segunda-feira, 12 de abril de 2010

Barbárie em Luziânia!







CIDADES

LUZIÂNIA
                                                    
                        Foto: Cristiano Borges
Admar de Jesus Silva é conduzido por policiais federais e civis no local em que enterrou as vítimas dos homicídios que confessou ter cometido.

Homem frio, metódico e assassino
Pedreiro admar de Jesus silva, réu confesso de seis homicídios em luziânia, morava perto de suas vítimas

Marília Assunção Enviada a Luziânia

Nome: Admar de Jesus Silva, de 40 anos, viúvo, nascido no interior da Bahia onde deixou dois filhos. Pele morena, cabelos negros e curtos, cerca de 70 quilos, 1,60 metro de altura, aproximadamente, e uma expressão fria. Profissão: pedreiro.

É o perfil de um homem metódico, o mais novo serial killer brasileiro, assassino confesso dos seis jovens desaparecidos de dezembro para cá em Luziânia. Outro detalhe crucial: Admar é um pedófilo solto após a Justiça ignorar um laudo psiquiátrico recomendando tratamento.

Também conhecido como Nego e Valdemar, Admar não era um homem acima de suspeitas, embora se desse bem com vizinhos, trabalhasse e frequentasse cultos semanais em uma igreja evangélica. Na verdade, parentes e vizinhos sabiam que ele tinha cumprido pena recentemente no complexo penitenciário de Brasília, por atentado violento a pudor (hoje crime de estupro) contra dois meninos, de 11 e de 8 anos de idade (em 2004).

Beneficiado pela progressão de pena por bom comportamento, Admar tinha saído da prisão em 23 de dezembro. Sete dias depois fez a primeira vítima em Luziânia, onde passou a morar na casa de uma irmã. Entre um muro erguido, uma cisterna furada, uma casa construída, seguiu fazendo vítimas.

“Eu tinha até combinado trabalhar com ele em maio nas casinhas (bairro novo de Luziânia). Mas aí ele foi ficando estranho, caladão, e agora essa notícia horrível. Eu era vizinha do assassino, gente!”, dizia na porta de casa, espantada, a comerciante Maria Rodrigues Ribeiro de Souza, uma cearense de 63 anos.

Maria tem motivos de sobra para o choque. Ela trabalhava como servente, “fazendo a massa e rebocando” algumas obras que Admar construía por Luziânia. Moradora vizinha de um dos três lotes ocupados por familiares do pedreiro na mesma rua, ela era uma das vizinhas que sabiam do passado de pedofilia, mas que Admar dizia “não ser bem daquele jeito”. E ela acreditou. “Pensei que os anos de cadeia tinham sido uma lição.”

Na verdade, Admar era vizinho também dos garotos que confessou ter matado e provavelmente violentou. Ele morava na Rua 29 do Parque Estrela d’Alva 4, bairro onde sumiram os adolescentes Diego Alves Rodrigues, Paulo Victor Vieira de Azevedo Lima, de 16; George Rabelo dos Santos, de 17; Divino Luís Lopes da Silva, de 16; Flávio Augusto Fernandes dos Santos, de 14, e Márcio Luiz de Souza Lopes, de 19. Também foi lá que ele tentou seduzir um adolescente portador de deficiência física com oferta de emprego, mas que escapou. Nesse dia, Admar levava um martelo na garupa da bicicleta.

O pedreiro não assediou ou fez vítimas entre os vizinhos mais próximos, da mesma rua, por exemplo. Ao contrário: “Eu, a irmã dele e o próprio Valdemar (Admar) íamos ao culto juntos quase toda semana. Jamais imaginaria, apesar de saber que ele esteve preso por estupro”, contava ontem Maria Rosa da Silva Amadeu, de 50 anos, vizinha dos parentes dele há mais de dez anos.

Ontem ela e outros moradores olhavam espantados a rua sendo cercada por policiais militares fortemente armados, que chegaram com a aproximação de parentes das seis vítimas. Mães, tios, irmãs, cunhados, primos e primas, foram até a porta da casa, incrédulos de que estivessem tão perto da resposta para meses de angustiante espera, tantos dias cercados de mistérios e hipóteses mirabolantes como tráfico de órgãos ou trabalho escravo.

Retrato falado foi determinante para prisão

Marília Assunção

Além dos 128 dias de intensa investigação desde o primeiro sumiço, duas peças do quebra-cabeças se destacaram para desvendar os crimes em série que abalaram Luziânia. Uma foi um retrato falado feito pelo deficiente que, ou indicou diretamente o homicida, ou apontou um comparsa – um homem em um carro preto que conversou com Admar de Jesus Silva perto da vítima que escapou. Um sobrinho de Admar e um amigo do rapaz também foram presos.

Segundo o delegado Josuemar Vaz de Oliveira, chefe do Departamento Judiciário da Polícia Civil de Goiás, as prisões ocorreram para averiguar se os dois participaram ou não das mortes dos seis rapazes junto com o pedreiro, pessoa que ele descreveu como fria.

A outra peça teria sido um telefone celular de uma das vítimas em poder de um dos familiares do pedreiro, que teria sido rastreado, levando à prisão da irmã de Admar, na residência na qual ele morava. A detenção da irmã teria sido decisiva para que ele confessasse as mortes e apontasse no mesmo dia, na sexta-feira, o local onde estavam os corpos. A informação do celular rastreado não foi confirmada oficialmente pelas Polícias Civil e Federal, que investigaram o caso.

“Desde o início trabalhamos com a hipótese de ação de um pedófilo e foi a investigação que apontou o pedreiro, recém-libertado do presídio em Brasília, morando no mesmo setor onde residiam as vítimas”, destacou Josuemar. Policiais federais, civis e militares vigiaram Admar durante aproximadamente dez dias antes da prisão preventiva ser decretada, na sexta-feira.

No dia da prisão, Admar estava com três bicicletas, das quais duas podem ser das vítimas. Ao confessar, ele teria dito que as vítimas foram mortas a pauladas e que foram vivas até o local onde ocorreram os crimes. A Polícia Civil acredita, entretanto, que ele matava as vítimas antes de descer até o local onde enterrou uma por uma. “Admar alega que conhecia as vítimas e que fez programas com quatro delas, mas não acreditamos que ele conhecesse os rapazes”, informou o delegado que esteve à frente das investigações.

Já Aredes Teixeira, delegado-geral da Polícia Civil, citou que há indícios de que quatro das vítimas “tinham tendência homossexual, embora as famílias não admitissem”, ligando essa tendência à preferência sexual do pedófilo, que era por meninos. Ele se queixou do “desgaste político” de comparecer a tantas Comissões Parlamentares de Inquérito (da Pedofilia, dos Desaparecidos e dos Direitos Humanos), enquanto a investigação andava.

Desde fevereiro as investigações foram reforçadas pela Superintendência da Polícia Federal (PF) de Brasília, sob o comando do delegado Wesley Almeida, chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado. Ele descreveu o acusado como “um homem metódico e articulado”.

Foi ele quem leu o laudo psiquiátrico de Admar em Brasília. Questionado sobre sua opinião quanto à progressão de regime que beneficiou o pedreiro com a soltura – a despeito de ele não ter recebido o tratamento psiquiátrico –, o delegado federal lembrou que se tratava de decisão judicial, mas que, profissionalmente, considerava que o pedreiro não deveria ter sido solto.

Entre as autoridades que compareceram ao local onde os corpos foram enterrados estiveram o ex-secretário estadual de Segurança Pública de Goiás Ernesto Roller, a superintendente da PF de Brasília, Mara Santana, o prefeito de Luziânia, Célio Silveira.

Roller e Mara lamentaram o desfecho trágico para as famílias e destacaram o esforço conjunto das polícias para a elucidação dos crimes.

O prefeito sinalizou com ajuda para o sepultamento das vítimas e distribuição de cestas de alimentos para os familiares. Ele admitiu que o episódio reforça a visão de Luziânia como cidade violenta, mas que o município espera que haja “uma justiça exemplar em relação aos crimes cometidos e união da sociedade contra a violência”.

Emoção e gritos de familiares por Justiça

Marília Assunção

A confirmação da localização dos corpos sepultou as esperanças de parentes dos seis jovens de que eles estivessem vivos. Restou a eles acompanhar de perto a remoção dos restos mortais. Alguns foram até o local. Outros não suportaram a emoção e, medicados, esperaram em Luziânia.

Cientes de que o acusado já havia confessado os assassinatos e estava informando a localização das covas, os parentes das vítimas e alguns moradores da cidade foram até a fazenda e assistiram de longe a hora em que ele foi colocado em um carro da Polícia Militar para ser trazido até Goiânia por volta das 11 horas. “Solta ele, solta ele”, gritavam da cerca onde ficaram limitados pelos policiais.

“A gente tinha esperanças de encontrar meu irmão vivo, não imaginávamos o que esse psicopata tinha feito. Muito menos que esse destruidor de famílias morava só quatro ruas distante de nós”, afirmou Gláucia Gomes de Souza, de 26 anos, irmã de Diego, primeira vítima de Admar assassinado aos 13 anos de idade .

A mãe, Aldenira Alves de Souza, também foi ao local e precisou ser amparada. “A gente veio aqui porque queria perguntar para essa pessoa porque tudo isso, porque ele fez isso com um menino como era meu primo”, afirmava o comerciante Joaquim Soares de Abreu, primo de Diego.

Irmã de Márcio, Luciana Maria Souza recebeu abraços e apoios comovidos até de policiais envolvidos na investigação. Quando a primeira gaveta do IML subiu com um dos corpos, ela caiu em prantos.

Todos os corpos estavam enterrados em grota

Marília Assunção

O local onde Admar de Jesus Silva enterrou os corpos das vítimas, todos removidos ontem e levados para exame cadavérico de identificação no Instituto Médico-Legal (IML) de Luziânia, é uma grota de difícil acesso dentro de uma fazenda próxima da BR-040. A propriedade rural é paralela ao Parque Estrela d’Alva, mas distante cerca 8 quilômetros do setor.

Eram covas rasas, espalhadas em um raio de 300 metros, com distâncias de 30, 50 até 200 metros uma da outra. A dificuldade de acesso era tanta que vários policiais caíram na descida íngreme, que exigiu uma corda do Corpo de Bombeiros para alcançar o fundo. Moto-serras foram usadas para abrir caminho pela vegetação e cães farejadores ajudaram na localização das covas.

Os corpos foram retirados com dificuldade do fundo da grota para os carros do IML que estavam no local. Pouco antes do meio-dia, os cadáveres começaram a ser removidos. À tarde, os parentes se revezavam entre a casa do acusado e o IML, acreditando que poderiam identificar algum objeto das vítimas, além de fornecer dados como manchas ou pintas que antecipasse a identificação.

Luziânia

Pedreiro é colocado sozinho em cela
Assassino confesso dos jovens de Luziânia foi trazido para a capital por segurança

Patrícia Drummond

O pedreiro Admar de Jesus Silva, de 40 anos, que confessou o assassinato dos seis jovens desaparecidos entre dezembro de 2009 e janeiro deste ano em Luziânia, ocupava sozinho, ontem à tarde, uma cela na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), na Cidade Jardim, em Goiânia. Segundo o delegado Josuemar Vaz de Oliveira – que tentava manter sigilo sobre o lugar para o qual o suspeito havia sido levado –, ele deixou a cidade onde foi detido e foi trazido para a capital “por questões de segurança”.

“Ouvimos muitos rumores de que os familiares das vítimas estavam tentando articular um linchamento”, argumentou Oliveira. Na Denarc, conforme informou um agente de plantão que preferiu não ser identificado, Admar teria chegado à delegacia aparentando apenas cansaço, “reclamando que estava fraco, que não tinha dormido nem comido”. O motivo, explicou o agente, teria sido a coleta de sangue para exames.

Preso na cela – com banheiro próprio e colchonete –, o pedreiro recebeu comida e água. “Demos a eles dois marmitex”, contou o agente da Denarc. “Ele comeu, bebeu água e não comentou nada. Até agora (por volta das 16h30), permanece calado”, acrescentou. O assassino confesso dos adolescentes de Luziânia chegou a Goiânia no início da tarde, escoltado pelo GT3, grupo de elite da Polícia Civil.

Admar de Jesus foi preso em operação conjunta das Polícia Civil e Federal, no próprio bairro onde ocorreram os desaparecimentos dos jovens – o Parque Estrela d’Alva, na periferia de Luziânia, Entorno do Distrito Federal (DF), a 196 quilômetros de Goiânia. Detido, e após confessar os crimes, já no fim da tarde do mesmo dia ele apontou o local onde os seis corpos estariam enterrados.

Cadáveres em mata

Policiais civis estiveram no local e constataram que o pedreiro falava a verdade: em uma mata, a 300 metros da BR-040, entre os municípios de Luziânia e Cristalina, eles desenterraram dois corpos e isolaram a área. A retirada desses dois cadáveres e dos outros quatro apontados por Admar de Jesus foram, então, realizadas para a manhã de ontem, por peritos da Polícia Técnico-Científica.

ENTENDA O CASO

Três meses de dúvidas e suspense

O primeiro adolescente a desaparecer em Luziânia foi Diego Alves Rodrigues, de 13 anos, em 30 de dezembro de 2009. O sexto e último, Márcio Luiz de Souza Lopes, de 19 – o único maior –, em 22 de janeiro. Todos os meninos moravam no mesmo bairro, mas não se conheciam. Nos mais de três meses de repercussão do caso, suspeitos chegaram a ser presos, a Polícia Federal e as Comissões Parlamentares de Inquérito dos Desaparecidos e da Pedofilia se envolveram nas investigações e as famílias das vítimas, angustiadas, realizaram protestos.

2 comentários:

  1. Vamos bater palmas e elogiar a justiça brasileira...um doido e preso por estrupo condendo por 15 anos...sai com 4 anos...e na proxima semana começa uma matança...e 6 familias estão acabadas por um absurdo deste.Gente vamos pensar sobre o salario de cada juiz,cada promotor,cada sei la o que da justiça e analizar se pode ter erros dessa natureza.Como brasileiro estou com vergonha do meu pais,como mãe,esposa e avô estou pedindo a deus que ampare nosso povo tão sofrido e tão sedento de justiça e paz.

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  2. Prezado José Ronaldo,

    É realmente estarrecedor o que acontece no Brasil. Há uma classe que domina todos os cargos importantes da República, em todos os poderes constituidos, mas que, paradoxalmente, se diz vítima das leis e sistemas que criaram. Porém, as verdadeiras vítimas indefesas são as famílias desprovidas de recursos para contratarem advogados, segurança particular, detetives, jagunços, pistoleiros e policiais corruptos; para que esses "profissionais" resolvam suas pendências e atritos.

    o povo é obrigado e receber em seu meio um psicopata, liberado por uma lei tola e ainda pagar um alto preço, tanto financeiro quanto emocional, para que o Estado mantenha toda essa máquina da (in)justiça obsoleta!

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