terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Diário da Manhã - 29 de janeiro de 2010

Diário da Manhã

Venda já estava pronta, afirma Enio
Ex-presidente da Celg diz à CPI que operação com Eletrobrás poderia ter sido feita durante sua gestão

Erica Lettry

Em dois momentos de seu depoimento ontem à CPI da Celg o ex-presidente da estatal Enio Branco de Andrade afirmou que tinha condições de implementar a venda de parte das ações da empresa, hoje tida como a principal estratégia do governo estadual para tentar recuperá-la.

Enio evitou fazer uma crítica direta à decisão do governador Alcides Rodrigues (PP), que no ano passado adiou os planos de venda de 41% das ações – ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), Eletrobrás e uma terceira empresa – para tentar um empréstimo junto ao BNDES. “A operação de agora é a que eu havia concebido antes. Mas o governador queria o empréstimo primeiro para valorizar as ações e vendê-las depois”, justificou. Na época de sua saída da empresa, especulou-se que o principal motivo teria sido o anúncio da venda, desmentido depois pelo governador.

O ex-presidente contestou a afirmação do secretário Jorcelino Braga de que a dívida atual da Celg é de R$ 5,7 bilhões. Para ele, o valor correto é de R$ 4,1 bilhões, constatado no relatório da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). “Não se pode confundir dívida com passivo. O número (R$ 5,7 bilhões) existe, ninguém está mentindo. Mas estão contabilizando os passivos. A forma correta é a da Fipe”, frisou.

Diante da exposição de Enio Branco, o oposicionista Daniel Goulart (PSDB) aproveitou para criticar o governo, a quem acusou de estar tentando denegrir a imagem da empresa. Em seguida questionou o ex-presidente se isso pode ter atrasado as negociações da venda das ações. Enio evitou responder diretamente à pergunta e disse apenas que não pode deixar de considerar o avanço que o modelo proposto por ele sofreu nos últimos 12 meses. Além disso, o ex-presidente garantiu conhecer duas pessoas dentro do governo federal que dão como certa a operação junto à Eletrobrás.

No depoimento de ontem, os membros da CPI repetiram alguns dos questionamentos que fizeram a outros presidentes sobre a utilização em excesso de serviços terceirizados e a escolha de bancos pouco conhecidos para contração de empréstimos. Em resposta ao deputado José Nelto (PMDB), Enio Branco afirmou que reduziu em 26% os serviços terceirizados em sua gestão, mas não conseguiu atingir a meta de 35% que havia se proposto.

Em relação ao financiamento em bancos menores, ele disse que 90% das empresas que atuam no mercado agem dessa maneira porque os grandes bancos são mais rigorosos. Ele também afirmou que recorreu aos bancos em momentos de necessidade.

Antes de ser questionado pelos deputados, o ex-presidente comentou o bloqueio de seus bens imóveis por decisão da Justiça, em razão de um contrato com a Evoluti. “Entendo a manifestação como legítima. Mas evidente que vamos recorrer”, disse.

Cachoeira

Presidente da Celg durante o governo do hoje senador Marconi Perillo (PSDB), o economista José Paulo Loureiro (2002 - 2004) citou a venda de Cachoeira Dourada como um grande problema da estatal. “A Celg enfrentou na verdade duas Cachoeiras Douradas. A primeira foi a venda da usina. A segunda, quando o dinheiro da venda não foi aplicado na empresa”, disse.

Ele afirmou ainda que a empresa que comprou a geradora, a Endesa, é de origem desconhecida. “Seu capital pode ser de paraíso fiscal, por isso não foi possível levantar sua origem”.

Vasquez cita “falha” em proposta de privatização

Erica Lettry

Em depoimento de uma hora e meia, o ex-presidente da Celg, José Walter Vasquez Filho (2003-2004), reconheceu ontem que falhou em sua missão à frente da estatal, que era encontrar um acionista capitalizado para adquiri-la.

Ao ser questionado pelo peemedebista José Nelto se a proposta de privatização à época foi errada, o ex-presidente analisou que o momento é que era errado. “O timing foi errado. Para adotar um modelo neoliberal é preciso ter uma economia forte”, avaliou.

O tucano Daniel Goulart, um dos defensores do senador Marconi Perillo (PSDB) na Assembleia, indagou se a decisão de Marconi de não vendar a empresa foi acertada. “Acertadíssima. Agora, a questão é complexa. O governo atual deve estar passado pelo mesmo problema que passamos”, disse.

Daniel Goulart fez questão de dizer que o momento em que José Walter presidiu a empresa era delicado. Em seguida, retomando uma das principais acusações contra o PMDB, o tucano questionou se o modelo de contrato para comprar energia – após a venda da usina de Cachoeira Dourada – teria sido um complicador da dívida da Celg.

Em resposta, Vasquez elencou uma série de problemas da empresa, como o imbróglio envolvendo a Codemin e a questão do passivo trabalhista.

O relator Humberto Aidar (PT) perguntou se Marconi mandava na empresa durante sua gestão, mas Vasquez garantiu que não. “A injeção de política foi quase zero, porque a empresa estava sendo vendida. Tinha quatro auditores do BNDES lá dentro acompanhando a Celg”, lembrou.

Sobre empréstimos feitos para a empresa por meio de bancos pouco conhecidos, o ex-presidente garantiu não tê-los contraído, mas sim renovado os que já haviam sido assinados. Mas reclamou da pressão sofrida quando tentou desfazer-se de um grande banco que atuava na empresa. “Tentei trazer a Caixa Econômica, mas vi o tanto que o mercado é forte”, lamentou.

Sem citar gestões, o ex-presidente encerrou a fala dizendo que o principal problema da empresa é a confusão entre o Estado e a Celg: “A função da Celg não é gerar bem social. Isso é função do Estado”.

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