MARCONI E IRIS
Ninguém quer 2º turno
O que tanto assusta os dois principais candidatos ao governo de Goiás, que vão se esforçar para definir a eleição num único turno
AFONSO LOPES
É um princípio bastante democrático. Desde a Constituinte de 1988, ninguém é eleito prefeito, governador ou presidente da República sem contar com o aval de pelo menos metade do eleitorado, mais um voto. Ou seja, para ser eleito, é necessário somar mais votos do que todos os adversários. E isso pode acontecer em um ou dois turnos. No primeiro, todo mundo vai para a disputa. Se ninguém conseguir a maioria dos votos, então os dois mais bem votados partem para o desafio final. Quem chegar à frente, se elege. O outro morre na praia.
Para os eleitores, nada é tão bom e democrático quanto os dois turnos previstos pela legislação atual. Até 88, era muito comum prefeitos e governadores serem eleitos com apoio de pouco mais de um terço dos eleitores. Isso ocorria porque a maioria representada pelos outros dois terços do eleitorado se dividia em duas ou mais candidaturas, mesmo quando saiam de um único nicho político-eleitoral. Com os dois turnos, isso, pelo menos em tese, acabou. Ganha a maioria, literalmente.
Democráticos para o sistema eleitoral e político, os dois turnos são uma tremenda complicação para os candidatos. Quando a eleição não se define no primeiro turno, os dois finalistas precisam negociar geral para construir a maioria de votos. Isso, na prática, representa quase que uma nova eleição, totalmente independente da primeira. Se viradas eleitorais são difíceis de serem construídas no primeiro turno, no segundo a situação pode mudar bastante.
Além desse fato, o jogo algumas vezes bruto visando à maioria dos votos, o segundo turno é uma campanha de tiro rápido e de enorme desgaste, em todos os sentidos. Tanto o elementar esforço físico como o emocional. Sem falar que as coligações discutidas e consolidadas durante meses sofrem repentinas mudanças estruturais, incorporando forças novas e que até então eram adversárias.
Meta é primeiro turno
Nas eleições presidenciais, os dois grandes candidatos, José Serra, do PSDB, e Dilma Roussef, do PT, estão absolutamente convictos de que a parada entre eles não será definida em um único turno. Em Goiás, o senador Marconi Perillo e o ex-prefeito Iris Rezende vão fazer o possível para vencer sem a necessidade de dois turnos. Ambos estão focando a vitória de imediato, e há grande expectativa de que isso possa realmente acontecer.
A chave para os dois turnos poderá ficar nas mãos e na candidatura do ex-prefeito de Senador Canedo Vanderlan Vieira. Com apoio da cúpula palaciana, Vanderlan forçará a realização de dois turnos este ano caso consiga deslanchar. Por enquanto, ele não representa um perigo tão sério assim. Nas pesquisas atuais, ele soma menos de 5% das intenções de voto. Para provocar pelo menos o segundo turno, terá que triplicar seu patrimônio atual. Não será fácil, mas evidentemente que não é algo impossível.
Iris e Marconi estão absolutamente polarizados e praticamente empatados. Nas pesquisas, os dois somam 95% das atuais intenções de voto definidas momentaneamente. Isso significa que Vanderlan só terá espaço para crescer se conseguir seduzir eleitores que neste momento optam por Marconi ou por Iris. É um problemão para Vanderlan, sem dúvida. Iris e Marconi são as duas maiores lideranças eleitorais históricas de Goiás, e tirar eleitores de qualquer um deles não é simples.
Vanderlan também vai se deparar com o empenho de Iris e Marconi pela definição da disputa em turno único. Para ambos, a vitória sem necessidade do segundo turno é fundamental e tranquilizadora. Não somente para evitar qualquer possibilidade de surpresas num turno final, como para montar a equipe administrativa sem mudar qualquer projeto original.
Há outro ponto que preocupa Iris e Marconi. Caso se confirme a candidatura de Vanderlan até o final: as bases do republicano podem se dividir num segundo turno. Sabe-se, por exemplo, até por inúmeras declarações de suas lideranças, que o PR não é unânime entre Iris ou Marconi. Em Goiânia, os republicanos são claramente favoráveis ao peemedebista, mas no interior existe uma forte corrente que defende a candidatura tucana. Num segundo turno, unir essas correntes exigiria pesadas negociações.
O PP também não ficará unido totalmente. As bases são francamente marconistas, mas a cúpula alinhada com o Palácio das Esmeraldas é absolutamente adversária, e certamente ficará com os iristas num eventual segundo turno.
Por fim, um segundo turno vai demandar um grande esforço também nos custos de campanha. Manter a militância das chapas proporcionais em atividade não é coisa simples. Após as eleições dos deputados estaduais e federais há sempre uma tendência natural de acomodação. Mover esses exércitos cansados pela guerra proporcional pode ser decisivo no turno decisivo.
Somando todos esses detalhes tão importantes, e certamente o principal deles, a indefinição, Marconi e Iris vão fazer tudo o que puderem para vencer as eleições deste ano sem necessidade de segundo turno. Pior para os seus adversários. Poderão viver uma campanha espremidos entre os dois grandes. Vanderlan quer, pelo menos, sobreviver. Se conseguir, aí ele tentará se tornar definitivo.
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