terça-feira, 20 de julho de 2010

Nion: Alcides não decide!






Política & Justiça

“Alcides transfere todo o seu poder de decisão para auxiliares”
Ex-prefeito de Goiânia analisa cenário eleitoral, critica governador e volta a dizer que Iris é um político ultrapassado
20 de Julho de 2010

Daniela Gaia

Em uma análise do cenário político atual, o ex-prefeito de Goiânia Nion Albernaz (PSDB) recebeu o Diário da Manhã em sua residência para falar sobre as expectativas para as eleições de 2010. Durante a entrevista, em uma análise do governo Alcides Rodrigues (PP), Nion disse que o governador "transfere todo o seu poder de decisão para auxiliares. O que dificulta – e muito – o trabalho dele”.

Discreto e de fala mansa, o ex-prefeito disse que não sente falta da exposição proporcionada pela vida pública, mas demonstrou entusiasmo ao falar das necessidades de Goiânia e principalmente do desaparecimento das ações sociais com Iris Rezende (PMDB) à frente da prefeitura.

Ao falar da gestão do peemedebista à frente da prefeitura, Nion avaliou que Iris deveria ter aposentado a vida pública. “Não sou modelo para ninguém. No meu entendimento, o político quando chega aos 70 anos não tem que exercer cargo. Iris tem muita energia, mas também tem idade. Hoje ele não tem a mesma aptidão física que tinha aos 40 anos. Por isso, acho que ele está ultrapassado", disse.

Aos 80 anos, Nion reafirma que todo homem tem vida pública com prazo de validade, sendo este um dos motivos que o fizeram aposentar da militância política. Sobrinho da poeta Cora Coralina, o vilaboense que chegou em Goiânia aos quatro anos para ficar definitivamente, sabiamente usa das palavras, até mesmo para criticar seus adversários políticos.

Apesar da seriedade da entrevista, ele não abandona o bom humor e não para de acariciar suas duas poodles durante a conversa. Uma, por acaso, passou a entrevista toda no colo do dono. Nion admitiu que gosta de ver o programa de humor CQC, da rede Bandeirantes. “Eles testam o conhecimento dos políticos de uma forma inteligente”, disse, aos risos.


Diário da Manhã - O senhor está há dez anos afastado da política. Como tem sido sua rotina?

Nion Albernaz – Na vida, tive três etapas. A primeira foi no magistério, onde fui professor de física e de matemática durante 33 anos. Não tinha nada melhor do que dar aula. Me sentia extremamente realizado como professor. Com um giz na mão e achando a melhor coisa do mundo. A segunda fase, foi com a política. Participei de forma intensa. Eu gostava do exercício da política partidária. A terceira fase é agora, em que eu moro no fazenda, em Morrinhos. Me sinto muito feliz com a vida tranquila que tenho lá. Leio meus livros, durmo e acordo com as galinhas (risos). Passo a semana lá e na sexta volto. Passo o final de semana aqui.


DM - Como o senhor analisa o atual cenário político?

Nion - Percebo que está havendo uma evolução em decorrência de um desarranjo da política partidária, ou seja, existe uma fiscalização mais rigorosa em relação ao mandato. O projeto Ficha Limpa é um exemplo. As pessoas não podem mais ficar ocultas ou protegidas por um mandato. Foi um avanço extraordinário para a nossa política, ganhamos muito. O melhor é que não foi obra de deputado, mas sim, da manifestação popular.


DM - O senhor disse recentemente que Iris Rezende era ultrapassado. Ele respondeu ao senhor. Como encarou a reação dele?

Nion - Não sou capaz de interpretar o que ele sentiu. Mas entendo que todos nós temos um período de vida útil. A lei determina um período em que se deve exercer sua profissão. Veja bem o caso de um desembargador. Ao chegar aos 70 anos, ele tem que se aposentar. Já existe um consenso de que o cidadão deve trabalhar enquanto tem energia suficiente para oferecer o melhor de suas forças em favor da comunidade.


DM – Por isso se aposentou?

Nion - Entendi que, quando atingi os 70 anos, deveria parar. Não sou modelo para ninguém. Mas no meu entendimento, o político quando chega aos 70 anos, ele não tem que exercer cargo. Não me candidatei porque tive medo de não corresponder a expectativa do eleitor. O povo poderia esperar de mim mais do que poderia oferecer, por isso, resolvi encerrar a carreira política.


DM - Iris deveria ter seguido os mesmos passos do senhor?

Nion - O Iris tem muita energia, mas tem idade também. Ele quem julga o que pensa, mas acho que ele deveria ter pensado que já ofereceu muito para o Estado. Foi um político muito importante, realizou um trabalho extraordinário. Mas hoje não tem a mesma aptidão física que tinha aos 40 anos. Por isso, acho que ele está ultrapassado. Ele tem que deixar a liderança para os jovens dentro do PMDB. Existem muitos líderes jovens que podem muito bem assumir a responsabilidade de permitir que o partido continue a oferecer um belo trabalho como o que ele fez quando jovem.


DM - Como analisa a gestão dele à frente da prefeitura?

Nion - Muita publicidade e pouca ação social. Ele fazia uma pequena obra e uma grande publicidade em cima disso. Mas quanto a parte social ele foi simplesmente reprovado. Ele recebeu uma prefeitura com vários programas sociais em funcionamento e não deu continuidade a nada. Vou dar só um exemplo. O Banco do Povo, que foi idealizado por um cidadão (Mohammed Yunus) que recebeu o Prêmio Nobel da Paz e trazido para o Brasil pela esposa do presidente Fernando Henrique Cardoso (Ruth Cardoso), e imediatamente eu adotei na prefeitura de Goiânia. O que me deixou estarrecido, foi ele (Iris) dizer: “esse banco não dá lucro”. Mas é claro! O banco não tem a finalidade de ser uma entidade financeira. É um banco social. Oferece oportunidade de empréstimo para as pessoas de baixa renda que queiram crescer na vida. O programa foi fechado sem nenhuma justificativa e nada foi colocado no lugar. Os programas “Trabalhando com as mãos”, “Amigos do meio ambiente”, “SOS criança”, foram criados para tentar sanar as dificuldades sociais. Procurávamos fazer da melhor forma possível. No governo anterior ao do PMDB (Pedro Wilson, deputado federal PT), esses programas desapareceram. O que lamento profundamente.


DM - Como está a prefeitura nas mãos de Paulo Garcia (PT)?

Nion - Ele está começando. Temos que aguardar um pouco para julgar, para não cometer injustiça. Por isso prefiro aguardar para fazer uma avaliação.


DM - Como está a campanha de Marconi Perillo (PSDB)?

Nion - Participo de uma caminhada ou outra. Não tenho tanto fôlego assim. Tenho consciência que a volta dele é para o bem de Goiás. Marconi é um candidato que olha para o futuro, não para o passado. Ele não administra com um espelho retrovisor, mas sim olhando para a frente. O processo da informática, por exemplo, nem é cogitado pelo candidato que faz oposição a nós. Temos consciência que a informática é o futuro. As crianças e os jovens precisam desse instrumento na mão para terem facilidade de conquistar uma vida melhor. Mas este é apenas um item. Marconi fala de avanços na área da saúde, educação e emprego. São mudanças para o futuro e tenho convicção de que ele empregará todos os seus esforços para realizar um programa que vai dar avanço espetacular para o nosso Estado.


DM - Como o senhor avalia os quatro anos de governo Alcides Rodrigues (PP)?

Nion - Avalio ouvindo o povo. Tenho amizade e querer bem com o governador Alcides Rodrigues. Mas entre a amizade e análise da administração... ele transfere todo o seu poder de decisão para auxiliares. Isso dificultou muito o trabalho dele, apesar da experiência que ele tinha na área executiva.


DM - O senhor se refere a quais auxiliares? Há uma grande polêmica em torno da influência do ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga (PP) sobre Alcides.

Nion - Essa particularidade eu não sei. O que entendo é que durante um período grande, o governo insistia num déficit fiscal de cerca de R$ 100 milhões. No entanto, por meio de um estudo do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) que tem condição para analisar o problema, foi dito que não existe esse déficit em nenhum instante. Agora, essa situação não pode ficar como está. O PSDB, grande prejudicado por essa campanha sistemática, durante muitos anos, deve entrar com representação na Justiça para cobrar o que lhe é devido.


DM - Qual o papel da mulher na política? No PSDB temos o exemplo da senadora Lúcia Vânia.

Nion - Fundamental. A mulher ocupa espaço importante na sociedade, mas lamentavelmente na política elas não estão ocupando o lugar que merecem. As mulheres são mais rigorosas no julgamento, com muito mais justiça. Acho que a mulher é parte integrante da modificação que passa a nossa sociedade. Hoje, peço as mulheres que voltem para a política partidária. Para que o Congresso tenha um número expressivo de mulheres. Só assim teremos leis para melhorar a nossa situação.


DM - Este ano temos duas candidatas à presidência, Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PV). Como o senhor avalia a postura da ex-ministra e candidata do Lula?

Nion - Além de insegurança, ela mostrou despreparo durante a pré-campanha. Ela não está preparada para o exercício da Presidência da República. Ela esteve recentemente na França. Depois da viagem disse que não ia cumprir agenda porque estava cansada. Um presidente não pode a todo momento pedir licença para descansar. Ela não tem preparo. E vou lhe contar, nós temos um presidente que não era do PT (Lula). Ele é sindicalista. Mas a Dilma é petista e pode ter atrasos fenomenais, caso eleita. O que graças a Deus não vai acontecer.


DM - E sobre a candidata Marina?

Nion - Tenho simpatia por ela. Mas acho que em uma campanha eleitoral existe uma força para conduzir este candidato a vitória, e Marina não tem essa máquina. A Dilma tem a máquina do PT, o José Serra tem a máquina do PSDB, mas ela não tem nada. Ela não terá votos o suficiente para se eleger.


DM - Qual deve ser o perfil do político moderno?

Nion - O político não deve administrar com os olhos virados para o passado, nem para um futuro muito distante, mas administrar o hoje, os problemas de agora. A população usuária do transporte coletivo, quer uma melhoria. É um quesito que deixa muito a desejar. É muito importante que o transporte dê condições para a pessoa ter uma vida de lazer. O estresse do vai e vem no ônibus lotado todos os dias na hora de ir para o trabalho, é prejudicial à saúde.


DM - E onde o senhor considera que está o erro no transporte público de Goiânia?

Nion - O trânsito em Goiânia não está bom. São vários problemas. Primeiro, o governo federal reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre os carros, mas não deu dinheiro para as prefeituras solucionarem os problemas de trânsito. Houve uma enchente de carro nas ruas. O trânsito de modo geral é ruim em Goiânia, como em todo lugar. Segundo, o trânsito não é assunto para leigo e sim para técnico especializado. É o que está faltando. Estão realizando mudanças pontuais e isso não resolve o problema. A Avenida Marginal Botafogo é uma via que oferece facilidade para as pessoas transitarem. O Iris não aumentou um palmo a Marginal Cascavel. Fiz um pedaço, deixei recurso. O Pedro (Wilson, deputado federal, PT) fez outro pedaço, mas o Iris não conseguiu aumentar um metro. Não se resolve o problema do trânsito sem criar vias expressas. É necessária uma visão global e não pontual.


DM - O senhor é presidente de honra do PSDB. Políticos iniciantes o procuram para pedir conselho? Como é essa relação?

Nion - Não dou conselho. Dou palpite (risos), porque eu tenho uma vivência grande nessa busca de soluções. Ninguém consegue administrar sem o apoio da população, é fundamental. Não adianta você ter cinco mil garis varrendo a rua e um milhão de pessoas sujando. Se houver um milhão de pessoas que não sujem, você precisa só de um gari, ou de nenhum. Por isso é muito importante ter o apoio da cidade. Isso acontece quando o administrador atende as aspirações da cidade. A cidade quer melhorar o trânsito, melhore. A cidade quer que as ruas sejam limpas, limpe as ruas. A cidade quer que tenha mais jardins, ponha jardins. A cidade quer uma escola melhor, invista. Por isso digo que o político deve ter espírito público. Deve-se trabalhar para melhorar a vida das pessoas.

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