segunda-feira, 26 de julho de 2010

REPORTAGEM






SETOR AUTOMOBILÍSTICO

Carro começa a mudar a face da economia goiana
Vinda de grandes montadoras de veículos para Goiás aponta para a criação de um grande pátio automobilístico no Estado, que vai deixando de ser eminentemente agrícola

ANDRÉIA BAHIA

A Caoa, grupo proprietário da Hyundai de Anápolis, se prepara para produzir mais um modelo da marca na cidade: o ix35. A fábrica de Anápolis produz o caminhão HR desde abril de 2007 e vem montando o Hyundai Tucson desde o início deste ano. As obras para adaptar a fábrica para a montagem do novo modelo devem começar no fim do ano para que, no início de 2011, o ix35 já esteja na linha de montagem.

A Caoa investiu R$ 800 milhões na fábrica de Anápolis e, até o fim de 2010, pretende aplicar mais R$ 400 milhões na planta que ocupa 180 mil m² e emprega 600 funcionários. Outros 300 estão sendo contratados. A maioria das peças dos veículos da Hyundai é importada, mas a indústria já conta com alguns fornecedores brasileiros de bancos, vidros, parachoques e pneus usados no caminhão HR, já considerado um veículo nacional. A Tucson usa apenas produtos de fora e é um considerado um veículo importado.

Para que os veículos produzidos pela marca coreana no Brasil sejam nacionalizados é preciso que tenham no mínimo 60% de peças nacionais e para abrasileirar seus produtos a Caoa vai ceder parte da área da fábrica para a instalação de fornecedores que quiserem vir para Goiás. A Prefeitura de Anápolis também se esforça para atrair, para o município, fornecedores da cadeia automobilística e conta com um projeto de lei do governo já aprovado em primeira votação na Assembleia que concede R$ 132 milhões em créditos de ICMS para montadora que se instalar em Goiás ou investir em maquinários para elevar a produção.

O princípio da multiplicação é um dos méritos da instalação de montadoras de veículos em Goiás. “O efeito multiplicador gera renda e emprego na região”, afirma o economista Everaldo Leite. “E produz um impacto muito positivo na economia local.” Ele cita o exemplo de Catalão, que teve um desenvolvimento significativo depois da instalação da Mitsubishi na cidade.

A montadora japonesa anunciou, em março, que pretende dobrar a capacidade de produção da fábrica de Catalão e passar a produzir mais dois modelos, sendo um deles o Pajero Dakar, que atualmente é importado do Japão e que será nacionalizado até o primeiro semestre de 2011, e um modelo da linha Lancer, que deve ser fabricado a partir do fim de 2012. Na ampliação da fábrica devem ser investidos, até 2015, R$ 800 milhões. Atualmente, a Mitsubishi só monta a camionete L200 em Catalão, que é considerada importada.

Com a chegada da montadora japonesa, Catalão passou a ser uma das sete cidades brasileiras a ter uma fábrica de automóvel, observa o ex-prefeito da cidade Adib Elias (PMDB), o que diversificou o desenvolvimento do município, que, desde 1970, se baseava quase que exclusivamente na mineração. “A montadora trouxe consigo as indústrias satélites que fornecem produtos para a Mitsubishi.” Segundo ele, uma grande montadora de carrocerias está se transferindo do Sul para Catalão para atender a demanda da Mitsubishi.

A cada seis minutos é produzida uma camionete na fábrica de Catalão, que responde por 51% do ICMS recolhido na cidade. “A indústria mudou radicalmente a cidade”, afirma o ex-prefeito. Só de empregos diretos, a montadora gera de 2 mil a 3 mil, conta Adib Elias, além dos indiretos, que são milhares. Catalão também está na briga pela Suzuki, que deve ser instalada em Goiás em 2011. “Há dois anos que a Suzuki nacionaliza os veículos em Catalão e ela vai ficar”, aposta Adib Elias.

Esse processo consiste em trocar peças importadas, como bancos e pneus, por nacionais. A marca japonesa nacionaliza de 300 a 400 carros em Catalão. Segundo Adib Elias, o município tem algumas vantagens em relação a outras cidades que disputam a montadora por já abrigar a Mitsubishi. “A fábrica vai poder usar parte da estrutura que atende a Mitsubishi, como o sistema de pintura de veículos.”

Além de Catalão, Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Itumbiara disputam a filial da fabricante japonesa. A Suzuki assinou contrato com o Produzir em março deste ano e garantiu benefícios da ordem de R$ 2 bilhões para serem utilizados durante 15 anos. Segundo dados da Suzuki, para construir a fábrica deverão ser investidos R$ 200 milhões e a indústria vai gerar 2 mil postos de trabalho.

Para o economista Robson Salazar, mestre em Desenvolvimento Regional e professor da Faculdade Alfa, a instalação de montadoras de veículos em Goiás aponta para a criação de um parque automobilístico no Estado. “São marcas fortes e a tendência é aumentar o número de fábricas do setor em Goiás.” E não só de fábricas, mas de indústrias de toda a cadeia, que é muito longa e movimenta diversos setores. “O que tem um impacto positivo na renda, na arrecadação por parte do governo e nas exportações”, afirma o professor.

Mas o principal impacto na economia é na geração de emprego, afirma Robson Salazar. Mas por trás deste impacto há outra repercussão importante: a qualificação da mão de obra. “Como se trata de indústria que envolvem alta tecnologia, isso obriga os profissionais a se capacitarem melhor”, explica o economista. Para Robson Salazar, a indústria automobilística será a segunda no Estado, depois da agroindústria. “Cada vez mais Goiás está deixando de ser um Estado eminentemente agrícola para entrar na era da industrialização.”

O parque automobilístico goiano não tem condições de se desenvolver como os instalados em São Paulo, Minas Gerais e Manaus, afirma o economista Everaldo Leite. “Mas mesmo assim é importante que o Estado crie um parque industrial voltado para veículos.” Segundo o economista, a precariedade da infraestrutura do Estado não permite a instalação de um grande parque industrial de qualquer setor. “Goiás não tem infraestrutura e nem a atratividade de Manaus, que é Zona Franca.” Um dos entraves é a energia, afirma Everaldo Leite. Além disso, Goiás não dispõe de mão de obra qualificada em quantidade suficiente para sustentar a criação de um grande parque industrial. “Precisamos de investimento do Estado e de manter a isenção fiscal para continuar crescendo nesta área.”

A localização de Goiás é atraente, observa o economista, mas o sistema de escoamento do produto e importação de insumos é falho. Além disso, a indústria automobilística ainda não conseguiu formar uma rede de fornecedores no Estado, importa a grande maioria de produtos e serviços, o que não favorece a economia local. “Tudo o que adquire e os principais profissionais vêm de São Paulo.” Segundo é economista, é preciso organizar um complexo automobilístico mais interessante, não só para a geração de renda e emprego, mas também para o desenvolvimento do Estado. “Poderia ser melhor se no projeto de isenção fiscal o governo incluísse a exigência de se adquirir produtos e serviços locais.”

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