ENTREVISTA
19/07/2010
‘A história reduzirá a gestão Lula a seu lugar’
O candidato a deputado federal pelo DEM, Vilmar Rocha, concedeu entrevista exclusiva ao Diário do Norte na noite da noite da quinta-feira (15) na residência de familiares em Niquelândia, sua cidade natal. Dono de seis mandatos consecutivos (dois na Assembleia Legislativa e quatro na Câmara Federal), Vilmar não conseguiu se reeleger nas eleições de 2006, quando obteve quase 74 mil votos. Na conversa, Vilmar disse que tirou muitas lições do episódio, que não encarou como uma derrota. "Com mandato, você fica três dias em Brasília, vem para cá e fica naquele mundo oficial, sem contato com o mundo real. Sem mandato, tive mais oportunidade de conversar com as pessoas. Foi um grande aprendizado", afirmou o candidato. No plano estadual, Vilmar disse respeitar a decisão do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM), de não subir no palanque do senador e candidato ao Governo de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), quando também rechaçou a tese de que o DEM rachou no Estado pela atitude de Caiado. Para Vilmar Rocha, é notória a polarização entre Iris Rezende e Marconi Perillo, neste pleito. "A candidatura governista, ao meu juízo, tem poucas chances de vencer as eleições este ano", assinalou.
Diário do Norte – O presidente estadual do DEM, Ronaldo Caiado, decidiu que não subirá no palanque do candidato ao Governo, Marconi Perillo (PSDB). Isso significa que o DEM está rachado em Goiás e que a legenda corre o risco de ficar ainda menor no Estado?
Vilmar Rocha – Não. O DEM não está dividido, até porque indicou o (candidato) a vice-governador e um senador (Demóstenes Torres) na chapa do senador Marconi Perillo. Antes da convenção, 90% do DEM já defendia essa proposta, essa aliança (com o PSDB). Essa questão (de não subir no palanque) é uma decisão pessoal do deputado, que nós respeitamos. Mas esperamos que, até o final da campanha, ele (Caiado) reveja essa posição para que todos nós estejamos juntos, no palanque, selando assim a unidade do DEM em Goiás.
DN – A eleição deverá seguir polarizada até o dia 3 de outubro entre o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende; e o senador Marconi Perillo?
Vilmar – Você colocou bem: a eleição já está há muito tempo polarizada entre o Marconi e o Iris. São só essas duas forças em Goiás que têm energia, capacidade política e eleitoral para disputar o Governo do Estado. A candidatura governista (de Vanderlan Cardoso, do PR), ao meu ver, não tem a menor chance. Portanto, está havendo essa polarização. Agora, com a nossa chapa, o nosso projeto, liderado pelo senador Marconi Perillo, nós ganhamos a pré-campanha. Por que eu digo isso? mantivemos o maior tempo de televisão; conseguimos o maior número de partidos; reunimos a maior base política, em termos de candidatos mais competitivos para deputado federal e estadual; e estamos à frente nas pesquisas. Nós ganhamos a pré-campanha. Acredito até mesmo na hipótese, na expectativa, dependendo do desdobramento do quadro da campanha, que ele (Marconi) possa ganhar (a eleição) ainda no primeiro turno das eleições, no dia 3 de outubro.
DN – Mesmo assim, o senhor não teme a força do governo Alcides Rodrigues no jogo sucessório?
Vilmar – Primeiro, as pesquisas indicam que o governo atual não tem uma boa avaliação. Além disso, falta protagonismo para essa candidatura governista. Por isso, não acredito no crescimento eleitoral dessa candidatura. A tendência do eleitorado é, também, fazer o uso do voto útil, dizendo "eu não vou votar neste candidato porque ele não tem chance, então vou votar num dos dois que têm mais chances". Imagino que, de agora em diante, poderá haver uma desidratação eleitoral dessa candidatura.
DN – Quantos deputados o DEM fará em Goiás, entre estaduais e federais?
Vilmar – O DEM pode fazer de dois a três federais. Temos três candidatos a deputado federal no DEM muito competitivos: o deputado Ronaldo Caiado; eu; e o candidato a deputado Heuler Cruvinel (empresário e ex-secretário de Habitação da Prefeitura de Rio Verde). Espero que façamos três. Em termos de deputados estaduais, nós poderemos fazer de três a quatro cadeiras na Assembleia.
DN – No plano nacional, o candidato a Presidência da República, José Serra (PSDB), havia indicado um vice do próprio ninho tucano, o senador paranaense Álvaro Dias, numa clara atitude de desprezo em relação ao DEM. Depois, acabou aceitando o deputado federal Índio da Costa (DEM/RJ). Como o senhor viu essa conjuntura e a conduta de José Serra?
Vilmar – Primeiro, a condução política para a escolha do vice não foi boa. Foi mal-feita. Demorou, criou uma expectativa. Ao final, fizeram uma escolha provisória, indicando o nome do senador Álvaro Dias e depois tiveram de rever essa decisão. Essa articulação política foi inadequada e incompetente. Não precisava desse desgaste.
DN – Uma vez resolvido esse imbróglio do vice, José Serra tem chances reais de superar nas urnas a ex-ministra Dilma Rousseff, candidata do PT, que tem o apoio do presidente Lula?
Vilmar – Estou prevendo um crescimento da candidatura do Serra de agora para a frente. Por esses dias, ouvi um argumento do Serra, que eu concordo muito: o Lula, por sua história no PT e pelo seu carisma, ele é maior do que o PT. A Dilma não. A Dilma corre o risco de ficar tutelada pelo PT, pelo partido. Assim, ela perderá condição de governabilidade, o que não será bom para o Brasil. Estou confiante na eleição do Serra, que é um dos quadros mais preparados do País. Foi meu colega na Câmara dos Deputados entre 1990 e 1994. O Brasil merece uma gestão de melhor qualidade do que a gestão petista. O tempo e a História reduzirão a gestão Lula a seu devido lugar.
DN – O senhor foi duas vezes deputado estadual e quatro vezes deputado federal, alcançando seis mandatos consecutivos antes da derrota nas eleições de 2006. Que tipo de aprendizado o senhor conseguiu tirar desse episódio?
Vilmar – Eu não fui derrotado. Politicamente, quero fazer essa correção, porque tive 74 mil votos e fui um dos candidatos mais votados. Fui mais votado do que cinco dos candidatos eleitos. Em qualquer das coligações que eu estivesse na eleição de 2006, eu teria sido eleito. Só para vocês terem uma ideia, eu tive 25 mil votos a mais que o Pedro Wilson. Tive mais votos do que na eleição anterior (de 2002). Eu saí politicamente vitorioso. O problema foi que faltou legenda. Você colocou uma questão boa: a gente aprende mais na derrota do que na vitória, não é? Há uma historietazinha de um general que participou de todas as guerras européias, um dos mais vitoriosos. Quando ele já estava velhinho, morando no interior da França, perguntaram-lhe se ele se considerava um cara completo, por ter ganhado todas as guerras. Ele disse: "Não, porque eu não perdi nenhuma. Me falta uma para eu ser um general completo". A derrota ensina muito. Mas eu, mesmo sem mandato, mantive minhas atividades políticas, lancei meu livro, escrevi, continuei participando de debates, conferências, palestras e entrevistas. Voltei para a universidade para dar aulas (de Direito) na UFG. Mas aprendi que, no Congresso, por mais que você se esforce, você se distancia um pouco do conhecimento do mundo real. Sem mandato, você tem melhor oportunidade e mais tempo de sentir a sociedade. Com mandato, você fica três dias em Brasília, vem para cá (Goiás) e fica naquele mundo oficial, sem contato com o mundo real. Achei ótimo isso (a perca do mandato), pois tive mais tempo de conviver com as pessoas. Hoje, tenho um conhecimento muito mais profundo e mais real dos desejos e das reivindicações da sociedade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário