quinta-feira, 8 de abril de 2010

Goiânia: problemas se agravam!






ARTIGOS

Goiânia não pode virar um Rio

“Cai água, cai barraco/ Desenterra todo mundo/ Cai água, cai montanha/ E enterra quem morreu. É sempre assim todo verão/ O tempo fecha, inunda tudo/ É sempre assim todo verão/ Um dia acaba o mundo todo...”

O trecho acima é da canção Cai Água Cai Barraco, composta pela banda Biquíni Cavadão e conhecida na voz deles e dos Paralamas do Sucesso. Foi ela que me veio à cabeça diante das tristes notícias sobre o Rio de Janeiro.

A música conta uma tragédia que tem um cenário carioca, mas remete a um problema nacional. Arriscaria dizer que não há nada mais precário em termos de políticas públicas no País do que o tratamento dado às áreas de risco. Mas isso vai além: não há nada mais atrasado do que o planejamento dos governos para enfrentar a questão das águas e das chuvas. E mais longe ainda: a crescente priorização do automóvel tem culpa nisso.

Não é preciso olhar para a catástrofe desta semana no Rio de Janeiro nem para o início de ano aquático que São Paulo viveu. O problema real está ali na esquina, ali na T-9, ali de frente ao Fórum, ali na Marginal Botafogo, ali na Vila Roriz. Coitados dos cariocas e dos paulistanos? Não, coitados de todos nós.

Leis para Goiânia tentar viver em harmonia com as chuvas existem. Está no Plano Diretor, artigo 128: cada lote da cidade, na chamada Macrozona Construída, deveria ter pelo menos 15% de área permeável, ou seja, com terra ou grama. Isso já ajudaria a vazão das águas. Mas a própria Prefeitura admite a dificuldade de fiscalizar. O problema acaba tendo um fundo político, já que gastar dinheiro com esse tipo de ação não gera voto. Por ironia, o contrário é altamente rentável, eleitoralmente falando: o ato de asfaltar (impermeabilizar o solo) é certeza de sucesso nas urnas.

E, se a pavimentação tem seu lado de saúde pública, significa em grande parte uma concessão de mais espaço ao automóvel. Em um País e uma cidade onde todo mês se quebra recorde de vendas de carros e motos, é obrigatório que se construam mais garagens particulares e públicas e se asfaltem mais metros quadrados para abrigá-los. Terra trocada por concreto.

Lógico que no caos das chuvas, há um quê de falta de educação ambiental, saneamento, manutenção de galerias e ineficiência na coleta de lixo. Mas, no fim, o carro que boia na enxurrada também tem responsabilidade por esse acontecimento.

É urgente que o poder público adote medidas rigorosas nas duas pontas que se unem: o excesso de carros nas ruas (fato causado também pelo péssimo serviço de transporte) e a impermeabilização do solo. Enquanto isso não ocorre, Goiânia vai virando um rio. Por enquanto, com letra minúscula.

Elder Dias é jornalista

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