terça-feira, 4 de maio de 2010

Onde está o governo?







ARTIGO

Ainda a infraestrutura

Voltar a tema já abordado não é exagero ou falta de assunto. Neste caso, reflete o péssimo momento vivido pelo Estado em razão de problemas crônicos de infraestrutura nos setores de rodovias e de distribuição de energia elétrica. Ambos, pela lastimável situação em que se encontram, motivam críticas e despertam preocupação de empresários, produtores agropecuários e de milhares de pessoas que transitam ou perdem a novela na TV por causa de “apagões”.

Quanto às estradas, não é de agora que sucedem reclamações sobre as GOs. Não é novidade para mais ninguém, nem mesmo para os que não viajam com frequência, que nossas rodovias asfaltadas perderam a eficiência que chegaram efetivamente a ter, quando eram boas e permitiam o escoamento da produção e o trânsito fluente.

O ribombar de reclamações e as fracas e imprecisas justificativas do governo revelam, além da boa vontade demonstrada em tentar reverter o quadro, a ausência de planejamentos abrangentes. O que configura, ainda, gestão de qualidade duvidosa, visto que não se dá à questão rodoviária o tratamento que merece, deixando milhares de toneladas de cargas ao deus-dará.

Assemelha-se a uma ópera bufa, que toca, toca, faz gracejos, mas a lona do circo, furada, não protege a plateia. As rodovias estaduais pavimentadas e não cuidadas como deveria, se esburacaram como nunca. Ficando claro, por isso, que são vítimas quase fatais da inércia governamental. Além das pavimentadas, existem ainda as de terra, que embora ostentem a sigla GO, sendo da alçada do Estado, há muito pedem melhor tratamento. Somam 11 mil km, mais que os 9,5 mil km pavimentados, dos quais metade pede socorro.

O custo-Goiás, portanto, em especial para produtos agrícolas, ascende às alturas, notadamente no Sudoeste, onde as precariedades são maiores. À questão rodoviária alia-se outra de igual potencial negativo e também preocupante porque interfere na economia e tem nítida dimensão social.

É a distribuição de energia elétrica pela estatal Celg-D, cujas dívidas de R$ 6 bilhões a impedem de realizar investimentos em ampliação e melhorias. Fato que levou o sistema a um estágio do qual já se enxerga o caos muito próximo, quando os apagões não puderem mais ser contornados e o desenvolvimento ficar barrado pela indisponibilidade energética.

As quedas de energia assumem proporções alarmantes. Deixam ao mesmo tempo dezenas de cidades sem luz. Há aumento imoderado dos desligamentos sem programação, provocados por motivos técnicos relacionados às condições das redes distribuidoras, as quais denotam evidente carência de investimento.

O binômio energia/rodovia foi outrora o que mais resplandeceu no processo de desenvolvimento do Estado. Foi capaz de suportar as fases mais agudas do crescimento e de apoiar a transposição de Estado monocultor para Estado industrial e produtor agropecuário. Os serviços essenciais de transporte e de energia elétrica tinham confiabilidade junto à população e aos investidores.

São razões que estão a indicar novas posturas em relação à elaboração de programas de governo, os quais devem primar pelo encaminhamento de soluções plausíveis para essas duas magnas questões, que já afetam o crescimento econômico e o desenvolvimento social, nas suas etapas mais sensíveis.

O governo não conseguiu executar programas mais amplos de recuperação de estradas. O Terceira Via, da gestão anterior, se atrofiou. Sempre escudado na escassez de recursos financeiros ficou o Estado à deriva, sem sequer ver mitigada a crítica situação.

Fazer manutenção rodoviária implica trabalho preventivo, aquele que impede a degradação. Por outro lado, construir rodovia de baixa qualidade – muitas vezes por razões de concorrência e preço – deveria ser proibido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), órgão fiscalizador, antes que o dinheiro público fosse jogado fora.

Assim, não se teria, como agora, a rodovia entre Santa Helena e Rio Verde, implantada há quatro anos, totalmente esburacada. Há trechos onde o asfalto sumiu. Os investimentos previstos para os próximos anos no Estado, de R$ 32 bilhões, poderão ficar só nas intenções, caso não se dê novo rumo e não se corrija a tempo a decadência rodoviária e energética. Não porque os empresários se safarão. Mas porque, mais grave ainda, não contarão com os dois fatores básicos do crescimento.


Henrique Duarte é jornalista

Nenhum comentário:

Postar um comentário