segunda-feira, 12 de julho de 2010

ENTREVISTA






LÚCIA VÂNIA


“Aliança do PP não tem peso eleitoral forte”
Senadora avalia que o PSDB ganhou ao ter um político jovem como José Eliton, do DEM, indicado vice de Marconi Perillo na chapa majoritária

A tucana Lúcia Vânia acredita que a campanha ao governo em outubro pode ser resolvida já no dia 3, com a vitória de seu colega senador Marconi Perillo. "Pela forma do Marconi conduzir a campanha ele tem chances de ganhar no primeiro turno. Ele é muito insistente e determinado. Primeiro pela densidade eleitoral que tem, e depois pela base do PSDB, que hoje é bastante fortalecida", afirma a senadora, que concorre à reeleição.

Lúcia fala também de política nacional e diz que o seu partido tem de mostrar à população que foi o governo de Fernando Henrique Cardoso que criou os programas de assistência social hoje executados pelo PT. A diferença, ela destaca, é que os tucanos tinham foco nos serviços que os programas resultavam, ao passo que o governo Lula prioriza a transferência de renda, que é mais fácil e rende mais eleitoralmente ao PT. "Este governo tem muita dificuldade para operar os programas por que os ministérios estão aparelhados", sentencia. Estes e outros assuntos são temas da entrevista que segue.


Ce­zar San­tos — Co­li­ga­ções fe­cha­das, a sra. che­gou a te­mer que o DEM não se co­li­gas­se com o PSDB?

Tu­do é pos­sí­vel. Nun­ca par­ti do prin­cí­pio que ali­an­ça de uma elei­ção tem que ser a mes­ma da ou­tra. Ca­da elei­ção tem que tra­ba­lhar as ali­an­ças de acor­do com o mo­men­to, com a cor­re­la­ção de for­ças do pró­prio Es­ta­do. Sem­pre en­ten­di que tan­to o PSDB quan­to o DEM ti­nham to­do o di­rei­to de pos­tu­lar can­di­da­to pró­prio, mas cla­ro que tor­ci pa­ra que eles vi­es­sem. Não che­guei a te­mer, ter re­ceio de que não vi­es­sem.

Ce­zar San­tos — A mai­or li­de­ran­ça do DEM go­i­a­no, de­pu­ta­do Ro­nal­do Cai­a­do, de­cla­rou neu­tra­li­da­de, ou se­ja, não vai apo­i­ar Mar­co­ni na can­di­da­tu­ra ao go­ver­no. É um com­pli­ca­dor?

Acho que não. Ro­nal­do tem o es­ti­lo de­le. Ele foi uma pes­soa mui­to de­mo­crá­ti­ca. Nes­se epi­só­dio per­ce­beu que os com­pa­nhei­ros ti­nham a ten­dên­cia de fi­car na ali­an­ça com o PSDB e ele se com­por­tou co­mo um lí­der. Foi mui­to cor­re­to com os com­pa­nhei­ros e te­ve pa­pel im­por­tan­te. Não per­mi­tiu que su­as di­fi­cul­da­des pes­so­ais vi­es­sem a in­ter­fe­rir nos ru­mos do par­ti­do. Acho que a his­tó­ria vai fa­zer jus­ti­ça a es­se ges­to de­le.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A ali­an­ça de ho­je na ver­da­de é bem pa­re­ci­da com a de 1998 e a de 2002. Em 2006 o DEM não apoio o Al­ci­des. Mas ago­ra par­te do PP es­tá com Mar­co­ni. Se­ma­na pas­sa­da con­ver­sei com os oi­to mai­o­res pre­fei­tos pe­pis­tas, to­dos apoi­am Mar­co­ni. Não se po­de des­me­re­cer a cú­pu­la do PP por­que ela é im­por­tan­te, o go­ver­na­dor Al­ci­des é um lí­der po­lí­ti­co qua­li­ta­ti­vo, mas a ali­an­ça es­tá mui­to pa­re­ci­da com as an­te­rio­res, ti­ran­do a de 2006. Vou dar três exem­plos, o pre­fei­to de Itum­bi­a­ra (Jo­sé Go­mes) apoia Mar­co­ni; o de Águas Lin­das (Ge­ral­do Mes­si­as) e de For­mo­sa (Pe­dro Ivo) apoi­am Mar­co­ni, são pre­fei­tos mui­tos qua­li­ta­ti­vos em ter­mos de vo­tos. Es­sa ali­an­ça na re­a­li­da­de não es­tá mui­to li­ga­da em re­la­ção à ali­an­ça de 2006?

Não ve­jo as­sim, tem aí uma no­va ali­an­ça. O PP fez um con­jun­to de ali­an­ças, que até en­tão não ti­nha. O PP en­quan­to par­ti­do tem a dis­si­dên­cia, é ob­vio, po­rém fez um le­que de ali­an­ças que não ha­via an­tes. Ti­nha uma ali­an­ça mais cen­tra­da no PSDB. Ho­je agre­ga três ou­tros par­ti­dos, o PR, o PSD e o PDT, que são os que têm re­pre­sen­ta­ção na­ci­o­nal. Eram até en­tão par­ti­dos de es­quer­da. O PP faz no­va ali­an­ça e o PSDB ad­qui­re par­te do PP, mas o PP par­ti­do tem no­va con­fi­gu­ra­ção.

Ce­zar San­tos — En­tão o PP con­se­guiu im­plan­tar a tal ter­cei­ra via de fa­to na po­lí­ti­ca go­i­a­na?

Ele fez su­as ali­an­ças. Mos­trou que é par­ti­do, quan­do fez no­vas ali­an­ças, mas acre­di­to que elei­to­ral­men­te tem um pro­ble­ma. Es­ses par­ti­dos que fi­ze­ram es­sa ali­an­ça não têm elei­to­ral­men­te um pe­so for­te. Di­go o vo­to par­ti­dá­rio, eles têm uma den­si­da­de elei­to­ral mais bai­xa. Acho que o que di­fe­ren­cia a ali­an­ça do Mar­co­ni é a den­si­da­de elei­to­ral, que é mui­to for­te, den­tre as três cha­pas que es­tão aí. A do Mar­co­ni é dis­pa­ra­da­men­te a mais for­te.

Sa­rah Mohn — A cha­pa go­ver­nis­ta de­po­si­ta as fi­chas no fa­to de Van­der­lan Car­do­so ser uma no­vi­da­de e ci­ta o exem­plo de Mar­co­ni em 1998, elei­to com a mar­ca da no­vi­da­de. Mas co­mo a sra. mes­mo diz, o que ga­ran­tiu a vi­tó­ria há 12 anos foi a den­si­da­de elei­to­ral de to­dos os par­ti­dos ali­a­dos a Mar­co­ni.

Era di­fe­ren­te, o Mar­co­ni era jo­vem, des­co­nhe­ci­do, mas com o gru­po que ti­nha den­si­da­de elei­to­ral já tes­ta­da em elei­ções an­te­rio­res. Es­se gru­po ti­nha dis­pu­ta­do com Ro­ber­to Cu­nha, qua­se ga­nhou; ti­nha dis­pu­ta­do com Cai­a­do e eu, e qua­se ga­nha­mos. To­do es­se pes­so­al atre­lou ao Mar­co­ni. A den­si­da­de elei­to­ral de 1998 foi mui­to mais for­te do que o des­co­nhe­ci­men­to.

Sa­rah Mohn — Só pe­lo fa­to de ser uma no­vi­da­de Van­der­lan tem chan­ces de ga­nhar a elei­ção?

Elei­ção sem­pre é uma sur­pre­sa, mas acho que pe­la ma­te­má­ti­ca é di­fí­cil. Con­se­gui­ram for­mar uma ali­an­ça com no­vos com­po­nen­tes, mas es­sa ali­an­ça não tem a den­si­da­de elei­to­ral que tem a cha­pa do Mar­co­ni.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A ali­an­ça do PMDB com o PT é no­va e di­fe­ren­te. Iris con­se­guiu fa­zer a ali­an­ça que, em­bo­ra não te­nha can­di­da­to a vi­ce, tem can­di­da­to a se­na­dor na cha­pa. E ele, Iris, vem com ima­gem di­fe­ren­ci­a­da de 1998, mo­der­ni­za­da. Foi mui­to bom ges­tor em Go­i­â­nia, in­ves­tiu em meio am­bi­en­te. An­tes era pre­o­cu­pa­do só com a in­fra­es­tru­tu­ra, mas ago­ra fez es­se tra­ba­lho di­fe­ren­ci­a­do. Ele não é pa­ra o Mar­co­ni um can­di­da­to mui­to mais di­fí­cil que o de 1998?

Ad­ver­sá­rio é sem­pre ad­ver­sá­rio, não exis­te nem fra­co nem for­te. Acho que es­se é um em­ba­te que de­man­da acer­to na cam­pa­nha. Quem acer­tar mais le­va mais. Iris, não se po­de ne­gar, tem uma den­si­da­de elei­to­ral ex­pres­si­va, a ali­an­ça com o PT é uma ali­an­ça po­si­ti­va, "mo­der­ni­za" o dis­cur­so, mas das três cha­pas quem vai dar tra­ba­lho é o Mar­co­ni.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Es­sa é uma elei­ção pa­ra dois tur­nos?

Pe­la for­ma do Mar­co­ni con­du­zir a cam­pa­nha tem chan­ces de ga­nhar no pri­mei­ro tur­no. Ele é mui­to in­sis­ten­te e de­ter­mi­na­do. Pri­mei­ro pe­la den­si­da­de elei­to­ral que tem e a ba­se do PSDB, que ho­je é bas­tan­te for­ta­le­ci­da.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O Mar­co­ni de 1998 e 2002 ti­nha pou­cos des­gas­tes. O Mar­co­ni de 2010 tem mais des­gas­tes até por­que pas­sou por uma fa­se de go­ver­no fa­zen­do opo­si­ção a ele. Tem mui­tas crí­ti­cas de que te­ria que­bra­do o Es­ta­do e que o go­ver­no te­ria pas­sa­do cin­co anos ten­tan­do re­cu­pe­rar o Es­ta­do. O PMDB vai in­ves­tir nes­sa te­se de que os dois go­ver­nos do PSDB que­bra­ram o Es­ta­do. O que res­pon­der so­bre is­so?

Vai de­pen­der mui­to do dis­cur­so que vão ado­tar. Eu sou sem­pre adep­ta do dis­cur­so de in­ves­ti­men­to. O PSDB tem to­das as con­di­ções de não acei­tar es­sa te­se. Os re­sul­ta­dos es­tão aí, não há di­fi­cul­da­de em ver is­so. Acre­di­to que ele vai ter con­di­ções de co­lo­car is­so mui­to bem. Não é por aí que vai ser as di­fi­cul­da­des de­le. Não se po­de im­plan­tar um dis­cur­so de uma coi­sa que es­tá acon­te­cen­do ao in­ver­so. O Es­ta­do ho­je cres­ce aci­ma da mé­dia na­ci­o­nal, ge­ra em­pre­go aci­ma da mé­dia de to­dos os Es­ta­dos da Fe­de­ra­ção. Co­mo que com re­sul­ta­dos des­ses, as pes­so­as ven­do o re­sul­ta­do, vão co­lo­car dis­cur­so con­trá­rio? Ne­nhum Es­ta­do cres­ce se não há in­ves­ti­men­to. Es­se dis­cur­so po­de dar con­ver­sa aqui ou ali, mas não tem con­sis­tên­cia.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Qual vai ser o dis­cur­so, o po­si­cio­na­men­to do PSDB em re­la­ção ao go­ver­no Al­ci­des, que tem um can­di­da­to ao go­ver­no?

Do PSDB não sei, não dis­cu­ti­mos is­so. Mas acho que um par­ti­do co­mo o PSDB não tem que fi­car olhan­do pa­ra trás, tem que olhar pa­ra fren­te. Acho que o can­di­da­to que vai ter su­ces­so nes­sa elei­ção é aque­le que ti­ver mais con­di­ções de sus­ci­tar nas pes­so­as a es­pe­ran­ça de que o Es­ta­do avan­ce mais, vá além com com­pro­me­ti­men­to so­ci­al, qua­li­da­de de vi­da. Quem ti­ver es­se dis­cur­so es­tará na fren­te.

Sa­rah Mohn — Já fo­ram de­fi­ni­dos os no­mes de seus ad­ver­sá­rios na dis­pu­ta ao Se­na­do. Es­ses no­mes in­ter­fe­rem em su­as ba­ses elei­to­ra­is?

To­do can­di­da­to tem seu pe­so po­lí­ti­co, sua ba­se elei­to­ral. O que a gen­te tem que fa­zer é tra­ba­lhar mais e mais, é o que vou fa­zer. Acho que to­dos os can­di­da­tos, in­de­pen­den­te­men­te de ter fi­li­a­ção re­cen­te ou não, me­re­cem res­pei­to e po­dem atra­ir a atra­ção do elei­tor.

Sa­rah Mohn — Di­zem que sua elei­ção ao Se­na­do já es­ta­ria de cer­ta for­ma ga­ran­ti­da.

A can­di­da­tu­ra ao Se­na­do es­tá mui­to vin­cu­la­da à can­di­da­tu­ra do go­ver­na­dor. Se o go­ver­na­dor vai bem to­da sua cha­pa vai bem. É mui­to di­fí­cil vo­cê achar que o can­di­da­to ao Se­na­do tem um pe­so di­fe­ren­ci­a­do. Na ver­da­de de­pen­de mui­to da con­du­ção da cha­pa.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A sra. não acha um des­res­pei­to ao Se­na­do lan­çar um can­di­da­to co­mo o Ren­ner (da du­pla Rick e Ren­ner)?

Es­sas coi­sas são pró­pri­as no nos­so sis­te­ma po­lí­ti­co. Acho que a re­for­ma po­lí­ti­ca é fun­da­men­tal, uma re­for­ma que fa­ça al­gu­mas exi­gên­cias pa­ra res­ga­tar a cre­di­bi­li­da­de po­lí­ti­ca. À me­di­da que se for­ta­le­çam os par­ti­dos, res­ga­tem a cre­di­bi­li­da­de dos po­lí­ti­cos, is­so não vai exis­tir. Is­so é pró­prio do mo­men­to que nós vi­ve­mos.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Mar­co­ni es­tá pro­pon­do em seu pro­je­to de go­ver­no a cri­a­ção de 100 es­co­las téc­ni­cas e a trans­for­ma­ção de to­das as es­co­las do en­si­no fun­da­men­tal em tem­po in­te­gral. É im­por­tan­te?

Essa é a gran­de de­man­da des­se mo­men­to. O que te­mos vis­to no in­te­ri­or é um vo­lu­me enor­me de de­man­da por tra­ba­lha­do­res qua­li­fi­ca­dos e uma fal­ta de mão de obra sem ta­ma­nho. Che­gou o mo­men­to que Go­i­ás não po­de ti­tu­be­ar mais em re­la­ção a ca­pa­ci­ta­ção téc­ni­ca dos jo­vens e da­que­les que es­tão in­gres­san­do no mer­ca­do de tra­ba­lho e mes­mo de re­qua­li­fi­car os nos­sos tra­ba­lha­do­res. Es­sas es­co­las téc­ni­cas são mui­to im­por­tan­tes. Em­bo­ra o go­ver­no fe­de­ral te­nha fei­to a sua ex­pan­são e in­te­rio­ri­za­ção, acho que ain­da tem mui­to a ser fei­to. Fo­ram cri­a­das as es­co­las, mas não fo­ram cri­a­das as fon­tes de sus­ten­ta­ção des­sas es­co­las. Te­nho mui­to re­cei­to des­sa ex­pan­são sem uma fon­te es­pe­cí­fi­ca de ma­nu­ten­ção. São es­co­las pe­sa­das, que de­man­dam um vo­lu­me de re­cur­sos gran­de, e acho que se­ria in­te­res­san­te que o Es­ta­do par­ti­ci­pas­se des­sa cri­a­ção. Foi o que o ex-go­ver­na­dor Ge­ral­do Alckmin fez em São Pau­lo de for­ma mui­to in­ten­sa e com su­ces­so ab­so­lu­to. Mar­co­ni es­tá no ca­mi­nho cer­to ao pro­por is­so e se com­pro­me­ter com a edu­ca­ção.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Tem re­cur­so pa­ra fa­zer is­so, 100 es­co­las téc­ni­cas?

Acre­di­to que is­so po­der ser fei­to com par­ce­rias pú­bli­co-pri­va­das. Em São Pau­lo foi fei­to as­sim. Há in­te­res­se enor­me na qua­li­fi­ca­ção des­sas em­pre­sas que vêm pa­ra Go­i­ás. Te­mos em­pre­sas com al­to va­lor agre­ga­do. Co­mo a Per­di­gão, ci­tan­do em­pre­sas li­ga­das ao agro­ne­gó­cio, elas pró­pri­as qua­li­fi­cam, aju­dam e par­ti­ci­pam ati­va­men­te, por­que o in­te­res­se é tam­bém de­las.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A edu­ca­ção tem pas­sa­do por sé­rios pro­ble­mas. Há uma cri­se na Edu­ca­ção?

Es­se pro­ble­ma é na­ci­o­nal, in­fe­liz­men­te é o qua­dro que nós te­mos. Os pró­xi­mos go­ver­nos es­ta­du­al e fe­de­ral pre­ci­sam fa­zer es­for­ço mui­to gran­de no sen­ti­do de res­ga­tar uma me­lhor con­di­ção pa­ra a edu­ca­ção. A ex­pan­são foi mui­to tra­ba­lha­da, mas não ti­ve­mos a con­ti­nui­da­de do tra­ba­lho. O Mi­nis­té­rio da Edu­ca­ção for­ta­le­ceu o en­si­no su­pe­ri­or, mas te­rí­a­mos que in­ves­tir mais na qua­li­fi­ca­ção. In­ves­tiu-se, mas o in­ves­ti­men­to pre­ci­sa ser ain­da mai­or. Não dá mais pa­ra fa­lar em qua­li­fi­ca­ção dos pro­fes­so­res sem fa­lar do pi­so sa­la­ri­al. Foi fei­to um gran­de es­for­ço em Go­i­ás com a UEG no sen­ti­do de pre­pa­rar os pro­fes­so­res, mas is­so por si só não é o su­fi­ci­en­te. E em re­la­ção a re­cur­sos pa­ra o fu­tu­ro acho que o pré-sal vai dar uma res­pos­ta, um no­vo pa­ta­mar pa­ra a edu­ca­ção. En­quan­to is­so não che­ga te­mos que tra­ba­lhar o Fun­deb e dar pos­si­bi­li­da­de dos pro­fes­so­res irem se qua­li­fi­can­do.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O PSDB em Go­i­ás não é de­fi­cien­te em se tra­ta­do de meio am­bi­en­te?

O PSDB tal­vez não te­nha dis­cur­so, mas tem ações e pro­je­tos vin­cu­la­dos. O par­ti­do e seus pen­sa­do­res têm ti­do uma pre­o­cu­pa­ção mui­to gran­de. Tan­to é que o Fer­nan­do Hen­ri­que ti­nha uma par­ce­ria for­te com Ma­ri­na Sil­va. Fi­ze­ram par­ce­rias im­por­tan­tes no Acre, do­na Ruth tra­ba­lhou mui­to a ques­tão dos se­rin­guei­ros.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Não é im­por­tan­te uma can­di­da­tu­ra co­mo a de Ma­ri­na Sil­va pa­ra for­çar is­so?

A Ma­ri­na abriu um no­vo de­ba­te. Tal­vez se­ja o dis­cur­so mais di­fe­ren­ci­a­do e po­de se cap­tar mui­to de hu­ma­nis­mo. O dis­cur­so de­la in­co­mo­da mui­ta gen­te.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Mar­co­ni tam­bém es­tá pro­pon­do tor­nar o Ipas­go um cen­tro de ex­ce­lên­cia e en­tre­gar a di­re­ção aos ser­vi­do­res. O que a sra. acha?

Fer­nan­do Hen­ri­que fez is­so com in­ten­si­da­de, es­te go­ver­no me­nos. Fer­nan­do Hen­ri­que for­mou um gru­po de se­cre­tá­rios exe­cu­ti­vos mui­to for­tes e ho­je gran­de par­te des­ses fun­cio­ná­rios que fo­ram qua­li­fi­ca­dos nes­ses cen­tos de ex­ce­lên­cia são fun­cio­ná­rios que têm car­rei­ra de Es­ta­do. É a for­ma de se pro­fis­si­o­na­li­zar a ad­mi­nis­tra­ção pú­bli­ca. Fa­zer com que re­al­men­te es­sas car­rei­ra de Es­ta­do se­ja per­ma­nen­te. Sai um go­ver­no, en­tra ou­tro e o Es­ta­do con­ti­nua fun­cio­nan­do nor­mal­men­te. E com is­so se evi­ta o apa­re­lha­men­to do Es­ta­do.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Co­mo é ter De­mós­te­nes Tor­res co­mo com­pa­nhei­ro de jor­na­da?

De­mós­te­nes e eu con­vi­ve­mos bem. Te­mos al­gu­mas di­fe­ren­ças e di­ver­gên­cias, ele tem uma vi­são um pou­co di­fe­ren­te da que eu te­nho em re­la­ção a área so­ci­al, di­rei­tos hu­ma­nos, mas te­mos al­gu­mas afi­ni­da­des im­por­tan­tes. Res­pei­to mui­to o tra­ba­lho de­le e ele res­pei­ta mui­to o meu. Na área de­le é um par­la­men­tar mui­to efi­ci­en­te. A gen­te se com­ple­men­ta. Quan­do pre­ci­sei do apoio de­le, sem­pre ti­ve. Em mo­men­to ne­nhum ele se ne­gou a me apo­i­ar na­que­les pro­je­tos que eram de in­te­res­se do Es­ta­do de Go­i­ás. Na ques­tão da mu­lher, na lei Ma­ria da Pe­nha, mes­mo dis­cor­dan­do de um item ou ou­tro, sem­pre res­pei­tou mi­nha po­si­ção. Te­mos tra­ba­lhos com­ple­men­ta­res, apren­de­mos a tra­ba­lhar jun­tos, prin­ci­pal­men­te nas ques­tões de Go­i­ás.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — E es­sa his­tó­ria de que a sra. é uma se­na­do­ra de es­quer­da? Ou é de cen­tro-es­quer­da?

Te­nho cer­ta mo­de­ra­ção em ques­tões que en­vol­vem se­gu­ran­ça pú­bli­ca, dro­gas, mu­lher, as mi­no­ri­as, te­nho uma vi­são mui­to hu­ma­nis­ta. Sem­pre ti­ve mui­ta sen­si­bi­li­da­de com o so­ci­al e is­so não é só dis­cur­so.

Fernando Leite/Jornal Opção
Senadora Lúcia Vânia fala à repórter Sarah Mohn e aos editores Euler de França Belém, Cezar Santos e Danin Júnior: "Falam que sou de esquerda, acho que é porque tenho certa moderação em questões que envolvem segurança pública, drogas, mulher, as minorias, tenho uma visão muito humanista"

“O PSDB criou toda a rede de assistência social”

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — E a es­co­lha do vi­ce?

Fi­quei mui­to en­tu­si­as­ma­da. Jo­sé Eli­ton Jú­ni­or (DEM) é um jo­vem pre­pa­ra­do, ap­to a de­sem­pe­nhar qual­quer fun­ção. É um ad­vo­ga­do com es­pe­cia­li­za­ção em di­rei­to elei­to­ral, fi­lho de um gran­de ami­go meu, Jo­sé Eli­ton de Fi­guei­rê­do, mui­to im­por­tan­te na mi­nha car­rei­ra. El­ti­nho tem uma for­ma­ção e uma po­si­ção mui­to boa, até mui­to pa­re­ci­da com a do pai. Is­so en­tu­si­as­ma qual­quer par­ti­do por se tra­tar de um jo­vem com­pe­ten­te que es­tá ini­ci­an­do sua car­rei­ra. Es­tá en­tu­si­as­ma­do e tem tu­do pa­ra ser uma gran­de re­ve­la­ção. Acho que Ro­nal­do Cai­a­do foi mui­to fe­liz nes­sa es­co­lha e te­mos tu­do pa­ra ter uma cha­pa den­tro da­qui­lo que a gen­te gos­ta­ria.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Qual é o gran­de le­ga­do do Tem­po No­vo?

Não gos­to mui­to des­se slo­gan. Não tem na­da mais for­te do que o atu­al es­tá­gio do Es­ta­do. Um Es­ta­do que se abriu pa­ra o Bra­sil e o mun­do. Go­i­ás é um Es­ta­do que cres­ce aci­ma da mé­dia na­ci­o­nal, ge­ra em­pre­go, e es­tá se mo­der­ni­zan­do, se pre­pa­ran­do, tem su­as uni­ver­si­da­des. Na­da é mais for­te do que a re­a­li­da­de, do que as pes­so­as vi­vem no dia a dia. O Tem­po No­vo es­tá aí pa­ra ser sen­ti­do e vis­to.

Sa­rah Mohn — O se­na­dor De­mós­te­nes Tor­res (DEM) su­ge­riu que o can­di­da­to Jo­sé Ser­ra (PSDB) es­cre­va uma car­ta ao po­vo bra­si­lei­ro se com­pro­me­ten­do a não ex­tin­guir os pro­gra­mas so­ci­ais do go­ver­no Lu­la, as­sim co­mo Lu­la fez aos em­pre­sá­rios em 2002, ga­ran­tin­do que não al­te­ra­ria a eco­no­mia bra­si­lei­ra. O me­do dos bra­si­lei­ros quan­to ao fim dos pro­gra­mas so­ci­ais po­de le­var o PSDB à der­ro­ta?

Ab­so­lu­ta­men­te. Quem cri­ou to­da es­sa as­sis­tên­cia so­ci­al? Nos­so can­di­da­to à Pre­si­dên­cia da Re­pú­bli­ca não pre­ci­sa dar es­sa ex­pli­ca­ção. To­da es­tru­tu­ra da as­sis­tên­cia so­ci­al que ho­je es­tá vi­gen­do foi cri­a­da pe­lo PSDB e é fá­cil de de­mons­trar. Foi o PSDB que cri­ou e im­plan­tou a Lei Or­gâ­ni­ca da As­sis­tên­cia So­ci­al (Lo­as). Nós vo­ta­mos a lei, de au­to­ria do de­pu­ta­do Ju­tahy Ma­ga­lhã­es (PSDB), eu im­plan­tei a Lo­as. Fo­mos res­pon­sá­veis pe­lo sa­lá­rio mí­ni­mo do ido­so e da pes­soa com de­fi­ci­ên­cia. Im­plan­ta­mos o Pe­ti, que foi o pri­mei­ro pro­gra­ma de trans­fe­rên­cia de ren­da. E di­fe­ren­te­men­te do Bol­sa Fa­mí­lia, a Lo­as, que dá um sa­lá­rio mí­ni­mo pa­ra o ido­so e o por­ta­dor de de­fi­ci­ên­cia, é o mai­or pro­gra­ma de ren­da mí­ni­ma da Amé­ri­ca La­ti­na, di­fe­ren­te­men­te do que di­zem do Bol­sa Fa­mí­lia. Tí­nha­mos cri­a­do o Bol­sa Es­co­la, Va­le Ali­men­ta­ção, Va­le Gás, es­ses to­dos fo­ram fun­di­dos pe­lo go­ver­no Lu­la no Bol­sa Fa­mí­lia. Quan­do Fer­nan­do Hen­ri­que dei­xou o go­ver­no já ha­via cri­a­do o ca­das­tro úni­co, que pos­si­bi­li­ta­va es­sa fu­são dos pro­gra­mas so­ci­ais. Quan­do dei­xa­mos o go­ver­no tí­nha­mos 7 mi­lhões de fa­mí­lias aten­di­das, ho­je são 12 mi­lhões. Quan­do sa­í­mos, o Pe­ti ti­nha 800 mil cri­an­ças, ho­je são 750 mil, ve­ja que di­mi­nu­iu.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Do jei­to que é co­lo­ca­do pa­re­ce que o Bra­sil foi des­co­ber­to em 2003, quan­do Lu­la as­su­miu o go­ver­no. Os jor­nais di­zem que Dil­ma Rous­seff vai pri­o­ri­zar o so­ci­al e Ser­ra a pro­du­ção. Dil­ma pri­o­ri­za­ria os po­bres e Ser­ra os ri­cos. Qual é o jo­go aí?

Es­se ne­gó­cio de se fa­zer uma car­ta não sig­ni­fi­ca mui­ta coi­sa. Is­so tem que ser sen­ti­do pe­las pes­so­as. Lu­la fez is­so pa­ra os em­pre­sá­rios que es­ta­vam ali que­ren­do ou­vir aqui­lo. Os pro­gra­mas so­ci­ais são vol­ta­dos pa­ra as pes­so­as mais hu­mil­des.

Da­nin Jú­ni­or — Re­for­mu­lan­do a per­gun­ta, co­mo o PSDB po­de rei­vin­di­car es­sa cri­a­ção dos pro­gra­mas so­ci­ais?

Há um vi­de­o­zi­nho de cin­co mi­nu­tos que mos­tra co­mo tu­do is­so foi cri­a­do. Bas­ta co­lo­car is­so na te­le­vi­são, vão en­ten­der di­rei­ti­nho. Não tem co­mo ne­gar que a Lo­as man­tém o Nor­des­te do Pa­ís. To­do ido­so tem um fi­lho, um ne­to, um bis­ne­to na fa­cul­da­de à cus­ta de seu sa­lá­rio. Tem um es­tu­do do Ipea (Fun­da­ção Ins­ti­tu­to de Pes­qui­sa Eco­nô­mi­ca Apli­ca­da) que mos­tra que 60% das pes­so­as de bai­xa ren­da do Nor­des­te vi­ve com a Lo­as. Is­so não se in­ven­ta, es­tá lá. O Pe­ti es­tá lá. Gran­de par­te des­ses pro­gra­mas fo­ram cri­a­dos pe­la do­na Ruth Car­do­so. Ela foi a men­to­ra in­te­lec­tu­al de to­dos es­ses pro­gra­mas de trans­fe­rên­cia de ren­da. Exis­te uma fra­se de­la que fi­cou mar­ca­da. Ela di­zia que se pe­gas­se o di­nhei­ro, co­lo­cas­se em um he­li­cóp­te­ro e saís­se dis­tri­buin­do nos mu­ni­cí­pios, era mais pro­vá­vel que as pes­so­as re­ce­bes­sem o di­nhei­ro do que do jei­to que es­ta­va. Is­so de­mons­tra que o di­nhei­ro cen­tra­li­za­do em Bra­sí­lia, ao che­gar ao mu­ni­cí­pio, ele se per­dia in­tei­ro. Os pro­gra­mas fo­ram cri­a­ção de­la, de es­tu­dos que ela fez no Chi­le, no Mé­xi­co. Ela foi a men­to­ra do pro­je­to To­da Cri­an­ça na Es­co­la, quan­do con­se­gui­mos co­lo­car 85% das cri­an­ças nas es­co­las. Quan­do cri­a­mos a Bol­sa Es­co­la tu­do is­so era mui­to no­vo. Pas­sar um di­nhei­ro pa­ra a pes­soa na­que­la oca­si­ão era um ab­sur­do. O dia que en­tre­guei a pri­mei­ra bol­sa do Pe­ti, no Ma­to Gros­so do Sul, foi um es­cân­da­lo. Não há co­mo des­man­char is­so. O gran­de er­ro do PSDB é que tem um pu­dor enor­me em di­vul­gar is­so, por­que den­tro da vi­são do par­ti­do es­sa é uma ques­tão de di­rei­to. Es­se é o prin­cí­pio que im­pe­de a di­vul­ga­ção.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — No ca­so dos me­di­ca­men­tos ge­né­ri­cos, pa­re­ce que não tem "do­no". O "do­no" ago­ra é o PT e o go­ver­no de­le.

Ve­ja um pro­gra­ma ma­ra­vi­lho­so co­mo o Pro­naf (Pro­gra­ma Na­ci­o­nal de For­ta­le­ci­men­to da Agri­cul­tu­ra Fa­mi­liar). Pa­ra mim, ao la­do do Pe­ti, foi o se­gun­do pro­gra­ma mais im­por­tan­te do go­ver­no Fer­nan­do Hen­ri­que. Foi a pri­mei­ra vez em que foi fo­ca­do o pe­que­no pro­du­tor fo­ra da re­for­ma agrá­ria. Ha­via o dis­cur­so da re­for­ma agrá­ria, mas não ha­via fun­do pa­ra as­sis­tir o pe­que­no pro­du­tor. Foi cri­a­do por um ban­quei­ro, ve­ja só, o An­dra­de Vi­ei­ra, do Ba­me­rin­dus (que foi mi­nis­tro da Agri­cul­tu­ra, do Abas­te­ci­men­to e da Re­for­ma Agrá­ria no go­ver­no FHC). Se dis­ser ho­je que o Pro­naf foi cri­a­do no go­ver­no de Fer­nan­do Hen­ri­que, é bem ca­paz de vo­cê apa­nhar, por­que vi­rou pro­gra­ma do Lu­la.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A Lei de Res­pon­sa­bi­li­da­de Fis­cal...

Lu­la pe­gou já cri­a­da. Eu fui re­la­to­ra de to­dos os pro­gra­mas do go­ver­no. Fui re­la­to­ra do Bol­sa Fa­mí­lia, do Pri­mei­ro Em­pre­go, do Pro­jo­vem, do Mi­nha Ca­sa Mi­nha Vi­da. To­dos os pro­gra­mas so­ci­ais des­se go­ver­no vi­e­ram do PSDB. O ca­das­tro que eles têm ho­je do Bol­sa Fa­mí­lia já pe­ga­ram pron­to. Fi­ca­ram um ano cri­ti­can­do o ca­das­tro, mas é o úni­co que exis­te. Cla­ro que foi me­lho­ra­do, foi che­ca­do, mas é o ca­das­tro dos pro­gra­mas uni­fi­ca­dos, pron­to. Quan­do im­plan­tei a Lo­as, uma coi­sa as­sim fan­tás­ti­ca, foi a pri­mei­ra vez que o de­fi­cien­te pas­sou a ter um sa­lá­rio. Nes­sa oca­si­ão era co­mum o de­fi­cien­te ser amar­ra­do na per­na da me­sa pa­ra a mãe ir tra­ba­lhar. À me­di­da que ele pas­sou a ter um sa­lá­rio, pas­sou a ser uma pes­soa im­por­tan­te na fa­mí­lia. Pas­sou a ser um ci­da­dão.

Da­nin Jú­ni­or — Um dos le­ga­dos da do­na Ruth foi a ar­ti­cu­la­ção do ter­cei­ro se­tor. O go­ver­no pe­tis­ta aca­bou com es­se le­ga­do, na me­di­da em que um dos gran­des mei­os de cor­rup­ção atu­al­men­te são es­sas ONG´s?

Re­al­men­te, do­na Ruth fez um tra­ba­lho mui­to bo­ni­to em re­la­ção a is­so. A es­tru­tu­ra que a gen­te ti­nha não era su­fi­ci­en­te pa­ra dar apoio a to­das as cri­an­ças. Foi quan­do co­me­ça­ram as Os­cip´s (Or­ga­ni­za­ção da So­ci­e­da­de Ci­vil de In­te­res­se Pú­bli­co), que se ca­rac­te­ri­za­vam co­mo as em­pre­sas do ter­cei­ro se­tor. Ai vi­e­ram as Or­ga­ni­za­ções So­ci­ais (OS´s) e as en­ti­da­des fi­lan­tró­pi­cas. Na épo­ca fi­ze­mos um le­van­ta­men­to, ti­nha en­ti­da­des fi­lan­tró­pi­cas mui­to im­por­tan­tes, mas ti­nham al­guns de fa­cha­das. Pro­cu­ra­mos dar uma sa­ne­a­da nes­sas en­ti­da­des pa­ra que a gen­te pu­des­se li­dar com as fi­lan­tró­pi­cas, as or­ga­ni­za­ções so­ci­ais e as Os­cip´s, que se­ri­am cha­ma­das de ter­cei­ro se­tor. Do­na Ruth que­ria, com as Os­cip´s, que en­ti­da­des em­pre­sa­ri­ais pu­des­sem ban­car al­gu­mas ações do Es­ta­do. O Es­ta­do fa­ria os in­ves­ti­men­tos e, pa­ra­le­la­men­te, co­mo ocor­re em ou­tros paí­ses, as gran­des em­pre­sas tam­bém aju­da­ri­am nes­se es­for­ço em di­re­ção à edu­ca­ção. O go­ver­no Lu­la sim­ples­men­te des­co­nhe­ceu os ob­je­ti­vos e aí co­me­ça­ram os sin­di­ca­tos, as en­ti­da­des fi­lan­tró­pi­cas, as OS´s, em­pre­sas que fo­ram cri­a­das só com o ob­je­ti­vo de con­ve­ni­a­rem com os Es­ta­dos. As coi­sas se de­te­rio­ra­ram de tal for­ma que gran­de par­te des­sas en­ti­da­des ho­je es­tá em des­cré­di­to.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — O que se diz é que a Dil­ma é can­di­da­ta for­te, mas ela con­ta com to­da a es­tru­tu­ra de go­ver­no. Na ver­da­de, for­te é Jo­sé Ser­ra, que tem re­sis­ti­do a tu­do is­so, ao ata­que bru­tal da Dil­ma. De on­de vem es­sa for­ça do Ser­ra?

Pri­mei­ro, a for­ça do Ser­ra vem do pró­prio par­ti­do, des­sa his­tó­ria. Tal­vez não se­ja tão po­pu­lar as­sim a his­tó­ria, mas exis­te um con­cei­to de que na­que­la oca­si­ão quem es­ta­va à fren­te eram pes­so­as sé­rias. E, se­gun­do, acho que Ser­ra, in­de­pen­den­te­men­te do par­ti­do, é uma per­so­na­li­da­de for­te e ob­je­ti­va. Sem­pre nos lu­ga­res on­de pas­sou mos­trou re­sul­ta­dos. Quan­do mi­nis­tro da Sa­ú­de con­se­guiu do­mar aque­le mi­nis­té­rio, con­si­de­ra­do in­do­má­vel, tal o vo­lu­me de ir­re­gu­la­ri­da­des que ti­nha an­tes da ges­tão de­le. Che­gou e viu que ha­via uma de­man­da enor­me por ci­rur­gi­as de ca­ta­ra­ta e lo­go co­me­çou com os mu­ti­rões pa­ra fa­zer ci­rur­gi­as, coi­sa que nin­guém ti­nha pen­sa­do. E is­so me­xeu com mui­ta gen­te que não ti­nha mais es­pe­ran­ça de en­xer­gar. Ser­ra que­bra to­dos os pa­râ­me­tros e es­ta­be­le­ce gran­de par­te dos con­cei­tos da área so­ci­al, mui­tas fo­ram de ini­ci­a­ti­va de­le, co­mo o se­gu­ro-de­sem­pre­go, a ques­tão do de­sen­vol­vi­men­to re­gi­o­nal, a cri­a­ção dos Fun­dos do Cen­tro-Oes­te, Nor­te e Nor­des­te. Na Cons­ti­tu­in­te ele te­ve pa­pel mui­to for­te. De­pois ele en­cam­pou a Pas­to­ral da Cri­an­ça, em par­ce­ria com a do­na Zil­da Arns, pa­ra en­fren­tar a mor­ta­li­da­de in­fan­til. Is­so ren­deu uma ca­pi­la­ri­da­de de ação in­crí­vel. Em qua­tro anos de ges­tão di­mi­nu­iu a mor­ta­li­da­de de for­ma mui­to ex­pres­si­va. De­pois veio a ques­tão da aids, que era um de­sas­tre, com me­di­ca­men­tos ca­rís­si­mos. Ele en­fren­tou e que­brou as pa­ten­tes dos la­bo­ra­tó­rios ame­ri­ca­nos em um mo­men­to em que nin­guém acre­di­ta­va que is­so era pos­sí­vel. Ele sem­pre foi um ho­mem mui­to ar­ro­ja­do nas ações, sa­be for­mar e tra­ba­lhar em equi­pe e bus­ca ob­sti­na­da­men­te re­sul­ta­dos.

Ce­zar San­tos — Aé­cio não ter sa­í­do na vi­ce de Ser­ra não en­fra­que­ce a cha­pa do PSDB?

Não, acho que não.

Ce­zar San­tos — O de­pu­ta­do Ín­dio da Cos­ta (DEM) co­mo vi­ce de Jo­sé Ser­ra acres­cen­ta?

Ín­dio da Cos­ta foi uma boa aqui­si­ção. É jo­vem, ini­ci­an­te. À me­di­da que ele vai con­vi­ver ali não tem ne­nhu­ma di­fi­cul­da­de. Es­tá ini­ci­an­do na ca­dei­ra de­le ago­ra. Vai con­vi­ver com pes­so­as que po­de­rão en­ri­que­cer a sua ma­tu­ri­da­de e is­so é mui­to bom. É um in­ves­ti­men­to mui­to bom. Achar que o vi­ce for­ta­le­ce o can­di­da­to é um pou­co dis­cu­tí­vel. Te­mos que pre­o­cu­par mui­to é com o po­ten­ci­al do can­di­da­to. É ob­vio que tem que ser uma pes­soa que com­ple­men­ta no sen­ti­do da even­tua­li­da­de de as­su­mir.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Na ques­tão das dro­gas, se fa­la mui­to no con­su­mo, mas não há, por exem­plo, a pre­o­cu­pa­ção em re­du­zir a en­tra­da des­sas dro­gas. A Bo­lí­via tri­pli­cou a pro­du­ção des­de que Evo Mo­ra­les en­trou. A cri­a­ção do Mi­nis­té­rio da Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca pro­pos­ta pe­lo Ser­ra po­de re­du­zir a en­tra­da de dro­gas no Bra­sil?

Li o pro­gra­ma de com­ba­te as dro­gas e fi­quei en­can­ta­da. Ser­ra acer­tou em cheio. Pri­mei­ro, dro­ga não é ques­tão de se­gu­ran­ça pú­bli­ca e sim de sa­ú­de pú­bli­ca. É pre­ci­so fa­zer a re­cu­pe­ra­ção dos de­pen­den­tes quí­mi­cos e a pre­ven­ção tem que es­tar com o Mi­nis­té­rio da Sa­ú­de. A re­pres­são de­ve ser fei­to por meio do Mi­nis­té­rio de Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca po­li­ci­an­do as fron­tei­ras. Ele fa­la na cri­a­ção de guar­da na­ci­o­nal ar­ma­da pa­ra as fron­tei­ras. Ho­je se che­ga a um mu­ni­cí­pio e a pri­mei­ra coi­sa que pe­dem é um cen­tro de re­cu­pe­ra­ção, pa­ra se ter uma idéia do vo­lu­me de pes­so­as de­pen­den­tes. Ser­ra não faz pro­pos­ta pa­ra ter res­pos­ta mi­di­á­ti­ca. Ele faz uma pro­pos­ta que vai ao co­ra­ção do pro­ble­ma. Quan­do fa­la que a dro­ga é ques­tão de sa­ú­de pú­bli­ca ele diz que não é ape­nas re­pri­mir, é pre­ci­so sa­ber tra­tar es­se pa­ci­en­te. É uma sé­rie de áre­as que pre­ci­sam ser mo­bi­li­za­das.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Por­que es­sa de­mo­ra na ne­go­ci­a­ção da Celg? Tem ca­rá­ter po­lí­ti­co?

Acho que a ques­tão da Celg é téc­ni­ca. O go­ver­no fe­de­ral tem en­con­tra­do di­fi­cul­da­de enor­me pa­ra ope­rar. O equí­vo­co foi achar que es­sa ques­tão se re­sol­ve po­li­ti­ca­men­te, e aí se per­deu mui­to tem­po.

Ce­zar San­tos — O pre­si­den­te Lu­la tam­bém in­du­ziu a is­so, quando su­biu em pa­lan­que em Go­i­â­nia e prometeu ao governador e ao povo goiano que a ques­tão Celg se­ria re­sol­vi­da em um ou dois mes­es?

Tam­bém. Só que quem di­ri­ge as es­ta­tais são téc­ni­cos e não se faz uma ope­ra­ção des­sa en­ver­ga­du­ra sem que ha­ja fun­da­men­to.

Da­nin Jú­ni­or — Vá­ri­as de­ci­sões de Es­ta­do são po­lí­ti­cas. Por exem­plo, o BNDES li­be­rou R$ 6 bi­lhões no ano pas­sa­do pa­ra aque­la usi­na de Es­trei­to (TO-MA), mes­mo ten­do 26 ques­ti­o­na­men­tos am­bien­tais na Jus­ti­ça. Al­gu­mas em­pre­sas es­tão dei­xan­do de vir pa­ra Go­i­ás por­que a Celg não con­se­gue for­ne­cer ener­gia com qua­li­da­de. O Es­ta­do ago­ra po­de ter um co­lap­so nes­sa par­te de in­fra­es­tru­tu­ra e o BNDES acha que is­so é nor­mal.

Quan­do se tra­ba­lha por uma es­ta­tal do por­te da Celg vo­cê es­tá tra­ba­lhan­do uma ges­tão. Quan­do vo­cê faz um em­prés­ti­mo pa­ra a ini­ci­a­ti­va pri­va­da, vo­cê faz um em­prés­ti­mo e se não der cer­to vo­cê vai lá e traz de vol­ta. Um es­ta­tal não que­bra, é mui­to di­fí­cil, se faz uma in­ter­ven­ção lá den­tro e não é is­so que in­te­res­sa ao se­tor elé­tri­co. Eles que­rem uma ges­tão efi­ci­en­te, ter con­tro­le so­bre a si­tu­a­ção. Na­da faz po­li­ti­ca­men­te, is­so se faz den­tro da vi­a­bi­li­da­de eco­nô­mi­ca. A Celg ho­je não tem Ca­cho­ei­ra Dou­ra­da, Co­rum­bá, não tem ge­ra­do­ra, é uma dis­tri­bu­i­do­ra, e sen­do uma dis­tri­bu­i­do­ra pre­ci­sa de ges­tão. Não se faz is­so des­sa for­ma. Ges­tão do se­tor elé­tri­co é es­pe­cia­li­za­da. As­sis­ti a du­as ou três re­u­ni­ões na Ele­tro­brás e não se re­sol­via po­li­ti­ca­men­te. A Celg não é a Celg, ela faz par­te do sis­te­ma elé­tri­co na­ci­o­nal. Te­mos aí emi­nên­cia de apa­gões enor­mes e eles que­rem o con­tro­le da si­tu­a­ção. Já era pa­ra ter si­do fei­ta a in­ter­ven­ção fe­de­ral no go­ver­no de Fer­nan­do Hen­ri­que.

Da­nin Jú­ni­or — A sra. es­tá se apro­xi­man­do do fi­nal de seu man­da­to co­mo se­na­do­ra e pre­ten­de ir à re­e­lei­ção. Qual o ba­lan­ço des­tes oi­to anos de Se­na­do?

Pa­ra mim é mui­to gra­ti­fi­can­te. Eu pu­de re­la­tar, ser au­to­ra e pu­de con­vi­ver com mi­nha ban­ca­da de for­ma har­mô­ni­ca. Um par­la­men­tar, pa­ra ter su­ces­so em sua ati­vi­da­de, tem que ser ope­ro­so, não po­de es­que­cer a ba­se e ao mes­mo tem­po tem que ser um con­ci­li­a­dor den­tro de sua pró­pria ban­ca­da. Qual­quer apro­va­ção de um pro­je­to de­man­da um po­der de ar­ti­cu­la­ção mui­to gran­de, pri­mei­ro in­ter­na­men­te em sua ban­ca­da, e de­pois com as de­mais ban­ca­das. Es­se exer­cí­cio po­lí­ti­co in­ter­no é fun­da­men­tal pa­ra que se ob­te­nha re­sul­ta­dos. Mui­tas ve­zes pa­ra se con­se­guir a har­mo­nia não se po­de pas­sar mui­to a li­nha di­vi­só­ria. Se es­tou re­la­tan­do um pro­je­to ele não de­pen­de só de mi­nha ban­ca­da, de­pen­de das ou­tras ban­ca­das e do pró­prio go­ver­no. Pa­ra se ob­ter re­sul­ta­dos é pre­ci­so mui­ta dis­cri­ção na di­vul­ga­ção des­se pro­je­to, por que do con­trá­rio fi­ca al­go pes­so­al. E quan­do se le­va pa­ra o la­do pes­so­al di­fi­cil­men­te se tem es­sa tro­ca. O exer­cí­cio da con­ci­li­a­ção, do re­la­ci­o­na­men­to com as ban­ca­das, é fun­da­men­tal pa­ra se ob­ter re­sul­ta­dos ex­pres­si­vos. Fui re­la­to­ra de pro­je­tos po­lê­mi­cos co­mo o ato mé­di­co. O ato mé­di­co en­vol­via 14 pro­fis­sões da área de sa­ú­de, to­das com a li­nha cin­zen­ta de uma ati­vi­da­de es­bar­ran­do na ou­tra. E hou­ve uma mo­bi­li­za­ção no Bra­sil in­tei­ro con­tra o ato mé­di­co, que é a re­gu­la­men­ta­ção da pro­fis­são do mé­di­co, que até ho­je não foi re­gu­la­men­ta­da. Con­se­gui, de­pois de dois anos de ne­go­ci­a­ção, cha­man­do as par­tes, os mai­o­res dou­tri­na­do­res co­mo Lu­is Gam­bra, Nel­son Jo­bim, cha­man­do con­sul­to­res nas mais di­ver­sas áre­as jun­to com os mé­di­cos e as de­mais pro­fis­sões, con­se­gui apro­var es­se pro­je­to no Se­na­do por una­ni­mi­da­de. Não ti­ve um vo­to con­tra, coi­sa que nin­guém acre­di­ta­va. O pro­je­to foi pa­ra a Câ­ma­ra, ge­rou uma sé­rie de po­lê­mi­cas, foi co­lo­ca­do em vo­ta­ção com al­gu­mas mo­di­fi­ca­ções, vol­tou pa­ra o Se­na­do. Mui­tas ve­zes se apro­va um pro­je­to, mas se não bus­ca um con­sen­so vo­cê aca­ba atra­pa­lhan­do a apro­va­ção nas du­as Ca­sas. Tem que se apro­var na Ca­sa, mas tam­bém tra­zer a Câ­ma­ra pa­ra a dis­cus­são. Is­so tal­vez se­ja o que faz com que as pes­so­as achem que eu de­ve­ria di­vul­gar mais. To­dos os tra­ba­lhos que fiz de­man­da­va não só a mi­nha po­si­ção, mas um re­la­ci­o­na­men­to com as di­ver­sas ban­ca­das. Ban­ca­das do pró­prio DEM, que fa­zia par­te da mi­nha ba­se de sus­ten­ta­ção, co­mo a ban­ca­da de sus­ten­ta­ção do go­ver­no. Por exem­plo, apro­var a Su­de­co (Su­pe­rin­ten­dên­cia de De­sen­vol­vi­men­to do Cen­tro-Oes­te), que tam­bém foi por una­ni­mi­da­de, se deu exa­ta­men­te bus­can­do es­sa in­ter­lo­cu­ção e es­sa re­la­ção que bus­quei man­ter du­ran­te os oi­to anos de man­da­to.

Ce­zar San­tos — É um tra­ba­lho de bas­ti­do­res...

É um tra­ba­lho re­al­men­te mais de bas­ti­do­res. Se quer tra­ba­lhar res­pon­sa­vel­men­te, al­can­çar re­sul­ta­dos efe­ti­vos, que en­vol­ve or­ça­men­to, me­lho­ria pa­ra o seu Es­ta­do, se vo­cê quer is­so tem que man­ter um di­á­lo­go per­ma­nen­te não só com a ban­ca­da que re­pre­sen­ta sua ba­se, mas co­mo tam­bém uma in­ter­lo­cu­ção com o go­ver­no. Foi o que pro­cu­rei fa­zer apro­van­do, o Fun­do do De­sen­vol­vi­men­to do Cen­tro-Oes­te, apro­van­do es­se re­la­tó­rio que foi pu­bli­ca­do, a Lei Ma­ria da Pe­nha, que tam­bém foi po­lê­mi­ca, mas que tam­bém con­se­gui apro­var por una­ni­mi­da­de. Re­des de te­le­vi­são em Go­i­ás, co­mo a Fon­te da Vi­da, con­se­gui a apro­va­ção. Tu­do que diz res­pei­to ao Es­ta­do é pre­ci­so que ha­ja uma in­ter­lo­cu­ção mui­to for­te en­tre os di­ver­sos se­to­res.

Da­nin Jú­ni­or — Hou­ve um en­vol­vi­men­to pes­so­al seu mui­to ní­ti­do na ques­tão da Su­de­co (Su­pe­rin­ten­dên­cia de De­sen­vol­vi­men­to do Cen­tro-Oes­te). Co­mo es­tá ago­ra a cri­a­ção da su­pe­rin­ten­dên­cia?

Sou mui­to de­ter­mi­na­da nos meus ob­je­ti­vos. En­quan­to não bo­tar a Su­de­co fun­cio­nan­do não fi­co qui­e­ta. A Su­de­co foi apro­va­da e san­ci­o­na­da. A di­fi­cul­da­de que ti­ve­mos foi for­ma­tar o pro­je­to, que é com­ple­xo. Tem que cap­tar o mo­men­to eco­nô­mi­co da re­gi­ão e tu­do is­so foi de­ba­ti­do. O pro­je­to é re­don­do, e fal­ta pa­ra sua ins­ta­la­ção du­as coi­sas que são fun­da­men­tais, re­gu­la­men­tar o fun­do e fa­zer a apro­va­ção da es­tru­tu­ra de pes­so­al. Ago­ra sou pre­si­den­te da Co­mis­são de Or­ça­men­to. Já co­me­cei agir no sen­ti­do de fa­zer com que o or­ça­men­to des­te ano pu­des­se con­tem­plar os re­cur­sos pa­ra sua ins­ta­la­ção. A pri­mei­ra eta­pa já con­se­gui ven­cer, que é ti­rar o pro­je­to do Pla­ne­ja­men­to pa­ra que ele ve­nha pa­ra o Con­gres­so. Es­ta se­ma­na ele de­ve es­tar no Con­gres­so. É uma es­tru­tu­ra de pes­so­al en­xu­ta, são só 150 car­gos, en­tão não vai ser di­fí­cil apro­var.

Da­nin Jú­ni­or — Es­sa vi­tó­ria é im­por­tan­te por que, no cer­ne des­te go­ver­no, acham que o Cen­tro-Oes­te po­de se vi­rar so­zi­nho. A sra. con­cor­da?

Não te­nho dú­vi­da dis­so. To­da lu­ta que es­ta­mos ten­do pa­ra a cri­a­ção e ins­ta­la­ção da Su­de­co se de­ve mui­to a es­sa vi­são que se tem lá fo­ra, prin­ci­pal­men­te do go­ver­no, de que a re­gi­ão Cen­tro-Oes­te re­sol­ve por si só. É uma re­gi­ão ri­ca que não tem mui­tos pro­ble­mas. É a vi­são to­tal­men­te equi­vo­ca­da que mui­tos têm. Sem­pre di­go que te­mos cres­ci­do aci­ma da mé­dia na­ci­o­nal, mui­to em ci­ma do es­for­ço dos pró­prios go­i­a­nos. A re­nún­cia fis­cal trou­xe em­pre­sas com tec­no­lo­gia avan­ça­da, al­to va­lor agre­ga­do, co­mo Hyun­dai e a Mit­su­bis­hi, e ou­tras do agro­ne­gó­cio, mas trás tam­bém gran­des de­man­das e à me­di­da que o go­ver­no não tem fun­do es­pe­cí­fi­co pa­ra in­ves­tir nes­sa atra­ção de em­pre­sa, e tem que fa­zer is­so atra­vés da re­nún­cia fis­cal, is­so faz com que o Es­ta­do tam­bém so­fra al­gu­mas di­fi­cul­da­des pa­ra cum­prir as de­man­das que vêm des­se de­sen­vol­vi­men­to. Acho que os go­ver­nos de Go­i­ás têm fei­to um es­for­ço her­cú­leo pa­ra ao mes­mo tem­po pro­mo­ver o de­sen­vol­vi­men­to, abrin­do mão de uma par­te de seu re­cur­so mais im­por­tan­te, que é o ICMS, e pro­cu­ran­do aten­der a de­man­da que es­se de­sen­vol­vi­men­to pro­vo­ca com es­sa no­va pers­pec­ti­va eco­nô­mi­ca que se faz com a vin­da des­sas em­pre­sas. As­sim elas vêm, mas tam­bém têm gran­des de­man­das na área de ener­gia, es­tra­das, es­co­las. Is­so a gen­te per­ce­be per­fei­ta­men­te quan­do a gen­te vai ao in­te­ri­or. Tem as gran­des em­pre­sas que ge­ram em­pre­go, fa­zem a ale­gria das pes­so­as do mu­ni­cí­pio, elas sig­ni­fi­cam de­sen­vol­vi­men­to, mas ao mes­mo tem­po exi­gem do ad­mi­nis­tra­dor lo­cal um es­for­ço enor­me pa­ra aten­der uma mai­or de­man­da na área de sa­ú­de, es­co­las, es­tra­das vi­ci­nais. Tu­do is­so tem si­do fei­to com es­for­ço enor­me tan­to dos go­ver­nos mu­ni­ci­pa­is quan­to es­ta­du­ais. Nos­so Es­ta­do, por ser um Es­ta­do que res­pon­de de for­ma efe­ti­va a es­ses in­ves­ti­men­tos, ge­ran­do em­pre­go e uma ren­da mai­or, dá cer­ta tran­qui­li­da­de ao go­ver­no fe­de­ral, que exi­ge ca­da vez mais es­for­ço da nos­sa re­gi­ão. Che­gou o mo­men­to que te­mos que dar um bas­ta nis­so e acho que o ca­mi­nho é fa­zer a re­for­ma tri­bu­tá­ria. Não con­se­gui­mos fa­zer a re­for­ma tri­bu­tá­ria por­que quan­do va­mos dis­cu­ti-la não se le­va em con­ta es­te es­for­ço que o Es­ta­do de Go­i­ás fez pa­ra o seu de­sen­vol­vi­men­to, não que­ren­do com­pen­sar o es­for­ço de for­ma efe­ti­va, cri­an­do um fun­do es­pe­cí­fi­co. E ao mes­mo tem­po que­rem ti­rar a nos­so úni­co ins­tru­men­to de de­sen­vol­vi­men­to, que é o in­cen­ti­vo fis­cal.

Da­nin Jú­ni­or — De­pois da Lei Kan­dir, o go­ver­no fe­de­ral tem cre­di­bi­li­da­de pa­ra fa­lar em fun­do com­pen­sa­tó­rio?

Não, e é por is­so que a re­for­ma não sai. A lei Kan­dir é o exem­plo tí­pi­co de que a com­pen­sa­ção não fun­cio­na.

Da­nin Jú­ni­or — Por­que o PAC em Go­i­ás é tão len­to?

Acho que não é só em Go­i­ás. Se pe­gar o de­sem­pe­nho de­le to­tal se vai ver que há uma di­fi­cul­da­de enor­me de apli­ca­ção dos re­cur­sos. A di­fi­cul­da­de se dá por não ha­ver pla­ne­ja­men­to. Co­lo­ca-se um di­nhei­ro na obra sem que es­te­ja li­ci­ta­da, sem as li­cen­ças am­bien­tais cor­re­tas. Nes­se meio tem­po, quan­do se pre­ci­sa ope­rar a obra, tem em­bar­gos. O TCU (Tri­bu­nal de Con­tas da Uni­ão) tem mos­tra­do is­so de for­ma mui­to in­ten­sa. Es­ses em­bar­gos fa­zem com que o di­nhei­ro fi­que re­ti­do. Ho­je es­ta­mos pro­mo­ven­do na Co­mis­são de Or­ça­men­to um gran­de de­ba­te em re­la­ção ao re­ma­ne­ja­men­to dos re­cur­sos do PAC. O go­ver­no ago­ra pe­de a au­to­ri­za­ção pa­ra re­ma­ne­jar 30% das obras do PAC, por­que gran­de par­te des­sas obras es­tá em­bar­ga­da, ou por li­cen­ça am­bien­tal ou su­per­fa­tu­ra­men­to. Ou por ou­tra ra­zão que, se for bus­car o fio da me­a­da, vai se dar na fal­ta de pla­ne­ja­men­to es­tra­té­gi­co. Se pe­ga o PPA (Pla­no Plu­ri­a­nu­al), que é o ins­tru­men­to mais for­te de pla­ne­ja­men­to do go­ver­no, vo­cê vai ver que não ba­te com a LDO e com a lei or­ça­men­tá­ria. Ele es­tá numa di­re­ção, a lei or­ça­men­tá­ria nou­tra e a lei de di­re­tri­zes or­ça­men­tá­rias nou­tra di­re­ção.

Da­nin Jú­ni­or — To­do ano o TCU emi­te o re­la­tó­rio so­bre a pres­ta­ção de con­tas do go­ver­no. Nes­te ano, sal­vo en­ga­no, são 27 res­sal­vas. No ano an­te­ri­or tam­bém um nú­me­ro ele­va­dís­si­mo. O Con­gres­so lê es­ses re­la­tó­rios e não diz na­da, fi­ca por is­so mes­mo?

É mui­to di­fí­cil a Co­mis­são de Or­ça­men­to ter for­ça pa­ra mu­dar es­sa si­tu­a­ção. Não ten­do pla­ne­ja­men­to não se tem uma di­re­triz pa­ra co­brar. Gos­ta­ria que o po­vo bra­si­lei­ro en­ten­des­se o que é o PPA e o que é a lei or­ça­men­tá­ria. As du­as coi­sas, que de­ve­ri­am ser har­mô­ni­cas, não se ca­sam. Quan­do vem a res­sal­va, o go­ver­no às ve­zes pas­sa por ci­ma. A nos­sa bu­ro­cra­cia es­tá es­tru­tu­ra­da den­tro do prin­cí­pio de que to­do mun­do é es­per­to e vai ti­rar pro­vei­to. Quan­to mais se des­co­brem des­vi­os, mais ela vai fe­chan­do. À me­di­da que ela a fe­cha se tor­na qua­se que ino­pe­rá­vel. Es­ta­mos che­gan­do nu­ma si­tu­a­ção em que o Or­ça­men­to di­fi­cil­men­te po­de ser al­te­ra­do, pe­lo me­nos 50% de­le, com a bu­ro­cra­cia que te­mos ho­je, não po­de ser al­te­ra­do.

Da­nin Jú­ni­or — Nas re­gi­ões on­de hou­ve as tra­gé­di­as das chu­vas, no Nor­des­te, nas alí­neas do or­ça­men­to es­tá lá: re­cu­pe­ra­ção de áre­as de pre­ser­va­ção das mar­gens de rio. Che­gou es­sa épo­ca do ano e não ti­nha na­da re­cu­pe­ra­do.

Is­so é fal­ta de pla­ne­ja­men­to.

Da­nin Jú­ni­or — Mas es­ta­va pre­vis­to no Or­ça­men­to.

Tem ru­bri­ca or­ça­men­tá­ria, mas não tem pla­ne­ja­men­to. Vo­cê ma­peia as áre­as de­gra­da­das on­de tem ocor­rên­cia de de­sas­tres. Nes­sa área se fo­ca to­do o pla­ne­ja­men­to e as ru­bri­cas or­ça­men­tá­rias que se­rão fei­tas com um cro­no­gra­ma de um ano, dois anos, três anos, cin­co anos. Is­so não exis­te. Qua­is são as áre­as de ris­co ho­je no Pa­ís? To­dos os anos são as mes­mas. Ca­da Es­ta­do sa­be, is­so vem lá de ci­ma. Não exis­te pla­ne­ja­men­to e o Or­ça­men­to é um ins­tru­men­to de bar­ga­nha po­lí­ti­ca.

Da­nin Jú­ni­or — E 67% das ver­bas do Mi­nis­té­rio de In­te­gra­ção fo­ram lá pa­ra a Ba­hia, Es­ta­do do mi­nis­tro.

Nos­so Or­ça­men­to es­tá pra­ti­ca­men­te to­do en­ges­sa­do, tan­tos por cen­to pa­ra a Sa­ú­de, tan­tos por cen­to, pa­ra a Edu­ca­ção, pes­so­al... o que so­bra pa­ra in­ves­ti­men­tos são cer­ca de R$ 8 bi­lhões.

Da­nin Jú­ni­or — A sra. acha que vai ha­ver es­sa mu­dan­ça cons­ti­tu­ci­o­nal, des­vin­cu­la­ção dos re­cur­sos da Uni­ão?

Acho que não te­mos o ama­du­re­ci­men­to pa­ra des­vin­cu­lar. In­fe­liz­men­te es­sa é a ver­da­de. Acho que tem que fi­car por um tem­po por que se não se vin­cu­lar a Edu­ca­ção, nin­guém vai in­ves­tir em Edu­ca­ção. Se não vin­cu­lar a Sa­ú­de, não vão in­ves­tir em Sa­ú­de. É mui­to mais fá­cil se in­ves­tir em uma obra im­por­tan­te do que em uma ação con­ti­nu­a­da.

Ce­zar San­tos — Mes­mo obri­ga­dos, mui­tos go­ver­na­do­res e pre­fei­tos não cum­prem a Cons­ti­tu­i­ção.

Não cum­prem. É di­fí­cil. Ho­je se ma­ni­pu­la tan­to por par­te do exe­cu­ti­vo quan­to por par­te do le­gis­la­ti­vo. Exer­cer um con­tro­le so­bre o or­ça­men­to é mui­to di­fí­cil. O exe­cu­ti­vo es­tá en­ges­sa­do. Tan­tos por cen­to pa­ra o pa­ga­men­to da dí­vi­da, tan­tos por cen­to pa­ra Edu­ca­ção, tan­tos por cen­tro pa­ra a Sa­ú­de, Se­gu­ran­ça Pú­bli­ca e aí vai in­do. Vo­cê tem uma mar­gem de ma­no­bra mui­to pe­que­na. Se vo­cê tem um re­cur­so pa­ra­do na Sa­ú­de, que vo­cê po­de­ria usar na­que­le pri­mei­ro mo­men­to pa­ra uma emer­gên­cia, vo­cê não po­de, não tem co­mo li­dar com o or­ça­men­to, é in­tei­ra­men­te amar­ra­do. Is­so é mui­to ru­im e só se que­bra is­so com a re­for­ma tri­bu­tá­ria. Se hou­ver a des­cen­tra­li­za­ção de re­cur­sos de for­ma efe­ti­va, me­lho­ra bas­tan­te. In­clu­si­ve agi­li­da­de na apli­ca­ção do di­nhei­ro.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — Co­mo a sra. ava­lia o fun­do que o de­pu­ta­do San­dro Ma­bel (PR) pro­pôs pa­ra os Es­ta­dos na re­for­ma tri­bu­tá­ria?

Por que não pas­sou? Pri­mei­ro se fez um le­van­ta­men­to do que sig­ni­fi­cou o in­cen­ti­vo fis­cal. O fun­do pa­ra cor­res­pon­der a is­so tem que ser mui­to ex­pres­si­vo. E as fon­tes que o go­ver­no ofe­re­ce pa­ra o fun­do são fon­tes que a gen­te não tem con­fi­an­ça e o vo­lu­me é bem in­fe­ri­or ao que o ICMS nos for­ne­ce. É cla­ro tam­bém que é pre­ci­so cla­re­za de que não po­de­re­mos usar in­de­fi­ni­da­men­te o ICMS. Che­ga um pon­to que as coi­sas não fun­cio­nam mais. Acho que já che­ga­mos a um li­mi­te bem ex­pres­si­vo de re­nún­cia fis­cal, mas não po­de­mos tam­bém, de re­pen­te, en­tre­gar is­so sem a ga­ran­tia que ha­ja um fun­do que ve­nha cor­res­pon­der ao que os Es­ta­dos pre­ci­sam.

Da­nin Jú­ni­or — O go­ver­no tem ele­va­do os seus gas­tos, não só seu cus­teio, e as con­tas nun­ca fi­ca­ram com um dé­fi­cit tão gran­de quan­to ago­ra. Sa­be-se que o Pla­no Re­al foi mon­ta­do em ci­ma da cre­di­bi­li­da­de da mo­e­da, do Pa­ís e da pró­pria au­to­es­ti­ma da so­ci­e­da­de, foi um sa­cri­fí­cio mui­to gran­de. A sra., que foi co­la­bo­ra­do­ra do go­ver­no Fer­nan­do Hen­ri­que, acha que es­tá em ris­co es­sas con­quis­tas do Pla­no Re­al em fun­ção des­se des­con­tro­le de gas­tos do go­ver­no?

Há sem­pre es­sa pre­o­cu­pa­ção, prin­ci­pal­men­te do PSDB. O que acon­te­ce é que a gen­te lu­tou e aju­dou, por exem­plo, a ques­tão de re­po­si­ção de pro­fes­so­res nas uni­ver­si­da­des. É uma coi­sa jus­ta, que ti­nha que ser fei­ta. A ques­tão da Edu­ca­ção, a gen­te tem sem­pre re­for­ça­do e nun­ca co­bra­do. Tem al­gu­mas coi­sas que a gen­te acha, eu pes­so­al­men­te, que pas­sei pe­la Se­cre­ta­ria Na­ci­o­nal de As­sis­tên­cia So­ci­al e que pu­de en­ten­der que na­que­la oca­si­ão tí­nha­mos 5 mil fun­cio­ná­rios. Com es­ses 5 mil fun­cio­ná­rios a gen­te gas­ta­va cer­ca de R$ 300 mi­lhões. Des­se mon­tan­te, o di­nhei­ro que ia pa­ra a pon­ta, era 250 mi­lhões de re­ais, is­so em 1995. O di­nhei­ro que che­ga­va na pon­ta era bem me­nor do que o que a gen­te gas­ta­va na ati­vi­da­de-fim. Nós in­ver­te­mos is­so. Cri­a­mos o Fun­do Mu­ni­ci­pal de As­sis­tên­cia So­ci­al, os Con­se­lhos Mu­ni­ci­pa­is, des­cen­tra­li­za­mos as ações. Era as­sim a LBA (Le­gi­ão Bra­si­lei­ra de As­sis­tên­cia), o Mi­nis­té­rio de As­sis­tên­cia So­ci­al man­da­va o di­nhei­ro pa­ra uma en­ti­da­de, mui­tas ve­zes o pre­fei­to se­quer sa­bia que es­sa en­ti­da­de es­ta­va re­ce­ben­do o di­nhei­ro, nin­guém pres­ta­va con­ta. A LBA era um go­ver­no pa­ra­le­lo à pre­fei­tu­ra. A gen­te pas­sou to­do o di­nhei­ro pa­ra a pre­fei­tu­ra. Se exis­te uma en­ti­da­de no mu­ni­cí­pio, quem tem que con­ve­ni­ar com ela é o pre­fei­to. Ele é que tem a res­pon­sa­bi­li­da­de de pres­tar con­tas e go­ver­nar es­sa as­sis­tên­cia so­ci­al no seu mu­ni­cí­pio. Dei­xei a se­cre­ta­ria com 350 fun­cio­ná­rios. Nin­guém foi em­bo­ra, foi re­lo­ca­do pa­ra o INSS. Ve­ja a as­sis­tên­cia so­ci­al ho­je, es­tá tu­do cen­tra­li­za­do no mi­nis­té­rio. Pa­ra se ti­rar um con­vê­nio... e nós cri­a­mos o re­pas­se fun­do a fun­do. O di­nhei­ro vai di­re­to pa­ra o fun­do. Eu ti­nha avan­ça­do um pas­so à fren­te que a pres­ta­ção de con­tas de­ve­ria ser fei­ta no TCE e não no TCU. Não dei­xei is­so bem im­ple­men­ta­do por­que os TCE´s não qui­se­ram as­su­mir, mas acho que uma obra no Es­ta­do de­ve ser fis­ca­li­za­da pe­lo TCE e não pe­lo TCU. Se tem pro­ble­ma, uma de­nún­cia, aí sim en­tra o TCU.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — A di­fe­ren­ça cru­ci­al en­tre o in­ves­ti­men­to so­ci­al, do go­ver­no FHC, e o do Lu­la, é que no go­ver­no FHC era um in­ves­ti­men­to so­ci­al mais téc­ni­co. O do Lu­la foi ab­so­lu­ta­men­te trans­for­man­do em um in­ves­ti­men­to po­lí­ti­co. Não vão cri­ar ver­da­dei­ro cur­ral elei­to­ral nos Es­ta­dos?

Nós te­mos as ações con­ti­nu­a­das que são as ca­pa­ci­ta­ções, olha a as­sis­tên­cia ao ido­so. Tem a di­fe­ren­ça do ser­vi­ço e da trans­fe­rên­cia de ren­da di­re­ta. O go­ver­no Fer­nan­do Hen­ri­que deu ên­fa­se aos ser­vi­ços, o go­ver­no Lu­la deu ên­fa­se à trans­fe­rên­cia de ren­da. É mui­to mais fá­cil bo­tar o di­nhei­ro no ban­co e man­dar en­tre­gar pa­ra a fa­mí­lia do que fa­zer o ser­vi­ço. O ser­vi­ço de­man­da vo­cê fis­ca­li­zar e acom­pa­nhar. É mui­to mais len­to, mas mui­to mais pro­du­ti­vo por que se en­si­na a pes­soa a sa­ir da­que­le pa­ta­mar. Vo­cê pe­ga uma Bol­sa Fa­mí­lia ho­je e pe­ga o Pe­ti (Pro­gra­ma de Er­ra­di­ca­ção do Tra­ba­lho In­fan­til), vo­cê po­de pe­gar aqui no Es­ta­do de Go­i­ás, o Pe­ti é da mi­nha épo­ca. Se vo­cê ver o Pe­ti fun­cio­nan­do ho­je em Go­i­ás e co­mo fun­cio­na o Bol­sa Fa­mí­lia. Se po­de fa­zer uma com­pa­ra­ção cla­ra do que é o ser­vi­ço e do que é a trans­fe­rên­cia de ren­da sem a in­ter­ven­ção da pre­fei­tu­ra.

Eu­ler de Fran­ça Be­lém — On­de es­tá a di­fe­ren­ça pro­pri­a­men­te?

O Pe­ti é um pro­gra­ma on­de a cri­an­ça vai pa­ra a es­co­la e na par­te da tar­de ela tem au­la de mú­si­ca, dan­ça, re­for­ço es­co­lar, to­da uma ori­en­ta­ção que a pre­fei­tu­ra dá em par­ce­ria com o go­ver­no fe­de­ral. O go­ver­no fe­de­ral pas­sa pa­ra ca­da cri­an­ça que che­ga ao Pe­ti um di­nhei­ro pa­ra a pre­fei­tu­ra. É pe­que­no, mas co­mo a pre­fei­tu­ra vê o re­sul­ta­do ela in­ves­te tam­bém e a bol­sa que es­sa cri­an­ça re­ce­be fi­ca sob a res­pon­sa­bi­li­da­de da pre­fei­tu­ra. Se a cri­an­ça fal­tou um dia a bol­sa abai­xa um tan­to, fal­tou dois vai abai­xan­do. O go­ver­no só não fun­diu o Pe­ti com o Bol­sa Fa­mí­lia por que... eu cho­ra­va fei­to uma de­ses­pe­ra­da, uma lou­ca. Di­zia pa­ra o go­ver­no que o Pe­ti não po­de­ria ser ane­xa­do ao Bol­sa Fa­mí­lia por­que ti­nha cen­tra­li­da­de na Edu­ca­ção. Era um pro­je­to com to­da a pre­o­cu­pa­ção na edu­ca­ção. Le­var a cri­an­ça pa­ra a es­co­la, pa­ra que per­ma­ne­ces­se na es­co­la e ti­ves­se su­ces­so na es­co­la. Vo­cê po­de per­gun­tar qual­quer pre­fei­to, tem uns que fun­cio­nam bem ou­tros mais ou me­nos, mas qual­quer pre­fei­to no Es­ta­do de Go­i­ás vai di­zer o que é o Pe­ti. Te­mos cam­pe­ãs em ju­dô, em ca­po­ei­ra, te­mos cri­an­ças com ini­ci­a­ção em mú­si­ca em vá­rios lu­ga­res. É to­tal­men­te di­fe­ren­te. É o que cha­ma­mos de ser­vi­ço, já trans­fe­rên­cia de ren­da é dar o di­nhei­ro. Eles ten­tam fa­zer com que a fa­mí­lia que re­ce­be o Bol­sa Fa­mí­lia te­nha a obri­ga­ção de va­ci­nar a cri­an­ça. Co­lo­quei a bol­sa no no­me da pre­fei­tu­ra por­que da­va ao pre­fei­to a res­pon­sa­bi­li­da­de da pre­sen­ça da cri­an­ça na es­co­la e da­va a ela o ins­tru­men­to de for­çar a per­ma­nên­cia de­la na es­co­la. À me­di­da que ela não vai, vai ser con­tro­la­da. Acho que te­nho uma ten­dên­cia mui­to gran­de pa­ra ope­rar, não sou mui­to de dis­cur­so. Is­so faz com que vo­cê cri­ti­que, mas tam­bém en­ten­da as di­fi­cul­da­des. Ja­mais se­ria uma cri­ti­ca ra­di­cal de quem ope­ra, sa­ben­do as di­fi­cul­da­des que tem uma ope­ra­ção. Ago­ra, qual é a di­fe­ren­ça des­se go­ver­no. Ele ope­ra mui­to mal, é uma coi­sa im­pres­sio­nan­te. Ope­ra bem po­li­ti­ca­men­te e mal na exe­cu­ção.

Ce­zar San­tos — Es­sa di­fi­cul­da­de de ope­rar não se­ria pe­lo fa­to de o go­ver­no ter apa­re­lha­do com­ple­ta­men­te a má­qui­na es­ta­tal?

Exa­ta­men­te, is­so se dá por­que os mi­nis­té­ri­os são apa­re­lha­dos. Não sou da­que­las que acham que o Es­ta­do tem que ser mí­ni­mo. O Es­ta­do nas áre­as de edu­ca­ção e sa­ú­de tem que ser um Es­ta­do pre­sen­te, mas não se po­de apa­re­lhar. Apa­re­lhar é tra­ba­lhar com o in­su­ces­so, é jo­gar di­nhei­ro no ra­lo. É es­sa crí­ti­ca que a opo­si­ção às ve­zes faz de for­ma di­fe­ren­te da que es­tou fa­lan­do aqui, mas é a ver­da­de.

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