quarta-feira, 12 de maio de 2010

Serra em Goiás







POLÍTICA

ENTREVISTA / José Serra



“Desejo ver nossos aliados juntos”

O Popular

Em entrevista a jornalistas dos veículos Organização Jaime Câmara (OJC), o pré-candidato do PSDB, José Serra, deixou clara sua posição sobre a composição de alianças nos Estados: que os partidos que estarão na aliança nacional façam o máximo possível para reproduzir esses acordos regionalmente, de forma a garantir palanques fortes na disputa contra a pré-candidata do PT, a ex-ministra Dilma Rousseff. Nesta entrevista, o tucano falou das propostas, da intenção de aproveitar os bons programas dos Estados em seu programa de governo e não se furtou em admitir que manterá em sua gestão os “bons programas” criados sob a era de Luiz Inácio Lula da Silva. Confira abaixo os principais trechos da entrevista.


Quais os projetos que o senhor tem para Goiás caso eleito? Quais seriam suas prioridades para o Estado?

José Serra - Goiás é um dos celeiros mais importantes do Brasil. Tem uma economia dinâmica, é um Estado que olha pra frente. O que Goiás precisa agora é de infraestrutura. O aeroporto de Goiânia, tem de construir um novo terminal de passageiros. Aeroporto é turismo e é negócio. A Norte-Sul, tem que continuar tocando aceleradamente. Demorou muito pra acelerar a obra, mais para o final do atual governo. A Norte-Sul é indispensável para Goiás. E há um conjunto de estradas também que são essenciais. Hoje, mandar soja daqui até o porto de Paranaguá custa tanto quanto mandar soja para a China. Ou seja, estamos pagando um custo muito alto que prejudica o desenvolvimento do Brasil e da Região Centro-Oeste, que é a que mais se desenvolve no Brasil. Portanto, a grande prioridade para Goiás é essa. As outras grandes prioridades são segurança, saúde e educação, inclusive para o trabalho.

O sr. pensa em criar o ministério da segurança pública?

José Serra - Penso e vou criar. Porque o ministério da segurança é para o governo federal assumir responsabilidades nessa área. Porque hoje a segurança fica tudo por conta dos Estados, mas pela Constituição, contrabando de armas, de drogas, que são a base do crime organizado, são de responsabilidade federal. Então o governo federal tem de entrar. E aí onde a segurança não tiver indo bem, inclusive cobrar dos governadores. Em São Paulo, a criminalidade caiu 70% nos últimos dez anos. Todos os Estados necessitam de uma ação federal mais firme, concentrada e qualificada, além do apoio financeiro, naturalmente.


Com relação à Ferrovia Norte-Sul, é um projeto de 1985, passou por dois presidentes, e não concluiu. Além dela, tem outra ferrovia que sairia daqui e iria para São Paulo. Como o sr. acha que é possível concluir esses projetos?

José Serra - Tem de botar recursos e saber trabalhar com o Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Ministério do Meio Ambiente, com gente qualificada, para fazer as coisas andarem. Quando você vai fazer um investimento, prepara todas as condições para que o investimento caminhe, senão não adianta ficar reclamando depois. O investimento não sai, anda devagar, começa a fazer no final do governo, e aí ficam as coisas sem acabar. A Norte-Sul está há 23 anos para ser feita. É recorde mundial. Esse é um assunto que com competência e concentração a gente consegue resolver.


No caso do aeroporto de Goiânia, parou primeiro no TCU, que embargou a obra, depois a empreiteira entrou na justiça contestando alguns pontos. Como resolver esse problema?

José Serra - Antecipadamente ver com o TCU quais problemas que tem. E aí procurar uma decisão conjunta. Antes que eles impugnem, vamos ver quais são as questões que eles têm. Vai negociando e as coisas andam. Conseguimos fazer o rodoanel, maior obra viária do Brasil, em três anos. Dinheiro tinha, como tem também para o aeroporto. Precisa ter, além da vontade, do discurso e da comemoração, capacidade e competência para fazer isso acontecer.


No embate que existe atualmente entre TCU e governo, quem tem a razão?

José Serra - Na minha opinião, o governo poderia ter evitado isso se tivesse trabalhado com antecipação. Chegou nesse momento, criou um conflito que é inevitável.


O setor da agroindústria é também importante para o Estado. Além da questão logística, para escoamento da produção, o que o governo federal pode fazer para a área?

José Serra - São duas coisas. Primeiro os seguro rural. Temos de implantar isso no Brasil de uma vez por todas. Um seguro ligado a preço, a crédito. Porque em agricultura os preços flutuam, não é como a indústria, que é uma coisa estabilizada. Tem de ter um esquema de seguro, que dá para financiar perfeitamente. Inclusive porque tem as épocas de bonança. Um segundo aspecto é que tem de ser dada tranquilidade ao campo em matéria de investimentos. As pessoas precisam de ter segurança. E há um movimento político no campo que desestabiliza as expectativas dos agricultores. Porque acabou virando não de reforma agrária, mas usa a reforma agrária como pretexto para uma movimentação política, que é esse MST. Portanto, acho que o governo tem de enfrentar isso direito, cumprindo ordens judiciais, mas também deixando de financiar indiretamente esses movimentos. Isso para dar tranquilidade a todo tipo de agricultor, do pequeno ao grande produtor. E tem de dar muita ênfase no aumento da produtividade dos assentamentos no Brasil. Tem de fazer assentamento é para produzir, não para depois ficarem vivendo de cesta básica. Você deu terra, custou caro, eles precisam de renda. E ninguém gosta de ficar vivendo de cesta básica. Temos de fazer uma verdadeira reforma agrícola também junto com a reforma agrária.


Os programas sociais do atual governo federal seriam mantidos?

José Serra - Claro que seriam. Quero lembrar que o Bolsa Família foi começado antes aqui em Goiás, como renda Cidadã, que foi iniciativa do (Marconi) Perillo que deu certo na época. Em São Paulo também tínhamos um Renda Cidadã. É importante o trabalho de assistência social. Nesse sentido não só manteria o Bolsa Família como o reforçaria, ligando a duas coisas fundamentais: escola profissional, além do ensino fundamental, pois o que essas famílias que dependem do Bolsa Família querem é o futuro de seu jovem. Segundo, a saúde. Tem o programa de saúde da família que eu praticamente implantei no Brasil. Tem de ligar também ao Bolsa Família para melhorar o atendimento às famílias. A saúde no Brasil precisa de muita ação, estagnou, é problema grave ao lado da segurança.


Sua base política está rachada em Goiás, com PSDB e DEM tendo dificuldades de entendimento. Hoje a cúpula dos dois partidos se reuniu ao lado do sr. em sua visita, mas que tipo de ação política concreta está sendo feita para superar esse desentendimento?

José Serra - Não vim a Goiás para dizer como as coisas têm de ser aqui. O que desejo é que nossos aliados, dentro da liberdade que têm e dentro das suas possibilidades, estejam juntos. Isso pra gente ajuda. Agora, não fico me metendo diretamente nas coisas concretas, não só porque não tenho domínio de tudo, como a minha função é conciliar as nossas bases e não impor. Desejo que haja a maior unidade possível de todos aqueles que nos apoiam.


Se o sr. fechar aliança com o PP nacionalmente, seria outro partido em Goiás que estaria desgarrado de sua base, pelos problemas locais com o PSDB. Nesse caso, o sr. também tentará buscar a unidade?

José Serra - Como diz o presidente do PP, Francisco Dornelles, em política não se raciocina com “se”, se raciocina com fatos. Então vamos aguardar os fatos, ainda tá em tempo. Não precisa matar cachorro a grito. Sempre achei e disse que por mais que a campanha eleitoral fosse antecipada, algumas coisas nunca são, entre elas as alianças. Isso será resolvido em junho, às vezes de última hora, na madrugada. Sempre foi assim e desta vez não será diferente.


A escolha do vice também ficará para mais adiante?

José Serra - Será bem adiante, mais pro final (do prazo).


O sr. tem evitado críticas diretas ao presidente Lula, que está com a popularidade muito alta. Acredita que ele é um grande cabo eleitoral, inclusive para o sr.?

José Serra - Não tenho evitado (criticar). É que estou focado no futuro. E tenho uma maneira de fazer política que nunca variou. No governo Fernando Collor, eu era o líder do meu partido na Câmara dos Deputados e depois nós inclusive caçamos o Collor. Fui um dos que comandaram esse processo porque realmente não havia mais condições dele permanecer. Mas naqueles anos que transcorreram nunca fiz oposição do quanto pior melhor. Nunca acho que alguém está totalmente certo ou alguém está totalmente errado. Não acho que as pessoas são donas da verdade nem me acho dono da verdade. Então às vezes você reconhecer que há alguma coisa positiva num partido ao qual me oponho, a um governo ao qual faço oposição, causa espanto no Brasil. Mas é meu jeito de ser. O que está andando, vamos pra frente. O que não está, quero mexer e já disse várias coisas a esse respeito. Para mim, por exemplo, segurança é prioridade número um. Para outros que estão concorrendo, a segurança não tem toda essa prioridade. Então vamos debater o por quê. Vamos discutir saúde, educação, meio ambiente. Porque o povo vai olhar para frente, porque o Lula não é candidato, Fernando Henrique não é candidato, Collor não é candidato, Sarney não é candidato. O Brasil mudou bastante nos últimos anos e tem novos desafios pela frente.


Quais as principais diferenças entre seu projeto e o projeto da pré-candidata Dilma Rousseff (PT)? Algumas pessoas avaliam que vocês têm projetos muito parecidos.

José Neto - Não acredito nisso. Mas acho que as pessoas devem notar essas diferenças e fazerem seus juízos. Fica meio pretensioso para mim dizer que sou melhor nisso ou naquilo. Isso é algo que as pessoas devem se dar conta.


Qual a finalidade da sua visita a Goiânia?

José Serra - Não vim só para dizer o que penso, mas também para ouvir, sentir as pessoas, aprender, porque ainda tem muita coisa pela frente e precisamos testar as ideias. Vim a Goiás também para aprender sobre o Atlético (Goianiense), que eliminou o Palmeiras (há uma semana, na Copa do Brasil). Quero saber que time é esse que agora está como um rojão para cima. Já tinha o Goiás, agora tem outro bom.


O sr. vai a uma agência do Vapt-Vupt daqui a pouco. Pretende conhecer o sistema?

José Serra - Eu fiz Vapt Vupt em São Paulo com outro nome, chama Poupa Tempo. Vou contar uma coisa engraçada para vocês. Uma vez a prefeitura do PT em São Paulo, antes de eu ser prefeito, criou um Poupa Tempo que não funcionava, atrasava mais as coisas. Eu apelidei de “Perca Tempo”. Poupa Tempo é um nome bom, mas Vapt Vupt tem mais charme ainda. É uma coisa muita boa porque dá mais tempo para a pessoa, sobra mais tempo para lazer ou para trabalhar. Estou curioso para ver como funciona aqui.


Nessa pré-campanha, qual a maior dificuldade que acredita que terá? Enfrentar a máquina do governo?

José Serra - A minha infecção de garganta (risos). Porque essa coisa que campanha, pé no barro, rodar todo o Brasil, é conversa. Andar é fácil. Mas você tem de falar em todo lugar e isso é infernal para infecção de garganta.


Espera que com o avançar da campanha os ataques se intensifiquem?

José Serra - Se depender de mim, vai continuar positiva e de alto nível. Não vou ficar colocando carimbo. Isso não é meu estilo, quem me conhece sabe disso.

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