sexta-feira, 9 de abril de 2010

Torcida pelo Brasil!


 


ARTIGOS

Futebol e política: amor e ódio

A agenda política, querendo ou não, determina o ritmo do andamento da sociedade. Assim como a Copa do Mundo de futebol afeta agendas e eventos países afora. A eleição do Poder Executivo, seja municipal, estadual ou federal, é o grande momento da democracia de um País. E, em um ano de eleições para presidente e governador, a analogia entre futebol e eleição cabe bem, e pode esclarecer como as influências são benignas e, ao mesmo tempo, malignas.

O eleitor e o torcedor se assemelham em vários pontos. Na política ou no esporte, o brasileiro é passional. Ele assume posições de defesa que muitas vezes foge do racional e da reflexão, deixando-se levar pelo emocional. A defesa do partido ou do time ganha força que sobrepõe o debate sério das necessidades reais de cada situação.

O candidato não pode ser idolatrado, mas sim analisado em todos os aspectos – cobrado pelo seu passado ou projeto futuro. A passionalidade deve ser colocada de lado, pois o mandato no Executivo dura longos quatro anos e não 90 minutos de uma partida de futebol.

Como se vê, as diferenças destes dois polos podem ser também gritantes. Uma partida de futebol tem a mágica de envolver a Nação, unir o País, fazer pensar que somos os melhores do mundo. O futebol é uma marca do Brasil, marca que eleva a estima do País. Os partidos e os políticos caminham em direção contrária, infelizmente. Em vez do envolvimento, tem-se a repulsa, a decepção, e um nível de corrupção que faz o brasileiro sentir que nosso mundo político está entre os piores do mundo. Ou seja, cada vez mais nossa Nação ama o futebol e odeia a política.

Um treinador ou técnico que vê seu time perdendo tem de fazer mudanças urgentes – ou no time, ou na tática. Não adianta ter pensamento positivo e achar que sua torcida ganhará o jogo. É preciso agir. Qualquer torcedor sabe disso. Na política não é diferente. Temos de passar para o plano da ação, com equilíbrio e sensatez, mas é preciso agir e não ficar e esperando, com pensamento positivo, para ver o que vai acontecer.

Assim, temos de ter muito cuidado com as e ideologias que advogam o pensamento positivo como solução dos problemas. Muitas vezes o que falta às pessoas é coragem para mudar. Mas entenda que o voto consciente é melhor forma de redirecionar o rumo deste País.

As mudanças estarão cada vez mais distantes se não houver envolvimento da sociedade com as eleições. É hora de transformar, revisar e incentivar a reflexão. A omissão e a participação passional favorecem os maus políticos, os indignos de nos representar.

Espero que, neste ano, o Brasil conquiste vitórias em campo e também na política.


Rivas Rezende é empresário e vice-presidente da Adial Brasil


Quem teme o voto facultativo?

Entre os políticos brasileiros que se acostumaram a conseguir seus desígnios com os golpes da malandragem e da esperteza, falar em voto facultativo é como mencionar corda em casa de enforcado. São eles que se formam na primeira fila da resistência à proposta de voto não obrigatório, discernido e exigente. São eles também os que mais resistem a uma exemplar reforma do sistema político-eleitoral, esta que continua sendo tão protelada.

No Brasil, pode-se votar facultativamente entre 16 e 18 anos e, a partir dos 18 anos de idade, o voto é obrigatório. Sempre achei essa obrigatoriedade fator que compromete a qualificação do voto, pois, se fosse voluntário e espontâneo, seria mais exigente e muito mais lúcido. O cidadão usaria a sua arma cívica de modo muito mais judicioso e esclarecido, buscando inspiração no seu fervor cívico.

Sem a obrigatoriedade que vigora no Brasil, mas de 200 milhões de eleitores norte-americanos estão alistados também por força da própria vontade. Desse total, foram às seções eleitorais, em 2008, quando o presidente Obama foi ungido pelo voto, 66,55%. Porcentual que não fica muito distante dos votos efetivamente válidos em eleições brasileiras, para as quais o voto é obrigatório.

Por comparação, fiquemos com o exemplo das eleições brasileiras de 2006, para a Presidência e para o governo do Estado, vejamos os porcentuais que se seguem. Na eleição presidencial, 1º. turno: 16.75% de abstenções, 2.73 de votos em branco, 5.68 de nulos. Total: 25.16%. No segundo turno, 18.99% de abstenções, 2,73% de votos em branco e 4.71% de nulos. Total: 25.02%. Na eleição para governador, 1º. turno: 17.14% de abstenções, 2.18% de votos em branco, 5.84 de votos nulos. Total: 25.16%. No segundo turno: 20.43% de abstenções, 1.51% em branco e 9,69% nulos. Total: 31.63%.

Se o alistamento e o voto fossem facultativos no Brasil, por se tratar de vontade pessoal, convertida em uma opção cívica, claro que as abstenções não iriam ultrapassar, talvez, a faixa de 5% a 8%. O cidadão se alistaria voluntariamente, não pela impositiva forma que o faz uma espécie de conscrito. E se o fez por querer votar, não faria sentido abster-se, muito menos desperdiçar o voto. Claro também que, compelido por impulso consciente, seu voto seria lúcido, com opção esclarecida, e o destinatário do voto só poderia ser um candidato qualificado.

A sociedade quer que se mantenha o voto obrigatório ou se adote o voto facultativo? Meses atrás,uma pesquisa do Instituto Vox Populi já se encarregou de mostrar que o voto facultativo venceria, com folga, em um eventual plebiscito a respeito. Outro aspecto a se mencionar: essa obrigatoriedade tem um pouco de ficção, pois nunca se soube de algum eleitor verdadeiramente punido por não ter cumprido a obrigação.

Na década de 1990, nove propostas de emenda constitucional revogando a obrigatoriedade foram apresentadas no Congresso, uma delas, por sinal, pelo então senador José Serra, hoje candidato à Presidência.

Mas há um grande número de políticos que nem sequer gosta de ouvir falar nesta questão, como se fosse um tabu. Por que ? Fácil explicar: eles temem um voto mais exigente e judicioso. E não podem ignorar que é preciso ser digno desse voto.

Hélio Rocha é colunista do POPULAR

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