunca vi isso. Nessa sala, estavam o governador, o presidente da Celg, Carlos Silva, o presidente do partido, Sérgio Caiado, deputado estadual, ex-deputado estadual, todo mundo lá dentro fazendo a maior pressão em cima das pessoas. O governador recebia o convencional na porta e o acompanhava até a hora de votar. Isso é pressão, é boca de urna. E se não fosse desse jeito eles não venceriam. Seria o maior fracasso da história. Se tivesse sido feito num auditório aberto, eu queria ver como eles iriam fazer para pressionar as pessoas. Então, acho que nós erramos nisso. De qualquer maneira, nós fomos os grandes vencedores. Nós saímos com a nata do partido, que são os votos, os prefeitos, os vereadores, as pessoas que estão ligadas às bases. É onde se vão trabalhar os votos.
Danin Júnior — Qual sua impressão sobre Vanderlan? Se o candidato fosse do PP, mudaria a posição de vocês?
Ricardo de Pina - Com certeza mudaria. Seria outra história. Dependeria de quem fosse essa pessoa do PP. Nós temos bons nomes dentro do partido, o próprio Balestra, o deputado Sandes Júnior, o deputado Ernesto Roller. Mas também não é aquela história de ter que engolir qualquer candidato. Se fosse o Braga, por exemplo, não daria. Como secretário, Braga não atendia ninguém, não atendia deputado, nem prefeito, nem secretário, ele fazia pouco caso. Era um absurdo, a reclamação contra ele era geral. Todo mundo que ia a audiência com ele tinha que esperar duas, três horas. Eu fui duas vezes lá e voltei sem ser recebido pelo secretário Jorcelino Braga. Fui uma vez ao escritório dele, no Jardim América, fiquei por duas horas aguardando e cansei. Fui embora sem ser atendido. Sobre Vanderlan, acho que é uma pessoa excepcional, não tenho nada contra ele. Vanderlan foi pego de surpresa, acho que talvez pelo Sandro Mabel (PR). Ele é um administrador já comprovado, deixou uma cidade bem arrumada, rica, com todos os índices altos. Tenho certeza que as coisas boas que foram feitas lá, se você colocar uma receita boa nas mãos de uma pessoa que não vale nada, ela não vai conseguir fazer as coisas que Vanderlan fez. Ele soube pegar uma receita boa e trabalhar em cima disso. Agora, é complicado administrar uma cidade pequena, com uma receita pequena e também trazer frutos produtivos. Aí sim o administrador mostra que tem capacidade para administrar.
Cezar Santos — Nesse processo de tomada de posição, o senhor, particularmente, ou algum outro prefeito que teve participação mais intensa, sofreu algum tipo de ameaça, de retaliação por parte do governo ou de algum membro da equipe do governo?
Ricardo de Pina - Chegavam para gente notícias de que todos os convênios seriam cortados. Inclusive, há poucos dias saiu num jornal que os prefeitos dissidentes iriam passar a pão e água. Até uma prefeita companheira nossa disse ainda bem, porque não estávamos tendo nem isso. Então, realmente vai melhorar bastante, porque agora vamos ter pão e água. Nós não estávamos sendo valorizados. Agora, a ponta que ficou de maior ressentimento entre os prefeitos foi pouco antes de o governador declarar apoio a Vanderlan, uns dez dias antes, acho, quando ele valorizou demais o PMDB, recebendo prefeitos e deputados do PMDB, dizendo que estava dando benefícios aos prefeitos do PMDB. Nós já estávamos imaginando uma futura situação, nos perguntando por que ele estava fazendo isso.
Cezar Santos — Temeu-se aí que o governador pudesse estar preparando apoio do PP ao PMDB na candidatura ao governo?
Ricardo de Pina - Imaginamos isso, será que não era para conduzir o partido para apoiar a candidatura do PMDB? E aí, não adianta, no interior as coisas são divididas entre os velhos MDB e PDS. Não adianta querer colocar a terceira via lá, que não desce. Os avós já eram rivais políticos. Em Morrinhos, Inhumas, Piracanjuba, em todas as cidades de Goiás há essa rivalidade histórica. O exemplo mais forte são os bares: nos do MDB, o PSD não entra e vice-versa. O interior é divido dessa maneira, é histórico. Não tem como a gente esperar e ver um quadro se desenhando e a gente tendo de ficar quieto. Por isso, quando eu falei que o sentimento estava preso dentro do coração dos prefeitos, bastou eu fazer três ligações e pedir para os companheiros avisarem os outros. Passaram 20 minutos e eu já estava recebendo ligação para ser convidado para a reunião. Acho que nós acendemos o pavio de uma bomba que estava para estourar. Se não tivéssemos feito naquela hora, talvez ainda estivesse todo mundo na barra da saia do governador esperando sair alguma coisa, sair as migalhas do governo.
Danin Júnior — Como o sr. está vendo a movimentação das três principais candidaturas ao governo de Goiás?
Ricardo de Pina - Tenho acompanhado constantemente as três candidaturas por todos os meios de comunicação, tenho andado por quase todo o Estado, consigo acompanhar o senador Marconi Perillo em muitos momentos e tenho visto o desenrolar da campanha. Acho que a campanha do senador tem deslanchado de maneira assustadora. Depois que foi feita a definição dos quadros, nas convenções, de quem é quem, a situação dele melhorou ainda mais. Marconi está subindo em todos os índices. Ele tem aumentado a distância para Iris. Iris caiu um pouquinho e o Vanderlan alcançou um índice e não cresceu mais. Algumas pesquisas que nós temos mostram que Vanderlan já está recuando. A nossa impressão é que todos os institutos já dão a vitória a Marconi no primeiro turno. Mas nós vamos continuar trabalhando.
Danin Júnior — Com esse favoritismo o sr. acha que há risco de salto alto na equipe de Marconi?
Ricardo de Pina - Lógico que há esse risco. O cenário está todo favorável, mas nós não podemos nos iludir. Temos que trabalhar, ainda não colocamos a campanha inteira na rua. O material para distribuir só começou a chegar nesta semana, não foram formados comitês no interior E não é atraso, é questão de estratégia. De forma geral, estipulou-se que a campanha começa de fato em agosto. Tudo indica que vamos contratar pessoal e alugar os locais para comitês a partir de agosto. Então, estamos mobilizando, pegando nomes para isso. Mas a questão do salto alto é muito importante, como diz Marconi, é preciso calçar a sandália da humildade, visitar os 246 municípios e pedir voto de porta em porta. Nós prefeitos, principalmente, devemos fazer isso. O que fizemos na nossa eleição, vamos fazer agora por Marconi: bater de porta em porta pedindo voto e mostrando porque ele é melhor para o Estado de Goiás, o que ele trouxe, o que vai trazer, os projetos do senador para os nossos municípios.
Cezar Santos — Sua avaliação sobre os vices escolhidos para as três chapas majoritárias? A população conhece realmente todos eles?
Ricardo de Pina - Acho que são três pessoas gabaritadas. O José Eliton (DEM), vice de Marconi, é uma grande surpresa, quase ninguém o conhecia, mas ele tem se posicionado nas colocações, mostrando-se uma pessoa coerente, muito sensata, com uma visão no estilo do Marconi. Ele está começando na vida política e a gente tem certeza de que vai despontar. É uma liderança que está surgindo, uma surpresa muito agradável para todo mundo. O Ernesto Roller (PP), vice de Vanderlan, nós já conhecíamos, é uma boa liderança, foi um excelente secretário de Segurança Pública, uma pessoa coerente, sensata, e esperamos que ele também possa desenvolver esse trabalho aí. E o Marcelo Melo (PMDB), vice de Iris, é um deputado muito conhecido no Entorno, que trouxe benefícios para Goiás, trabalhou pelo Estado. Então, acho que todos os três candidatos a vice são pessoas íntegras, sensatas e coerentes com seus projetos políticos.
Danin Júnior — Como o sr. acha que será a disputa pelo Senado?
Ricardo de Pina - Para o Senado, não tenho dúvida, Demóstenes Torres e a Lúcia Vânia, pelo que eles fizeram e apresentaram para Goiás, durante todo esse período de oito anos, são absolutos. É lógico que também não pode haver salto alto. Temos que correr, pedir votos, vincular a campanha deles à do governador. A Lúcia costuma falar sempre nos discursos que não interessa quem será o mais votado, o interessante é eleger os dois candidatos. Demóstenes tem uma particularidade acima dos outros: ele tem prefeitos do PMDB, PR, PTB, que estão apoiando a outra chapa, mas que estão firmes com eles. A candidatura de Demóstenes é suprapartidária. Ele tem recebido, aonde ele vai, apoio, telefonemas, adesões de pessoas ligadas a outros partidos, principalmente do PMDB. A Lúcia do mesmo jeito. Ela foi deputada, ministra, senadora atuante, desenvolveu um trabalho excepcional.
Cezar Santos — O PP nacional é aliado de Lula. Esse quadro não complica o apoio a Marconi no plano regional?
Ricardo de Pina - Temos prefeitos do PP que estão com a Dilma Rousseff, do PT, mas isso não vai atrapalhar o apoio ao Marconi. A gente tem que entender que muitos prefeitos conseguiram emendas federais, devem muito ao presidente Lula, então a forma de retribuir esse apoio que ele sempre deu é estar com a Dilma. Mas a maioria esmagadora dos prefeitos vai estar apoiando o José Serra, candidato do PSDB à Presidência da República.
Danin Júnior — A campanha em Goiás já se anuncia muito agressiva, principalmente focada contra Marconi Perillo. O sr. acha que ainda vem mais acusações contra ele?
Ricardo de Pina - Acho que quem abaixa o nível da campanha sempre sai perdendo. Quem faz denúncias infundadas, quem pratica esse tipo de campanha, tende sempre a perder votos, perder confiança e credibilidade com o eleitor. O eleitor hoje não quer saber disso, ele quer saber de propostas, das raízes do candidato, o que a pessoa já fez e não fez. Acho que seria um suicídio político o candidato que partisse para a agressão. Mas a campanha chega a um ponto que as pessoas acham que não tem outra saída. Eu sofri isso no meu município, quando surgiram as primeiras pesquisas que mostravam que eu ultrapassava meu adversário. Inclusive o marqueteiro que trabalhou contra mim em Piracanjuba é o mesmo que está com Vanderlan hoje. Eles têm essa estratégia, de ver que quando o barco já afundou, que não há mais maneira de competir lealmente com o adversário, eles começam a baixar o nível, xingar, denegrir a imagem das pessoas, realmente jogar sujo. Já antes mesmo da campanha, presenciamos várias e várias denúncias. Tivemos o caso do dossiê fajuto, totalmente mal feito, tentando associar o senador Marconi a práticas ilícitas no governo. Isso não existiu, tanto é que o que eles estão fazendo são matérias que já foram veiculadas anos atrás. Vocês não viram até hoje, e não vão ver, o senador subir num palanque para poder falar mal do candidato Iris ou do Vanderlan. Nós vamos mostrar o trabalho que será feito nos próximos quatro anos. Vamos mostrar as propostas, as novidades que o senador vai trazer para o Estado. É essa a intenção do senador. Não vai baixar o nível e não vamos entrar nesse joguinho que eles estão querendo, porque nisso aí só tem a perder. Perde o eleitor, perde os candidatos. Eles vão bater, mas nós vamos continuar com a prática da boa campanha, da campanha séria, de mostrar propostas e o que Goiás vai ganhar com Marconi no governo novamente.
Cezar Santos — Como o sr. analisa essa história de déficit nas contas do governo?
Ricardo de Pina - Tivemos aí essa falcatrua da história do déficit. Isso foi uma história criada pelo Jorcelino Braga para prejudicar a imagem de Marconi como governador. Mas a Assembleia contratou para auditar isso uma instituição de renome nacional, que tem credibilidade, como a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que faz trabalho em todo o Brasil, imparcial, da faculdade mais conceituada do Brasil. E agora estão tentando desacreditar essa instituição, que até já foi contratada pelo Estado para fazer outros trabalhos, outras auditorias. E outra coisa, o TCE (Tribunal de Contas do Estado) também fez o relatório. Quer dizer, será que essas duas instituições foram compradas? Os auditores do TCE entraram por concurso. Que intenção e interesse a Fipe tem em manipular um estudo daqui de Goiás? Que o governador, então, contrate uma empresa e apresente os dados que provem que existia esse déficit. Essa suspeita foi levantada, mas não existe fato.
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