AFONSO LOPES
PRÉ-CANDIDATURAS
Hedmilson Ornelas/Jornal Opção
Marconi Perillo fez do lançamento de sua pré-candidatura a afirmação da modernidade que lhe é peculiar
Marconi larga bem melhor
Se eleição é uma corrida de fundo e de obstáculos, o senador tucano ganhou boa vantagem na largada e se destacou
Pronto, pelo menos do ponto de vista do auê, todos os candidatos estão no mesmo ambiente. Começou com Vanderlan Vieira, o ungido do Palácio das Esmeraldas, seguiu com Iris Rezende ao deixar a Prefeitura de Goiânia e fechou o ciclo agora com o senador Marconi Perillo. Os três estão pré-candidatos dentro dos seus partidos, o PR, o PMDB e o PSDB. Três eventos e três estilos completamente diferentes, que mostram um pouco do que poderá vir por aí.
Vanderlan Vieira protagonizou o lançamento de pré-candidatura com menor densidade e intensidade. Limitou-se a um salão pequeno, dentro de sede de entidade profissional. Foi o que contou com menor público, sem dúvida.
Iris Rezende, no seu velho e vitorioso estilo, promoveu duas festas. A maior delas quando anunciou sua disposição de se candidatar, realizada num grande salão de buffet. A segunda foi ao deixar a Prefeitura. Em ambas, os peemedebistas se juntaram aos petistas. Teve gente pra caramba.
E aí veio Marconi Perillo e acabou com a festa dos outros dois. Fez um espetáculo. Lotou o Centro de Convenções de Goiânia, usou tecnologia para animar a plateia, teve até momento de abertura das cortinas. Um show com direito inclusive de inaugurar na política goiana a transmissão de evento via internet, bem apropriado para seu jeito de lidar com as ferramentas oferecidas pela modernidade.
Se a eleição é uma corrida de fundo e de obstáculos, certamente há que se admitir que o tucano largou bem melhor que seus principais adversários. Não apenas no que se refere à movimentação no local do evento, mas especialmente, e aí é que conta pra valer, na sua repercussão. No fim, os eventos de Vanderlan, Iris e Marconi revelaram as características e situações atuais das suas candidaturas. Vanderlan com suas conhecidas limitações de movimentação, Iris com seus exércitos inflamados, e Marconi com extraordinário fôlego para mobilizar e sintonizado com a tecnologia.
É óbvio que, como corrida de longa distância e cheia de obstáculos, a eleição não está definida a partir do lançamento das pré-candidaturas. Isso tudo foi somente a primeira de inúmeras disputas que ainda vão acontecer entre as forças eleitoralmente conflitantes. Há ainda muito mais para se ver até que, no final, em outubro, o vencedor se destaque para governar Goiás pelos próximos quatro anos.
Então, se é assim, por que todos eles se esforçaram tanto para ganhar terreno que não é decisivo? Simples, numa campanha como essa que se avizinha, e que já está acontecendo aos poucos, cada metro conquistado faz algum tipo de diferença. Para Marconi, por exemplo, o fato de sua pré-campanha ter demonstrado um grau de profissionalismo muito superior ao amadorismo brutal do palaciano Vanderlan e do tradicionalismo dedicado de Iris, pode ter gerado efeitos colaterais sobre a sua perspectiva de vitória, com melhores possibilidades de ganhar adesões até o principal evento da pré-campanha, as convenções partidárias de junho.
Os três eventos também mostraram os discursos que cada grupo prepara para levar ao eleitor. E aqui também a vantagem inicial parece ser de Marconi Perillo. O candidato republicano, Vanderlan Vieira, não conseguiu até agora formular absolutamente nenhuma linha de ação nesse aspecto. Não demonstrou veia governista, como seria natural, e também não é oposicionista, por razões pra lá de óbvias.
Essa condição atual de Vanderlan deve preocupar os principais neurônios do Palácio. Sem um candidato disposto a sacrificar-se em defesa das ações de um governo que chegará a outubro apenas dois meses antes do fim, as Esmeraldas correm o sério risco de se transformarem em cacos de vidro verde diante de Iris Rezende e Marconi Perillo.
Iris já coloriu uma parcela de seu discurso com o tom oposicionista, mas ainda não deve ser essa a postura definitiva para o decorrer da campanha. Ele atacou o governo atual fazendo uma ginástica logística para atingir o verdadeiro adversário, Marconi Perillo. O problema disso aí é que o eleitor não gosta de fazer tantas contas de cabeça para concluir as coisas. Ele prefere mais comodamente o discurso direto, tipo sim/sim, não/não.
Essa formatação do discurso de Iris poderia atingir plenamente a meta, mas precisaria de muito tempo para ser completamente assimilada pelo eleitorado em geral. Como o PMDB ficou quatro anos rondando o bem-bom palaciano, sem exercer o papel oposicionista, agora não tem mais tempo para esse posicionamento de bater no Palácio com viés anti-Marconi. Na verdade, a crise entre a cúpula palaciana e Marconi, e o governismo gentil do PMDB, permitiram ao tucano também se exibir com a bandeira oposicionista. É um rompimento que se ajusta aos dois discursos sem maiores problemas.
E esse é mais um ponto em favor do tucano neste início de disputa. No show multimídia do lançamento de sua pré-candidatura, Marconi foi praticamente impecável. Além da mise-en-scène do espetáculo, os discursos foram provavelmente colocados sob um roteiro: começou com palavras de incentivo à candidatura e à liderança do tucano, seguiu para a pancadaria bruta contra as forças palacianas e culminou com Marconi se apresentando com um tom seguro, firme, até com certa candura, mas com um conteúdo demolidor. O discurso dele teve, digamos, certo pendor guevariano, duríssimo, mas sem perder a ternura na forma como foi apresentado.
Ao fim do primeiro grande ato da campanha a conclusão é que Marconi, apesar de não contar com a força de nenhum palácio — a Prefeitura e a Presidência da República apóiam Iris, e o governo estadual sustenta Vanderlan — conseguiu manter a vantagem política que as pesquisas lhe apontam eleitoralmente. Na corrida sucessória, ele largou melhor.
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