POLÍTICA
Cileide Alves
Novo desafio para os tucanos
A semana passada foi particularmente tensa para o senador Marconi Perillo (PSDB). Já no domingo à noite, ele iniciou um embate duplo com o ex-prefeito Iris Rezende e com o governador Alcides Rodrigues (PP). Fez duras críticas a Alcides, o que pessoalmente vinha evitando na esperança de restabelecer a antiga ligação PP–PSDB. De 13 mensagens postadas em seu Twitter (microblog) naquela noite, oito foram contra o governo, onde, segundo Marconi, reinam absolutas “a inoperância e a incompetência”, além da “deslealdade”. Os demais cinco posts criticavam Iris.
Na segunda-feira, o governador não respondeu no mesmo tom, mas fez uma provocação ao dizer que estava trabalhando “para entregar um governo sem dívidas ao sucessor”, se referindo, mais uma vez, ao assunto que mais irrita os tucanos, o déficit de R$ 100 milhões entre receita e despesas e as dívidas do Estado. O debate continuou e, na terça-feira, Marconi rebateu novamente no mesmo tom irado do domingo: “Governante não pode ficar sentado na cadeira, na preguiça, na letargia, na incompetência”. Depois dessa, Alcides elevou um pouco seu tom e insinuou que a reação de Marconi seria típica de “candidatura que está afundando”.
Paralelamente ao enfrentamento com Alcides e, em menor intensidade, com Iris, Marconi envolveu-se em uma polêmica com a senadora Lúcia Vânia. A senadora desabafou quinta-feira que “cansou de ser humilhada” depois que o deputado Carlos Alberto Lereia (PSDB) propôs que o suplente de senador, Antônio Faleiros, fosse o candidato a senador no lugar dela. O pequeno PPS também se candidatou à vaga. Como o PPS é mais que um aliado de Marconi, é seu seguidor político, as duas indicações foram interpretadas por Lúcia como parte do mesmo jogo: ação dos marconistas para “desqualificar” seu trabalho e rifá-la da chapa tucana.
A relação entre Lúcia Vânia e Marconi sempre foi conturbada, nunca houve sintonia. Aliás, mais do que isso: um não gosta do outro, apenas se suportam. Os tucanos reclamam que Lúcia não facilitou as coisas. Dizem que ela não se envolve nos eventos do partido, que não veste a camisa tucana e que anda com os inimigos e fala mal dos amigos do PSDB. Diante disso, claro que não há na maioria marconista o menor interesse em manter sua vaga à reeleição. Além desse fator, o PSDB quer dispor da vaga de Lúcia para negociar com possíveis aliados.
O partido tem todo direito de negociar a chapa majoritária e de reclamar das atitudes da senadora, mas não foi elegante na forma. Ao deixar o deputado Lereia, conhecido por sua pouca sensibilidade, sugerir o suplente como candidato a senador em substituição à titular, o PSDB deu margem para Lúcia se sentir “desqualificada”, “desrespeitada”, “humilhada”, enfim, como vítima, situação que tanto irritou o núcleo duro do PSDB. Por mais que o partido tente reduzir sua importância, esse episódio, somado ao embate com governistas e peemedebistas indica o nível de estresse que Marconi vive às vésperas do lançamento de sua candidatura, marcado para esta sexta-feira.
Por mais que os tucanos repitam um discurso otimista, embalado pela liderança do senador nas pesquisas eleitorais e pela memória de seus dois governos, o fato é que Marconi vive um dos momentos mais delicados de sua carreira desde que venceu o imbatível Iris Rezende, em 1998. O exercício do poder cria desgaste, ainda mais para quem ficou por dois mandatos consecutivos. Assim como ocorreu com Iris, que perdeu apoiadores que se uniram contra ele em 98, os aliados de Marconi se reduziram. Independentemente das causas, o senador perdeu aliados importantes, que também se uniram contra ele. Sem falar na desconstrução de sua imagem por parte de seus adversários, fato que interfere na construção do discurso eleitoral marconista.
Em 1998, havia em Goiás uma demanda por renovação, o PMDB dava sinais de esgotamento e os ex-companheiros de Iris se uniam à oposição. Com uma campanha eficiente, Marconi conseguiu encarnar o desejo de renovação do eleitorado. Neste 2010, a demanda da sociedade já não é a mesma, o PMDB se fortaleceu, Marconi não é mais o mesmo, não tem a seu favor a mesma popularidade de 2006, alavancada pela imagem positiva de seus governos, nem tem uma base político-partidária consistente. Para complicar, diferentemente do que sucedeu a Iris em 98, ele enfrenta um forte adversário. Naquela eleição, Iris começou a campanha com quase 70% da preferência do eleitorado. Agora, o líder Marconi tem 43,7% dos votos contra 39,9% de Iris, segundo a última pesquisa Serpes/O POPULAR.
Pelo visto, o grande desafio de Marconi a partir do lançamento de sua candidatura, nesta semana, será o de encontrar um eficiente discurso para ajudá-lo a enfrentar e a superar essas dificuldades. Pelas declarações dos tucanos, compreende-se que a estratégia da campanha será enaltecer o legado dos dois governos de Marconi, desqualificar a gestão “inoperante e incompetente” de Alcides e reforçar o perfil oposicionista de Marconi em relação ao governo para convencer o eleitorado de que só ele é capaz de retirar o Estado da atual “letargia”.
Essa estratégia será suficiente? O PMDB pode testemunhar que só legado de governo não garante vitória, já que perdeu as eleições de 98 e de 2002 com estratégia semelhante. Ser oposição nem sempre ajuda. O PSDB precisa encontrar um “argumento”, para usar uma expressão do marqueteiro Duda Mendonça, para esta campanha. Se argumento é tudo em uma eleição, como disse Duda, qual será o de Marconi neste 2010? Além de reduzir os estresses acima, o novo desafio do senador será encontrar essa resposta agora que seu partido confirma formalmente sua terceira candidatura a governador.
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