terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Popular - 29 de janeiro de 2010

O Popular

O justo espaço político da mulher

Desde 2001, o número de mulheres matriculadas em cursos de nível superior no Brasil é maior do que o de homens. Estima-se que, neste ano letivo de 2010, o gênero feminino ocupe 57% das matrículas. Essa circunstância vai, sem dúvida, contribuir para o crescimento do espaço da mulher no campo político nos próximos anos. Um recuo no tempo nos indica que, em 1940, para cada mulher que concluía curso superior no Brasil eram diplomados 15 homens.

Também o espaço político feminino no Brasil tem de crescer, até para garantir coerência em relação ao grau da presença da mulher em todos os segmentos profissionais. Mas a mulher tem de saber valorizar esse espaço, superando os quadros masculinos no aspecto ético. Saber valorizar também a própria história da estóica luta das mulheres pelo direito ao voto, e depois pelo direito de serem votadas. Essa luta se iniciou ainda no tempo do império, levando-se em conta o movimento liderado por Josefina Álvares de Azevedo, fundadora do jornal A Família.

Logo depois dela, a atuação de uma baiana que exerceu o magistério em Goiás, Leolinda de Figueiredo Daltro, e que, ao se mudar para o Rio, teve papel importante pela causa. No final da chamada República Velha, surgiu a liderança de Bertha Lutz. Veio a Revolução de 1930 e, em 24 de fevereiro de 1932, decreto de Getúlio Vargas, chefe do chamado Governo Provisório, outorgava pela primeira vez direito do voto feminino no Brasil, mas de modo censitário e restrito. Poderiam votar mulheres casadas, com autorização dos maridos, e viúvas e solteiras com determinado teto de renda.

A luta continuaria pela conquista do voto irrestrito. Em Goiás, houve então duas pioneiras: Benedita Chavez Roriz e Almerinda Arantes, que mais tarde seria deputada estadual e secretária de Estado.

O espaço político ocupado atualmente pelas mulheres é ainda reduzido. São, como eleitoras, maioria, com 51,7% do total de cerca de 130 milhões de eleitores. Mas no Senado, somam 10 cadeiras, enquanto homens ocupam 71. Na Câmara dos Deputados, elas são apenas 9%, 46 parlamentares, enquanto os homens somam 467. Em 2008, 503 mulheres (9,06%) se elegeram prefeitas dos cerca de 5,6 mil municípios do País.

O ideal seria que as mulheres já tivessem conquistado espaço correspondente a pelo menos 20% dos mandatos nos Poderes Executivo e Legislativo, conferindo valor a essa conquista em quesitos como competência, idoneidade e ética. As próprias mulheres devem avaliar muito bem as representantes do gênero que se candidatam, pois aquela que não corresponder compromete a meta do crescimento do número delas nos quadros políticos do País.

Nunca se elegeu no Brasil uma mulher ao exercício da presidência. A Argentina já elegeu duas, mas ambas com gestões desastradas, Estela Perón, e a atual, Cristina Kichtner. O Chile foi muito mais feliz: Michelle Bachelet, a primeira mulher presidente naquele país, está encerrando mandato com 80% de aprovação do povo. No Brasil temos de torcer para que tenhamos uma situação característica de melhor com elas, como no Chile, e não de pior com elas, como na Argentina.

Hélio Rocha é colunista do POPULAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário