quinta-feira, 8 de abril de 2010

Médico: um profissional injustiçado!


 


ARTIGOS

Carga horária dos médicos

Já virou rotina termos nos jornais fatos relacionados à medicina. Comumente para se levantar estatísticas estarrecedoras de gripe, dengue, Cais lotados, déficits de profissionais, falta de UTI, erro médico. Mas me pergunto: por que nunca se explora o lado do médico?

A impressão é de que somos uma cambada de vilões mercenários, cegos à lama de tristeza que é a nossa medicina pública. Em verdade, convivemos com as faltas de medicação, de vagas em UTI, de laboratório, de maca para exame, de cadeira, de banheiro decente, de material cirúrgico, de segurança, de ambulâncias, em suma, de condições mínimas de exercer nosso trabalho.

Repudio quaisquer atitudes antiéticas, não profissionais ou que impliquem em desrespeito às leis ou aos contratos vigentes. E não aspiro também justificar a conduta dos que burlam as regras com os “esquemas de plantão”, mas o não cumprimento de carga horária tem gênese. O seu DNA se chama insatisfação remuneratória e condições indignas para o trabalho. Ou alguém acredita que um salário de um médico concursado no Estado, de R$2.187,00 por 20 horas semanais, é atraente? E o que dizer do valor pago pelo município de Goiânia, de R$1.114,00 reais? Mesmo que haja adicional, seja por insalubridade ou produtividade, não condizem com a função social, responsabilidade e riscos inerentes da profissão. Isto explica o número irrisório de especialistas inscritos nas seleções mais recentes.

São muitos anos de estudos, treinamento e formação. De nós é cobrada uma atuação exemplar, proba, ética, sem chances de erro. Somos exigidos, em todos os sentidos e a todo momento nos consultórios, nos hospitais, nos Cais, na mídia, nos tribunais (como peritos ou réu) e nos diversos setores da sociedade. Somos diuturnamente vigiados e julgados pelos olhos e mentes do cidadão à nossa frente, dos familiares, da imprensa, dos advogados, do nosso Conselho, pelos nossos próprios colegas. Somos até igualados (não sei quem inventou isto) a sacerdotes.

Hoje o médico vive em constante tensão. Transformaram seu paciente em cliente e por fim em consumidor. Já não sabemos se devemos fazer o que aprendemos ou o que nosso advogado diz. Estamos jogando na defensiva. Mas as contas vencem. Temos família também. Muitos buscam uma solução acumulando empregos, na expectativa de somar dividendos. Mas o dia tem 24 horas para o doutor também. Daí a comum idéia de cumprir uma carga menor e correr para o outro serviço. Fico triste em admitir, mas está se fazendo da profissão médica uma somatória de bicos.

Júlio Resplande é mestre e doutor em Urologia

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