terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Popular - 29 de janeiro de 2010

O Popular

Celg corta energia de loteamentos
Procuradoria do município diz que residenciais JK 1 e 2 seriam ilegais e não podem receber infraestrutura

Malu Longo

A Celg Distribuição (Celg D) desligou ontem de manhã a energia elétrica dos Residenciais JK 1 e JK 2, na Região Noroeste de Goiânia, onde vivem cerca de 80 famílias. A operação, com o apoio das Polícias Militar, Civil e Técnico Científica, foi desencadeada após ofício da Procuradoria Geral do Município, comunicando que ambos os loteamentos são ilegais, embargados pela Secretaria de Planejamento Municipal (Seplam) e, portanto, não podem receber obras de infraestrutura.

A rede foi construída nos dois residenciais à revelia da Celg D a partir de uma rede de alta tensão próxima. Os moradores vinham consumindo energia sem pagar pelo consumo. Coordenador do Setor de Fiscalização Comercial da Celg D, Rodrigo de Paula Silva, disse que, mais do que impedir o prejuízo da empresa, estimado em R$ 5 mil por mês, a medida visa proteger os moradores de acidentes. O POPULAR apurou que um morador do JK 2 ficou paraplégico no ano passado depois de subir num poste para fazer um “gato”. Titular da Delegacia Estadual de Repressão a Furtos e Roubos de Cargas (Decar), Itamar Lourenço de Lima acompanhou a operação e prometeu punição aos responsáveis pelos loteamentos.

Moradores disseram que os residenciais existem há cerca de um ano e os lotes foram comercializados pela Cooperativa de Habitação Norte, cujo responsável seria Divino Donizete. Ele é muito conhecido na região por ser “unha e carne” com o deputado estadual José Nelto (PMDB). Por telefone, Divino negou o envolvimento de políticos e contou uma estranha história de que montou a cooperativa e adquiriu as duas áreas por quase R$ 2 milhões, mas as pessoas foram saindo e o deixaram sozinho. “Trabalho sério”, garantiu. De acordo com Divino, no fim do ano passado, após o embargo da Prefeitura, foi feito um termo ajustamento de conduta (TAC) entre a cooperativa, o Ministério Público e a Seplam para que, em 180 dias, os loteamentos fossem regularizados. Perguntado porque começou a vender os quase 700 lotes antes de legalizar a área, Divino respondeu que “não tinha conhecimento direito do negócio, achei que era mais fácil.”

O comerciante Ismael Carvalho, que comprou dois lotes no JK 1 para montar um supermercado, contestou a afirmação de Divino. “Ele e José Nelto criaram a cooperativa. Os dois sempre fazem reuniões aqui. Como está demorando muito para trazer benefícios, já propus ao Divino para que um de nós assumisse a presidência da cooperativa e buscasse o financiamento na Caixa Econômica Federal, mas ele nunca aceitou”.

Cada lote foi vendido, inicialmente, por R$ 3 mil em parcelas de R$ 159,00. Um corretor de imóveis, cujo telefone encontrava-se numa placa na entrada dos loteamentos, informou que todos os lotes já foram vendidos. No JK 2 chegaram a custar R$ 8.791,00.

O conferente Francisco Alécio, pai de dois filhos, que tira as horas de folga para construir sua casa no JK 1, estava revoltado com o corte de energia. “O Divino prometeu que tudo seria resolvido”. Ana Paula, mãe de duas meninas, tentava falar com o marido por celular para contar que estava sem energia em meio a muito matagal e estradas de terra. “Aqui tem muitas crianças”, disse ela.

Apesar da falta de infraestrutura, episódios absurdos são mencionados pelos moradores. “Um morador reclamou da falta de energia e um advogado queria bater nele”, contou um deles. Outro lembrou que o atraso nas parcelas implica juros altos cobrados por Divino Donizete. O responsável pela Cooperativa Habitacional Norte deve prestar depoimento hoje na Decar.

O deputado José Nelto disse que tem base eleitoral na região e que apenas tentou achar uma solução para regularizar os imóveis. “Fui com um grupo de moradores à Prefeitura e ficou acertado que a Seplam criaria uma comissão para resolver o problema.”

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