terça-feira, 13 de julho de 2010

Balestra: homem de bem!





Política & Justiça


“PP se fechou entre amigos”
Deputado reforça críticas à cúpula do partido e prevê disputa polarizada entre Iris e Marconi ao governo do Estado

Alexandre Bittencourt

De volta à planície após quase 20 dias de reclusão, o deputado federal Roberto Balestra (PP) retoma as críticas contra a direção do seu partido. Decidido a disputar a reeleição, Balestra confirma disposição de contrariar o resultado da convenção e trabalhar em favor da candidatura de Marconi Perillo (PSDB) ao governo. A entrevista concedida pelo parlamentar ontem ao jornalista Jerônimo Rodrigues, âncora do Programa Falando Francamente, da rádio Mil, reforça a impressão de que a batalha entre o seu grupo e a cúpula pepista dividiu, em caráter definitivo, o partido que comandou o Estado ao longo dos últimos três anos e meio. Veja os melhores trechos.

Como está sua situação política após a turbulenta convenção do PP?

Roberto Balestra - Aquela convenção deixou farpas para todos os lados. Eu, particularmente, fiquei muito machucado pela forma como foi realizada. Nunca imaginei que poderia acontecer comigo uma coisa que sempre combatemos durante toda a vida e que nunca deixamos que acontecesse com o partido.

O que deixou o senhor mais magoado em todo esse processo? Que lições o senhor tirou deste episódio?

Balestra - Ainda acho que política se faz com companheiros e que todas as decisões devem ser colegiadas. A posição que adotei foi de absoluta consideração aos companheiros. Tive consideração de reunir todos os que me apoiaram ao longo dos anos. Nunca havia me manifestado anteriormente em favor de A ou de B, apenas pregava a união da base. Com a base unida, faríamos barba, cabelo e bigode. Disputaríamos uma eleição tranquila e sem problemas. Lutei até o último momento, e quando vi que não havia mais possibilidade de uma convergência, reuni meus companheiros e pedi a eles que se manifestassem. Avisei que a minha posição seria a mesma da maioria. Por unanimidade, decidiram pela coligação com o PSDB. A partir de então, assumi também aquela opinião.

O senhor se considera derrotado naquela convenção?

Balestra - Pelo contrário. Nunca me senti tão fortalecido quanto naquele episódio. O importante é estar ao lado dos companheiros, e eu estive com eles. Na convenção, dividiram as urnas para saber quem votaria a favor da aliança com PSDB e quem votaria contra. Para surpresa deles, foi muito grande o número de delegados que respeitou o acordo celebrado na minha casa e votou em favor da coligação com os tucanos. Por isso, eu saí feliz e fortalecido. Apesar de triste, porque batalhei contra companheiros antigos, com quem fiz política a minha vida inteira. Imagino que os prefeitos que me acompanharam se sentiram da mesma forma. Mas isso faz parte da política. Como não houve acordo, vamos trabalhar dentro do que for possível.

Na convenção do DEM, Ronaldo Caiado disse que não vai pedir votos para Marconi Perillo. E o senhor, vai pedir votos para Vanderlan?

Balestra - Não posso pedir votos para Vanderlan, até mesmo em função do meu passado, do meu comportamento, e de tudo o que aconteceu na convenção. Tenho que ficar com os meus companheiros. Agora, não sei se a legislação permite que eu peça votos para Marconi. Se ela permitir, eu pedirei.

O senhor ficou magoado com o governador Alcides Rodrigues? Em algum momento ele foi desleal?

Balestra - Quem assistiu à convenção viu como ela foi realizada. O livro de ata não apareceu, a relação de delegados com direito a voto foi feita na última hora, e (o livro) apareceu na mesa com a substituição de muitos companheiros que sempre foram do diretório. Eu diria que a convenção se deu de forma acintosa. Nossos comandantes lá dentro fazendo toda forma de pressão, colocando o dedo no nariz e exigindo aos delegados que votassem em aberto para averiguar se votariam como pediram alguns. Mas isso são águas passadas. O que importa é que já temos os candidatos já colocados e o time começa a se movimentar. Temos que alcançar a vitória. E espero que todos se deem conta que a água do rio corre para o mar. Vamos esquecer o passado e lutar para eleger o candidato da preferência de cada um.

Alguém chegou a chamá-lo de “traidor” na convenção?

Balestra - Ninguém conhece um ato meu de deslealdade. Todos são testemunhas do meu comportamento como cidadão e político. Isso é resultado do meu comportamento. Nunca deixei de considerar meus companheiros, de ter atenção com aqueles que fazem política e respeitar os meus adversários. Agora, se eu tenho uma posição contrária, devo ser respeitado. Assim como respeito os demais. As pessoas que fizeram esses gracejos não têm mandato e responsabilidade política. Deve ser algum pau-mandado que ganha para bater palma e fazer barulho. As pessoas que têm responsabilidade sabem quem eu sou. Peço a Deus que dê àqueles que fizeram gracejo mais consciência, para que não cometam enganos como esse no futuro.

O senhor disse que só voltaria ao cenário político no dia 16, mas pelo visto resolveu adiantar o seu retorno. O que ocorreu?

Balestra - Retornei porque ontem (domingo, 11) era aniversário da minha mãe. No período em que estive ausente, evitei telefonemas. E voltei porque já me sinto revigorado. Os companheiros cobram minha participação na organização da campanha a deputado federal. Temos uma disputa pela frente e eu tenho que indicar o coordenador de campanha e dividir as demais tarefas. Eu tinha um aliado que fazia esse serviço, mas ele agora está cuidando da candidatura do Vanderlan. Então tenho que cuidar disso o mais rápido possível.

O que há por trás da candidatura de Vanderlan?

Balestra - O que há eu não sei. Sei que a eleição está polarizada entre dois candidatos que têm passado e experiência muito grande. Basta ver as pesquisas para constatarmos que esses candidatos polarizam a campanha e dificilmente sobrará espaço pra uma terceira candidatura.

Como será o seu relacionamento com o prefeito de Inhumas, Abelardo Vaz, que era seu aliado e hoje coordena a campanha de Vanderlan?

Balestra - Eu o respeito. Sua decisão não mudará o conceito que tenho formado sobre ele. Trata-se de um político de futuro, dono de um comportamento exemplar, e que naturalmente me sucederia como deputado federal. Espero que a campanha não interfira em nosso relacionamento. As eleições passam e nós continuaremos a carregar uma responsabilidade muito grande com o futuro de Inhumas – ele como prefeito, eu como deputado. Espero que, daqui até as eleições, tenhamos nos encontrado para resolver problemas políticos de Inhumas. Mas não acredito no nosso rompimento. Temos uma relação de amizade e respeito muito grandes.

Uma das primeiras visitas que o senhor recebeu após a convenção foi de Marconi. O que vocês conversaram?

Balestra - Fiquei agradecido pela atenção que ele teve comigo indo a Inhumas depois de uma convenção tão tumultuada, apresentar-se como um amigo e dizer que está à disposição. Marconi me convidou a participar da coordenação política da campanha. Agradeci, e disse a ele que iria fazer uma reunião com os companheiros para decidir qual caminho deveria tomar. Antecipadamente, já disse a ele que não aceitaria porque nunca tive vocação pra esse tipo de trabalho. Durante todos esses anos, nunca participei da coordenação de nenhuma campanha, mas se for possível farei a indicação de alguns companheiros para estar com ele na campanha. É uma forma de dar respostas aos companheiros do interior que sempre querem saber qual relacionamento temos com o governador ou candidato a presidente da República. Então vou indicar alguns nomes.

Com quantos prefeitos o senhor conta hoje em sua nova empreitada? O senhor já está fazendo campanha?

Balestra - Político não para. Alem dos companheiros tradicionais, alguns outros estão agora se somando à nossa legião. Vou me limitar apenas a dizer que tenho alguns companheiros prefeitos e espero que esse número aumente um pouco mais.

O que dizem esses prefeitos sobre a convenção?

Balestra - Todos ficaram surpresos porque assistiram e foram vítimas de muita pressão lá dentro. Agressões verbais, exigências, promessas de porrete, muita coisa. Mas isso só aumenta a distância dos companheiros com relação aos dirigentes do partido, e isso de certa forma favorece outras candidaturas. Porque se a pessoa está machucada, ofendida, dificilmente ela vai mudar para ficar com aquele candidato.

O que o senhor faria diferente se estivesse no comando do PP?

Balestra - Primeiro ouviria os companheiros. Promoveria o diálogo. Segundo: o diálogo. Terceiro: o diálogo. Quarto: o diálogo. Diálogo, diálogo, diálogo. E teria consideração pelos companheiros. Política é para todos, não é particular, então tenho que me posicionar a favor da comunidade e dos companheiros. Em todos os municípios há as pessoas que gostam de fazer política. Essas pessoas devem ser ouvidas, e não apenas aquelas que eu conheço. Isso não existe. Foi o que aprendi com meu avô. E lamentavelmente, a direção do partido se fechou entre amigos que não têm peso político para dar sustentabilidade a uma eleição.

O senhor gostou da coligação proporcional firmada entre PP e PR para deputado federal?

Balestra - Vamos ter muita dificuldade. Se tivéssemos um chapão, faríamos 12 deputados federais.

Hoje acredita que fará quantos?

Balestra - Se muito, dois.

Quem o senhor vai apoiar para presidente esse ano?

Balestra - Eu não tenho dúvida, apoiarei o Serra. A direção nacional do partido liberou os militantes para apoiarem quem preferirem. Não há verticalização, como houve em eleições anteriores.

Que propostas não devem faltar no plano de governo de quem quer ser governador?

Balestra - Acho que a economia do Estado avançou, mas é preciso consolidar o crescimento. Sempre vi com bons olhos as propostas para criação da escola de tempo integral, sem a educação é muito difícil consolidarmos um Estado. Acho que uma escola de tempo integral, mas não um arremedo. Escola em sua totalidade, pra que o aluno fique todo o tempo lá e tenha a sua disposição tudo que for necessário.

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